Famílias investigam a própria tragédia em busca de justiça

28/04/2025 às 2h07

Por: José News
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(Imagem da internet).

Dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp) indicam que, no período de janeiro a dezembro de 2024, 38.722 pessoas foram vítimas de homicídio no Brasil, com uma média de 106 assassinatos diários. Para os familiares das vítimas, o luto é profundamente doloroso, sendo intensificado pela demora na obtenção de respostas e na aplicação da justiça.

Apesar de não se conhecerem, João Carlos Natalini, Laudijane Rodrigues, Heleneide Carvalho e Thainara Paiva compartilham o sentimento de busca incessante por justiça. Eles relataram que suas vidas foram profundamente impactadas após a perda de pessoas queridas.

Uma dor persistente.

Em 11 de setembro de 2015, João Carlos Natalini se despediu de sua filha, Victoria Natalini, de 17 anos, entregando-a à porta de um ônibus contratado pela Escola Waldorf Rudolf Steiner, com destino a uma fazenda em São Paulo, e a beijou na testa, sem saber que seria a última vez que a via.

Era uma viagem obrigatória para fins escolares. Ela estava ansiosa para realizar um bom trabalho, e eu a assegurei que fizesse o seu melhor, sem se preocupar.

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Após algumas horas, João ficou sabendo da notícia do sumiço da filha. Victoria foi vista com dois colegas, em um morro a aproximadamente 800 metros da sede da fazenda. Por volta das 14h30, ela optou por voltar sozinha para utilizar o banheiro e não retornou.

Os colegas continuaram trabalhando por duas horas, até que, às 16h30, decidiram informar a professora responsável, que não acompanhava os grupos e não sabia onde minha filha estava, lamentou.

Apenas à noite, por iniciativa da cozinheira da fazenda, as autoridades foram acionadas. O boletim de ocorrência só foi registrado às 19h16. “Só então fui informado. A viagem duraria uma semana, mas, no quinto dia, às 20h, um gestor da escola ligou relatando o desaparecimento.”

No dia seguinte, Victoria foi descoberta morta em uma clareira, na direção contrária à da residência.

A notícia me atingiu como um baque no estômago. Passei quase dois meses em depressão profunda, saía de casa apenas para acompanhar o andamento da investigação da polícia, que nunca foi concluída.

Inicialmente, a polícia classificou o caso como morte natural. Contudo, João contratou uma perícia particular e obteve o laudo do médico legista do Instituto Médico Legal (IML) de Jundiaí.

Dez anos após o ocorrido, o processo segue em curso. Dois professores e três gestores da escola foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo por homicídio qualificado por negligência, considerando o local isolado. Foram tornados réus.

Ainda assim, o inquérito foi arquivado. Agora, buscamos o desarquivamento. Desejo justiça para minha filha, que completaria 27 anos hoje.

Desleixo e falta de cuidado.

Em 8 de julho de 2022, Laudijane Rodrigues experimentou a quebra da ordem natural da vida. Seu filho, Breno Felipe de Sales Machado, com 28 anos e futuro advogado, foi assassinado pelo ex-cônjuge da namorada. O crime ocorreu em um edifício de Boa Viagem, zona nobre do Recife. Emerson Raulino Alexandre, com 50 anos, foi o responsável pelos disparos, matando também a ex-esposa, ferindo a enteada e, em seguida, cometeu suicídio.

Apesar da morte do responsável pelo crime, Laudijane busca justiça. Ela afirma que Breno faleceu não somente pelos tiros, mas sobretudo pela falta de assistência imediata.

O atestado de óbito aponta choque hipovolêmico – perda de sangue e líquidos – como causa da morte. Os órgãos do Breno estavam perfeitos, nada foi perfurado. Ele morreu porque esperou duas horas até ser levado ao hospital. Foi negligência.

Ademais, imagens de segurança registraram moradores desconsiderando as solicitações de ajuda. Laudijane também aponta a falta de perícia no local.

“Eu mereço respostas. Tenho dois outros filhos, de 9 e 15 anos. Todos adoecemos. Precisamos de justiça para ter paz”, declarou.

Dor e mistério.

Victoria Emanuely Carvalho Firmino, de 29 anos, foi encontrada morta no banheiro da clínica onde estava internada, em Recife, para tratamento de dependência química. Diferentemente de outros casos, sua mãe, Heleneide Carvalho, busca inicialmente comprovar que a filha é vítima de homicídio.

Internada sem autorização da mãe, Victoria foi encontrada pendurada no box do banheiro com um cachecol. A versão oficial indicou suicídio. Heleneide, contudo, questiona essa hipótese.

Sua filha pesava mais de 70 quilos. O lenço e a caixa não suportariam seu peso. Ela apresentava diversos hematomas. Afirmou ter sido vítima de violência.

Insatisfeita, Heleneide investigou o Código Penal, ouviu depoimentos e coletou evidências. “Realizei o que os advogados não lograram”, lamentou. Funcionárias da clínica relataram maus-tratos, agressões físicas e psicológicas contra Victoria.

Apesar dos esforços, a única conquista da mãe foi uma indenização para os netos. Heleneide continua lutando pela reabertura do processo. “Aqui, uma mãe enlutada faz o papel da polícia e mendiga os direitos da filha”, desabafou.

O começo de uma luta

A dor de Thainara Paiva é recente. Em 14 de abril, seu irmão João Lucas Paiva, de 25 anos, faleceu dias após ser atropelado enquanto trabalhava, no Meier, Zona Norte do Rio.

João Lucas estava em uma escada de aproximadamente quatro metros de altura quando um automóvel, em alta velocidade, o atingiu e o arremessou a quase dez metros de distância. Ele sofreu múltiplas fraturas e não resistiu. O motorista fugiu sem prestar assistência e ainda não foi identificado.

Thainara procurou imagens de câmeras de segurança na região, porém encontrou resistência dos moradores. “Não sei se é medo, mas ninguém quis colaborar”, declarou.

Agora, a irmã luta para manter o caso em evidência e pressionar as autoridades. “Nada vai trazê-lo de volta, mas, se depender de nós, vamos lutar para que isso não aconteça com outras famílias”, afirmou.

Fonte: Metrópoles

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