Ibrahim Traoré representa a continuidade da revolução em Burkina Faso, afirma irmão de líder pan-africanista Thomas Sankara

A Revolução de 4 de agosto de 1983 em Burkina Faso completa 42 anos e continua a inspirar a luta por soberania no governo vigente.

07/08/2025 5h02

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(Imagem de reprodução da internet).

Encontramo-nos em frente ao Memorial Thomas Sankara, em Uagadugu, capital de Burkina Faso. Inaugurado em 17 de maio, com a presença de diversos chefes de Estado e personalidades africanas, o local representa a vontade coletiva de preservar a memória do líder pan-africanista burquinabé Thomas Sankara e de seus doze companheiros assassinados durante o golpe de Estado de 1987.

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O massacre coordenado pelo então colega Blaise Compaoré, que governou o país até 2014 com o apoio da França, interrompeu uma série de reformas para combater os problemas do neocolonialismo na região do Sahel.

Em quatro anos, Sankara implementou a distribuição de terras aos camponeses e aumentou a taxa de alfabetização de 13% em 1983 para 73% em 1987. A transformação radical se estendeu à saúde pública, onde 2,5 milhões de crianças foram vacinadas contra meningite, febre amarela e sarampo.

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No edifício que marca o local da execução do líder revolucionário que transformou o nome da colônia da República do Alto Volta em Burkina Faso, “Terra dos Homens Inteiros”, um civil reformista observa outros colegas restaurando o pavimento do local.

Valentin Sankara é o irmão mais novo do ex-presidente da nação africana entre 1983 e 1987. Contudo, ao receber o Brasil de Fato, agradece a outro capitão, que foi responsável pela inauguração do espaço onde atualmente trabalha.

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“É incrível. Nos deixou aliviados. Estamos felizes. Sabemos que o capitão pensou em todos aqueles que tombaram em 15 de outubro para realizar isso, realmente é uma alegria para nós, e para todas as famílias dos falecidos”, compartilha com a reportagem.

Ibrahim Traoré e o legado da revolução de 1983.

O capitão a que Valentin se refere é o atual chefe de estado do país, Ibrahim Traoré, principal figura da Aliança dos Estados do Sahel (AES), bloco de países formado por Burkina Faso, Níger e Mali, que lidera um movimento de afastamento das potências ocidentais no continente, notadamente a França.

Em 30 de setembro de 2022, em um cenário de incerteza e desconfiança na atuação de militares franceses no combate ao terrorismo extremista de milícias islâmicas no Sahel, o militar, então com 34 anos, conduziu um golpe que derrubou o líder militar Paul-Henri Damiba e surgiu como símbolo de verdadeira autonomia para o país.

Em poucos meses, com o apoio popular burquinabê nas ruas, o governo de Traorê expulsou o exército francês e interrompeu acordos militares e econômicos de longa data com Paris e empresas de antigos colonizadores.

O contato com o passado revolucionário do país é evidente. Da mesma forma que na década de 1980, Ibrahim Traoré nacionalizou reservas de ouro – o país é o quarto maior produtor mundial do metal –, implementa medidas para se afastar da moeda francesa, o franco CFA, e coloca em prática um audacioso plano de industrialização e expansão agrícola. Ao longo dos últimos dois anos, retratos e frases icônicas de Thomas Sankara também acompanham discursos e aparições públicas do novo líder.

Valentin Sankara acredita na retomada da Revolução Democrática e Popular (RDP) que teve início em 4 de agosto de 1983, há 42 anos.

É evidente. Vocês observam as realizações que estão sendo concretizadas no Burkina Faso, o que demonstra a sinceridade dele (Traoré). Não é “eu vou fazer”, “eu vou”, não, são coisas concretas. Vocês veem, há obras por toda parte, estamos construindo ali, colocando os blocos, os paralelepípedos, não poderíamos pedir algo melhor. Se você pode fazer, se você pode realizar algo e realmente prova isso, as pessoas vão aderir sem questionar. É assim que funciona. Hoje, as pessoas estão prontas para contribuir para o desenvolvimento do país. Isso é visível. Não é invenção, são coisas concretas.

Expansão econômica do país.

Dados do Banco Mundial, divulgados em meados de julho, indicaram um crescimento econômico em Burkina Faso que subiu de 3% em 2023 para 4,9% em 2024. A melhoria na segurança em várias regiões do país e o forte estímulo do governo à autossuficiência alimentar explicam parte desse aumento nos índices, de acordo com o organismo financeiro ocidental.

Conforme o anúncio do Banco Mundial, mais de 700 mil pessoas em todo o país reduziram a extrema pobreza apenas nos últimos 12 meses. “Todo o trabalho que estamos realizando é uma contribuição de toda a população burquinabé”, sintetiza Valentin Sankara.

Em 4 de agosto (5), Traoré destacou o caráter popular do processo conduzido por Sankara décadas atrás. De acordo com o atual líder do país, a “vontade popular” que auxiliou a construir “uma nação orgulhosa, livre e soberana” está sendo restaurada hoje na Revolução Progressista Popular (RPP), inaugurada em abril de 2025, e construída “à imagem” da Revolução Democrática e Popular de 1983.

Comprometidos e determinados, como nossos valiosos antepassados, venceremos o imperialismo para que a Burkina Faso prospere, publicou Traoré em uma rede social, comemorando os 42 anos da revolução.

Revolução de 1983

Na realidade, ele era um homem sincero, era notável, não apreciava a injustiça, inclusive em casa, com a família, seus irmãos e irmãs, ele não tolerava a injustiça, posso afirmar que foi seu comportamento que talvez o tenha levado a assumir o poder. Ele não suportava como os africanos estavam sendo tratados, recorda Valentin.

Ao projetar um futuro para seu país, Valentin Sankara faz um forte apelo para que Burkina Faso recupere totalmente a soberania, em consonância com os ideais revolucionários promovidos por seu irmão.

A citação de “Quem te alimenta, te controla” de Thomas Sankara incentivou as nações africanas a se unirem para rejeitar o endividamento externo, sendo o primeiro governante africano a romper os vínculos com o Fundo Monetário Internacional. Em seu governo, ele também diminuiu seu próprio salário e restringiu seus bens a um automóvel, quatro bicicletas, instrumentos musicais, um refrigerador e um congelador.

Ele é um líder que chegou e assumiu o poder para o bem de todos os burquinabenses, e não apenas para sua família. A prova disso é que nós estamos aqui, afirma Valentin.

E finaliza: “Raramente se compreendia o que significava a revolução, o que pretendia realizar. Foi depois que as pessoas perceberam a voz que ele possuía, que ele manifestou, que compartilhou com o país. É por isso que atualmente muitos burkinabês estão ao lado do capitão Ibrahim Traoré.”

Fonte por: Brasil de Fato

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