INSS apura transações suspeitas envolvendo o ex-ministro Jair Bolsonaro
29/04/2025 às 11h40

O ex-ministro do Trabalho e Previdência do governo Jair Bolsonaro (PL), José Carlos Oliveira, é mencionado na investigação sobre descontos irregulares de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) devido a transações suspeitas envolvendo um assessor de uma das entidades investigadas.
A Polícia Federal apurou que Oliveira passou a se identificar como Ahmed Mohamad Oliveira Andrade.
Ele exerceu a função de presidente do INSS, de novembro de 2021 a março de 2022, deixando o cargo para ser indicado a ministro do Trabalho e Previdência por Jair Bolsonaro.
A investigação revelou que José Carlos Oliveira não foi o foco da operação Sem Desconto, apesar de ter sido mencionado.
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A PF aponta as transações ao analisar movimentações financeiras suspeitas de membros da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), uma das entidades investigadas por descontos irregulares em aposentadorias.
Os dados foram enviados à PF pelo Coaf.
A PF, ao analisar as transações de Cícero Marcelino, assessor de Carlos Ferreira Lopes, presidente da Conafer, cita o ex-ministro de Bolsonaro.
Cícero Marcelino é considerado possível operador da Conafer e figura em transações suspeitas com José Laudenor, auxiliar administrativo que possui renda de R$ 1,5 mil.
Laudenor surge como sócio de Josué Carlos Oliveira em uma empresa.
Em outra empresa, a Fayard Organização e Serviços, José Laudenor é o atual sócio, mas até junho de 2022 José Carlos Oliveira também aparecia na sociedade.
A Polícia Federal aponta que a empresa em questão é uma Pessoa Exposta Politicamente (PEP) ligada à PEP principal, José Carlos Oliveira (renomeado para Ahmed Mohamad), que esteve envolvida na estrutura societária até junho de 2022. O investigado também exerceu cargos de presidente do INSS e Ministro do Trabalho e Previdência.
A Yamada e Hatheyer Serviços conta com Josué Carlos Oliveira e Laudenor como sócios.
Yasmin Ahmed Hatheyer Oliveira, filha de Ahmed Mohamad (José Carlos Oliveira), e Edson Akio Yamada, ex-Diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS, setor responsável pela celebração dos ACTs com as entidades associativas, também são sócios da empresa, diz a PF em relatório.
Os ACTs eram os acordos estabelecidos entre as partes e o INSS para a efetivação dos descontos em relação aos beneficiários.
A Polícia Federal, com base em informações do Coaf, afirma que José Laudenor manteve relações financeiras com Cícero Marcelino (que, por sua vez, utilizou milhões de reais da CONAFER) e com Ahmed Mohamad (ex-Presidente do INSS e ex-Ministro do Trabalho e Previdência).
As transações indicam o uso das contas de José Laudenor para movimentar recursos de terceiros e/ou atividades não declaradas.
A PF também cita transações suspeitas comunicadas pelo Coaf envolvendo José Carlos Oliveira e de sua filha, Yasmin Ahmed, e José Arnaldo Bezerra Guimarães.
A PF aponta que Yasmin Ahmed figura no RIF 113.476 como beneficiária de boletos pagos por José Arnaldo Bezerra Guimarães, que também efetuou pagamentos em favor de “Oliveira pré-campanha 2024” (candidatura de Ahmed Mohamad) e José Laudenor.
O Coaf informou que Guimarães efetivou pagamentos para seu pai no valor de R$ 43.230,00 e para sua filha, no valor de R$ 5.000,00.
Desvio de recursos do Instituto Nacional do Seguro Social.
Em 2021, contavam-se apenas 15 associações com convênios firmados com o INSS para o desconto de benefícios em folha de pagamento de aposentados e pensionistas.
Em 2022, José Carlos Oliveira (PSD) liderou a diretoria de Benefícios da instituição, sendo posteriormente nomeado presidente do INSS e ministro do Trabalho e Previdência até o término do governo Bolsonaro.
Na sua gestão, Oliveira firmou três acordos com associações. Após deixar a diretoria para assumir o órgão e a pasta, seus auxiliares assinaram outros 17 acordos, conforme dados do Diário Oficial da União.
Defesas
A coluna buscou contato com José Carlos Oliveira através de telefone e e-mail, sem sucesso. José Laudenor e Edson Yamada, seus sócios, também não responderam às tentativas de comunicação.
Fonte: Metrópoles