Início Impactante: Segredos para Captar a Atenção do Leitor e do Ouvidor

O escritor revela a importância de iniciar textos de forma cativante, como fez a ministra Cármen Lúcia ao tomar posse no STF, citando o povo brasileiro antes de cumprimentar Michel Temer

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(Imagem de reprodução da internet).

A Arte de Capturar a Atenção: Um Ensaio Sobre Inícios

Há discursos que fazem o público adormecer. Há outros, todavia, que acendem o ambiente e fazem a plateia “beber” cada uma das palavras pronunciadas. Já parou para pensar por que alguns provocam tanta admiração, enquanto outros desestimulam o público?

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Essa é uma boa reflexão. O que o faz prestar atenção em um discurso até o final? Da mesma forma, o que prende sua atenção em um texto até a conclusão? Já parou para pensar por que algumas mensagens, faladas ou escritas, se tornam fascinantes?

Que magia é essa que nos escraviza e não nos deixa escapar de suas garras feitas de letras ou de sons? Ao contrário, por que não conseguimos nos concentrar além de alguns poucos parágrafos ou de segundos de uma apresentação?

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Acertando os ponteiros Certa vez, ao iniciar como colunista em um importante órgão de imprensa, a diretora de redação fez questão de conversar comigo para esclarecer o que julgava fundamental em uma coluna. Entre as recomendações que me passou, enfatizou que eu deveria contar logo no primeiro parágrafo qual o assunto que seria tratado.

Não discordei. Se o leitor não sabe o que terá pela frente, dificilmente se interessará em continuar a leitura. Acho, entretanto, que ela não abordou um tema que julgo ainda mais significativo: a importância de iniciar um texto de maneira cativante, que abra o apetite do leitor, que o instigue a seguir até o último parágrafo.

Atendi ao seu pedido. Enquanto permaneci ali, procurei esclarecer, já nas primeiras palavras, qual o assunto que seria discutido. Ao mesmo tempo, acrescentei algumas pitadas de curiosidade para que, além de saber qual seria o tema, o leitor não ficasse tentado a abandonar o texto.

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Continuo assim até hoje, depois de mais de 40 anos escrevendo para os mais diversos meios jornalísticos.

A Influência dos Inícios: Uma Perspectiva Literária

O escritor romeno Matéi Visniec, em sua obra O negociante de inícios, aborda essa questão já nas primeiras linhas: “A primeira frase de um romance tem de conter a energia do grito inconsciente que provoca uma avalanche… Tem de ser a faísca libertadora de uma reação em cadeia… Por essa razão, a primeira frase nunca é inocente. Ela contém em si, germinativa, toda a história, a trama na sua integralidade”. Nessas poucas linhas, Visniec dá o exemplo de como aplicar a própria tese. Ele nos encanta e nos faz querer saber tudo o que terá a dizer a respeito desse fascinante tema. Além disso, dá respaldo às palavras da diretora de redação, que tão zelosamente me acolheu com suas recomendações, quanto à minha preocupação, que é informar e conquistar ao mesmo tempo.

A Arte de Inverter a Ordem: Exemplos em Ação

Não foram poucas as vezes, talvez até na maioria delas, em que, depois de concluir o texto, voltei ao início para avaliar se estava claro e interessante para fisgar a atenção do leitor e prendê-lo até o final. Há, porém, um cuidado a ser tomado nessa estratégia.

O leitor não pode sentir que foi enganado por artifícios criados apenas para despertar seu desejo de leitura. Além de se decepcionar com o texto, poderá criar resistências ao autor e, antes mesmo de saber qual será o próximo assunto, levantar objeções ao que foi produzido.

Prometendo e Cumprindo: A Credibilidade do Início

Portanto, iniciar bem não significa ludibriar, mas sim ser criativo, surpreendente, instigante. Ao perceber que o texto cumpre o que prometeu ou insinuou, o leitor sentirá uma espécie de agradecimento por ter sido levado a acompanhar a narrativa. Ocorre fenômeno idêntico com os discursos.

Cabe ao orador sair da mesmice, abandonar o lugar comum, a tradição esperada e cansativa das conhecidas arengas.

Nos últimos tempos, principalmente, oradores habilidosos, em vez de seguirem a cartilha retórica dentro da sequência recomendada, com vocativo e exórdio, têm invertido essa ordem.

Estratégias Inovadoras: O Exemplo da Ministra Cármen Lúcia

Iniciam, por exemplo, citando um ou dois versos poéticos, perfeitamente contextualizados com o assunto a ser tratado e, só depois, modificando a sequência natural, fazem o vocativo, cumprimentando os ouvintes de acordo com a formalidade da circunstância.

A ministra Cármen Lúcia deu um ótimo exemplo de como tornar o início empolgante. Ao tomar posse como presidente do STF, em vez de começar cumprimentando o então presidente da República, Michel Temer, quebrou o protocolo. Iniciou dizendo: “Quero cumprimentar antes o povo brasileiro.” Só depois fez os vocativos normais, a partir do presidente.

Siga o canal da Jovem Pan News e receba as principais notícias no seu WhatsApp! Seguindo ou não as boas técnicas recomendadas para iniciar uma apresentação, o maior de todos os objetivos deve ser o de fazer com que os ouvintes e, no caso do texto, os leitores entendam o teor da exposição e se sintam animados a acompanhar o desenvolvimento do raciocínio.

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