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França: 1º de maio marcado por protesto de quem deseja trabalhar no feriado

O Dia do Trabalhador é, sem dúvida, o feriado mais simbólico da França. Desde 1947, o Código do Trabalho do país estabelece que é um dia de descanso obrigatório. Diferentemente do Natal e da festa nacional do 14 de julho, o 1º de maio não depende de um acordo coletivo ou da decisão do empregador de permitir ou não que seus empregados folguem.

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Apenas alguns setores continuam operando neste dia, incluindo hospitais, transportes públicos, serviços de emergência, forças de segurança, veículos de comunicação e hotéis, com a devida autorização. Em diversas dessas funções, os funcionários recebem o pagamento dobrado por trabalharem no dia 1º de maio. O descumprimento desta regra expõe os empregadores ao risco de pagar multas de R$ 4.835 por cada empregado em atividade.

Revolta de padeiros e floristas

Em 2023, padeiros na região da Loire, na França, foram multados por manterem seus estabelecimentos abertos e empregarem funcionários e aprendizes no Dia do Trabalhador. Durante alguns anos, as padarias francesas podiam operar no dia 1º de maio, devido a uma decisão do Ministério do Trabalho – uma concessão que foi revogada pela Justiça francesa em 2006, sob o argumento de que “não há razão para que a atividade do padeiro seja uma exceção”.

A Confederação Nacional da Panificação e Confeitaria Francesa reivindicam uma mudança na legislação, afirmando que deverão operar no dia 1º de maio nos estabelecimentos de padarias e confeitarias que desejarem. O setor sustenta que o encerramento de suas atividades no Dia do Trabalhador causa prejuízos de 70 milhões de euros (mais de R$ 450 milhões) em todo o país.

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A Federação Francesa dos Artesãos Floristas decidiu participar da mesma situação em um dia em que os franceses se presentiam com “muguets”, os lírios-do-vale, uma flor branca que floresce nesta época do ano. Considerando que as floriculturas não são consideradas uma atividade essencial, elas não podem abrir no dia 1º de maio, o que leva à proliferação de vendedores ambulantes que lucram com a venda desta planta. “Todo mundo pode vender muguet no 1º de maio, exceto os floristas”, afirma o presidente da FFAF, Farell Legendre.

Mobilização do governo contra sindicatos

Na última sexta-feira (25/4), senadores centristas registraram um projeto de lei para tentar flexibilizar a proibição de trabalhar no primeiro de maio. “Não se trata, de forma alguma, de questionar o caráter de feriado e descanso dessa data, mas de reconhecer a especificidade de certas atividades, como as padarias ou os floristas”, defendem os autores do texto, Annick Billon e Hervé Marseille.

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O projeto de lei ainda não tem data para análise, mas é apoiado pelo governo de Emmanuel Macron. “É um ajuste na lei para atender à tradição do pão”, argumenta a ministra do Trabalho, Catherine Vautrin.

A iniciativa também abre o debate para possibilitar que outras profissões exerçam suas atividades no dia 1º de maio. Os deputados Alain Marleix e Alexandre Portier, do Partido Republicano (direita), propõem registrar um projeto de lei para autorizar outros estabelecimentos a funcionarem no feriado.

Contudo, para os sindicatos franceses, o primeiro de maio não deve perder sua importância tradicional. “Há outros 364 dias no ano para os comércios abrirem”, defende Sophie Binet, secretária-geral da Confederação Geral do Trabalho. A sindicalista teme que medidas semelhantes possam enfraquecer as leis trabalhistas, como nas permissões concedidas para a abertura de comércios aos domingos.

Protestos em todo o país

Além das demandas dos padeiros e floristas, as palavras de ordem para os protestos de 1º de maio variam conforme as centrais sindicais. Reajustes salariais e a revogação da reforma da Previdência estão entre as principais reivindicações deste ano. Outros temas presentes nos cartazes incluem a luta contra a extrema direita, a defesa da paz, das liberdades e da justiça social.

Cem dias após a posse de Donald Trump, as centrais sindicais CGT, FSU e Solidaires transformam o dia 1º de maio em uma data “contra a ‘trumpização’ do mundo” e o movimento internacional reacionário em desenvolvimento. Essas organizações convidam sindicalistas estrangeiros, sobretudo argentinos, americanos e belgas, para participar do desfile parisiense, que inicia às 9h pelo horário de Brasília. O percurso na capital segue da praça da Itália à praça da Nação.

A polícia intensificou o patrulhamento com 2.000 agentes na área parisiense. As autoridades policiais temem atos violentos e vandalismo devido à infiltração de 200 manifestantes com preto blocos, segundo informações dos serviços de inteligência.

Salários atrasados

O jornal Le Figaro publica os resultados de um estudo da ONG Oxfam, que analisou 1.984 empresas em 35 países. Observa-se que a remuneração dos diretores executivos cresceu 50% em cinco anos, enquanto os salários dos funcionários aumentaram apenas 0,9%. Dos 18 grupos franceses incluídos no levantamento, a remuneração anual dos CEOs excedeu US$ 1 milhão em 2024, compreendendo bônus e opções de ações.

A remuneração média dos CEOs em todo o mundo atingiu US$ 4,3 milhões em 2024, em comparação com US$ 2,9 milhões (ajustados pela inflação) em 2019. Esse aumento supera amplamente o crescimento nos salários médios reais dos empregados, que foi de apenas 0,9% durante o mesmo período em países onde há dados disponíveis sobre a remuneração dos CEOs.

A persistência de disparidades salariais entre homens e mulheres também se observa. Nesta mesma amostra global, as mulheres são escassas nos cargos de liderança das grandes empresas – representando apenas 5,7% dos CEOs – e, em 2023, as trabalhadoras nesses países recebiam, em média, salários 16,7% inferiores aos dos seus pares homens.

Consulte a matéria completa no RFI, parceria com o Metrópoles.

Fonte: Metrópoles

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