França e Reino Unido estão próximos de reconhecer o Estado da Palestina; contudo, qual o significado disso?

Vitória diplomática significativa, ação representa derrota para a narrativa de genocídio do Israel.

29/07/2025 20h31

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(Imagem de reprodução da internet).

Os governos da França e do Reino Unido manifestaram o reconhecimento do Estado Palestino, juntando-se aos 147 dos 193 membros da Assembleia Geral das Nações Unidas que já o fazem. Analistas consultados pelo Brasil de Fato estimam que, apesar de ser uma vitória diplomática relevante, a medida terá pouco impacto prático para a população palestina.

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O reconhecimento é simbólico e corresponde mais a uma satisfação que França, com forte população árabe e perda crescente de acesso aos países muçulmanos, busca apresentar a essa população e também para os franceses insatisfeitos com o governo Macron. Mesmo caso da Inglaterra, afirma Monica Lessa, do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

“O que seria eficaz é não mais abastecer Israel”, diz ela. O Brasil é exemplo de país que reconhece a Palestina – desde 2010, no segundo mandato de Lula – e tem diversas parcerias com Tel Aviv, inclusive militares.

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O analista da Universidade Federal do ABC, Mohammed Nadir, acredita que a relevância é mais representativa “em que o reconhecimento irá demonstrar o insucesso da máquina sionista que não tem se esforçado por todos os meios para convencer as grandes potências europeias, como os membros do Conselho de Segurança da ONU Inglaterra e França, a não adotarem tal decisão”.

Isto, por si só, é uma vitória diplomática significativa para os palestinos, que coincidentemente estão sofrendo o maior genocídio do século XXI. Para os EUA e o trumpismo, representa uma derrota, demonstrando que o país não é mais aquele líder que condiciona a política mundial.

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Como se aplica?

França e Reino Unido declararam que o reconhecimento do Estado palestino – reivindicado desde a criação de Israel em 1948 – decorre dos ataques brutais israelenses contra a Faixa de Gaza, iniciados em outubro de 2023 e que já ceifaram a vida de mais de 60 mil palestinos até o momento. Entre os falecidos, pelo menos 147 morreram por falta de alimentos, incluindo 88 crianças.

O governo do Reino Unido anunciou que reconhecerá a Palestina como um Estado, até setembro deste ano, se Israel não concordar com algumas condições para reduzir o sofrimento da população civil em Gaza.

Apesar de ambos os países fazerem parte da mais alta instância da ONU, como membros permanentes do Conselho de Segurança, a questão enfrenta o poder de veto que cada um possui. Os Estados Unidos, principal aliado de Israel, se opõem ao reconhecimento, argumentando que isso “auxiliaria o Hamas”, grupo que governa o território palestino.

Adicionalmente, a população israelense, que pode exercer pressão sobre o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para cessar o genocídio, é vista como ainda mais adversa aos palestinos do que o próprio governo.

“Não acredito que a população israelense se importe com sua imagem internacional. Pesquisas recentes indicam que mais de 80% dessa população apoia a ocupação total da Palestina e não reconhece o Estado palestino”, afirma Monica Lessa.

Historicamente, a assinatura dos acordos de Oslo, em 1993 [no qual Israel concordou com um plano de paz que incluía a criação de um Estado palestino viável], levou ao assassinato do primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, em 1994. Pela extrema direita que atualmente governa Israel, a situação permanece incompleta.

Mohamed Nadir concorda, afirmando que Israel tem usado sua recusa nas resoluções da ONU e no direito internacional. A sociedade israelense, por sua vez, apoia a política de Netanyahu, que se torna cada vez mais radicalizada e considera os palestinos como uma ameaça a ser eliminada.

A cultura divulgada pela mídia e pelos livros didáticos promove o ódio ao sujeito palestino, árabe e muçulmano. Trata-se de um problema grave que demanda anos e uma transformação radical dessa cultura de guerra e de genocídio presente em Israel.

O analista da UFABC considera notável o silêncio vergonhoso dos países árabes que abandonaram a questão palestina em favor da manutenção de seus regimes autoritários e que se submeteram por meio de acordos e tratados com Israel.

Nadir afirma que as vozes críticas de Israel são forçadas ao silêncio ou ao exílio, como o historiador Ilan Pappe, Avi Shlaim e outros intelectuais judeus que não hesitam em denunciar a cultura de ódio que prevalece no país.

As denúncias da analista da Uerj Monica Lessa, provenientes de Francesca Albanese, por meios alternativos, por médicos que atuam em Gaza e os registros em vídeo da população, são cruciais, porém, exercem pouca influência prática.

A Espanha declara que o que é eficaz é a posição de que rompeu relações com Israel. O Brasil, apesar de elevar o tom nas declarações – como repetir que o que Israel chama de combate ao terrorismo em Gaza é, na realidade, genocídio –, mantém relações diplomáticas com Israel.

Como se aplica?

O genocídio israelense em Gaza iniciou-se em outubro de 2023, porém as condições no território palestino já eram consideradas “sufocantes” pela ONU anteriormente. A época, o bloqueio israelense de 17 anos – com o objetivo de forçar o Hamas, partido eleito em 2006, a renunciar ao poder – resultou em taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingiam 64% da população. A ONU estimava que mais de 80% dos habitantes de Gaza dependiam de assistência externa para sua sobrevivência.

Em 7 de outubro daquele ano, membros do Hamas entraram em Israel e cometeram o ataque mais severo já registrado pelo país, resultando em aproximadamente 1.200 mortos e o sequestro de 240 reféns. A reação do governo Netanyahu foi vista como excessiva e criticada pela maioria da comunidade internacional.

Bombardeios diários que ceifam a vida de mulheres e crianças, colapso de hospitais, escassez de água potável, fome utilizada como instrumento de guerra – incluindo execuções em massa durante a distribuição de alimentos – consternam a opinião pública internacional, que se convence cada vez mais de que a campanha israelense constitui genocídio.

No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com mais de 1.2 mil mortos.

Em uma reunião da ONU, que encerrou na terça-feira (29), foi solicitado o reconhecimento do Estado palestino e o desarmamento do Hamas, visando o fim do conflito de mais de sete décadas entre as partes.

Fonte por: Brasil de Fato

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