Homens que buscam ouro no Pará apresentam maior risco de contrair infecções sexualmente transmissíveis, aponta estudo

Estudo financiado pela Fapesp aponta alta incidência de HIV e sífilis na maior área de garimpo do Brasil.

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Ministro Ricardo Salles, Meio Ambiente, participa da Operação Verde Brasil 2, do Ibama, durante o combate ao garimpo Clandestino no Pará, minicío de Jacareacanga (PA). Sergiom Lima 05.08.2020

Pesquisadores da USP, Santa Casa de São Paulo e Instituto Adolfo Lutz identificaram alta incidência de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) entre moradores de áreas de garimpo no sudoeste do Pará, notadamente no município de Itaituba, que concentra a maior área de extração de ouro do país. Dados iniciais, obtidos em 2024, indicam que essa população apresenta maior exposição a infecções como HIV, sífilis e hepatites B e C em comparação com a média nacional.

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O estudo, com financiamento da Fapesp, também compreendeu testes para malária, além de entrevistas e avaliações clínicas e antropométricas. A equipe identificou vulnerabilidades relacionadas ao isolamento geográfico, à falta de serviços de saúde e ao maior contato com profissionais do sexo – fatores comuns em áreas próximas a garimpos.

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Conforme Aluisio Segurado, coordenador do projeto na Faculdade de Medicina da USP, as rápidas mudanças econômicas na região ampliaram os efeitos na saúde pública. O projeto, denominado “Saúde vale ouro”, visa analisar o padrão de exposição dos garimpeiros em relação às ISTs e a influência das relações de gênero e masculinidade nesse cenário.

A pesquisa iniciou-se com uma abordagem etnográfica, envolvendo observações e entrevistas conduzidas em 2023. Essa fase possibilitou à equipe estabelecer relações com os moradores locais e ajustar o perfil dos participantes do estudo, expandindo o escopo para além das profissionais do sexo. A pesquisadora Marcia Couto, da USP, e Maria Amélia Veras, da Santa Casa, juntamente com profissionais da Secretaria de Saúde de Itaituba, integraram essa etapa.

Existe uma dinâmica no trabalho feminino. Algumas mulheres relataram relações sexuais em troca de dinheiro sem se identificarem como profissionais do sexo. Isso demonstra a necessidade de considerar o contexto local para compreender as dinâmicas de risco, afirmou Paulo Abati, médico infectologista e doutorando da FM-USP, que coordena a pesquisa de campo.

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O estudo também evidenciou a necessidade de incorporar a malária entre os agravos considerados, em razão da sua alta incidência e do impacto potencial no sistema imunológico dos garimpeiros. A região, segundo os pesquisadores, apresenta condições precárias de moradia e saneamento, o que favorece a transmissão de ISTs e de doenças infecciosas, como a malária.

Os dados consolidados ainda não foram divulgados, mas os primeiros resultados apontam que a incidência de HIV e sífilis na população de garimpo é superior à média nacional. Indivíduos com HIV foram direcionados para tratamento no sistema de saúde público, com o apoio de agentes locais, essenciais para o acesso à pesquisa nessas comunidades isoladas.

Além das ISTs, o estudo examinou questões de saúde mental, consumo de álcool e outras substâncias, e fatores de risco metabólicos. A equipe ressaltou o papel fundamental dos agentes comunitários e de vigilância epidemiológica, que possuem alta credibilidade entre a população e asseguraram a logística e a adesão à pesquisa.

O estudo recebeu também apoio técnico de Rafaela Maciel Del Nero e incluiu a participação de Silvia Di Santi e Mariana Aschar, do Instituto Adolfo Lutz, nas análises referentes à malária.

Espera-se que os resultados sejam divulgados até 2025. A pesquisa deverá contribuir para políticas públicas focadas na saúde de populações em áreas de difícil acesso e com elevada vulnerabilidade social.

Com informações da Agência Fapesp.

Fonte: Poder 360

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