Inteligência artificial permite que cientistas “prevejam” o envelhecimento do cérebro

Inteligência artificial foi empregada para examinar ressonâncias magnéticas e detectar sinais indicativos de degeneração cerebral.

02/08/2025 6h34

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(Imagem de reprodução da internet).

Uma única ressonância magnética pode indicar a velocidade do envelhecimento cerebral. É o que aponta um estudo realizado por neurocientistas da Universidade Duke, nos Estados Unidos, publicado em julho na revista Nature Aging.

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A pesquisa, com base na análise de 50.000 exames de imagem, revela que a espessura do córtex cerebral e o volume da massa cinzenta são marcadores cruciais para avaliar a saúde do cérebro. Esses padrões estruturais podem indicar problemas como perda de memória e risco de morte, a partir de sinais precoces de atrofia cerebral.

A investigação fundamentou-se em dados do estudo Dunedin, que acompanha há mais de 50 anos a vida de 1.000 voluntários na Nova Zelândia. Com base na observação clínica dos traços do envelhecimento cerebral nessas pessoas, os pesquisadores propuseram um modelo para análise de imagens do órgão utilizando a ferramenta de inteligência artificial denominada DunedinPacni, que pode estimar o ritmo do relógio biológico de cada um.

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A ferramenta criada pelos pesquisadores representa uma técnica promissora para identificar o risco de declínio cognitivo antes do surgimento dos primeiros sintomas.

Ao analisar dados como diminuição do volume da substância cinzenta e branca e atrofia do hipocampo, o modelo desenvolvido pelos pesquisadores permite estimar o envelhecimento cerebral com base em mudanças na velocidade de processamento, lentificação motora, queda de memória e coordenação prejudicada, afirma Pedatella. “Isso possibilita prever o declínio funcional mesmo em indivíduos assintomáticos e estimar o ritmo individual de envelhecimento biológico”, complementa.

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O modelo não necessita de tecnologias inovadoras além da análise realizada por inteligências artificiais dos exames de imagem já existentes. A proposta define parâmetros que interpretam a estrutura cerebral obtida por ressonâncias convencionais. De acordo com os autores, tal análise demonstrou-se mais precisa para avaliar o envelhecimento biológico do que marcadores derivados de exames de sangue e de avaliação física.

Aplicações clínicas ainda limitadas.

Para o neurologista Eduardo Zimmer, professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a automação dessas avaliações deve ser vista com cautela, já que mais pesquisas são necessárias até que possa ser incorporada na prática clínica. “É preciso lembrar que o modelo foi desenvolvido apenas usando cérebros de neozelandeses. Precisamos validar essas métricas com exames feitos no Brasil antes de adotar qualquer padrão de referência”.

Ademais, permanece limitada a quantidade de indivíduos da população brasileira que possuem acesso a exames de ressonância magnética, inclusive no setor privado. Segundo o neurologista Victor Calil, membro da ABN (Academia Brasileira de Neurologia), atualmente o procedimento deve ser mantido restrito a casos com queixas cognitivas.

O envelhecimento cerebral é um processo normal. Da mesma forma que em todos os órgãos, uma certa atrofia é esperada com a idade, afirma Calil. “Claro que é importante em contextos clínicos específicos avaliar se o envelhecimento está dentro do esperado, como na presença de queixas de dificuldades cognitivas, mas de forma geral fazer uma ressonância em pessoas assintomáticas tem pouco valor e pode gerar mais ansiedade do que benefícios”, completa.

O Sistema Único de Saúde enfrenta diversos obstáculos em sua operação.

No cotidiano da atenção básica, o rastreamento do envelhecimento cerebral depende de exames simples. Testes neuropsicológicos auxiliam na avaliação do desempenho motor e do processamento cognitivo, sinalizando os sintomas de demência antes da recomendação da consulta com o neurologista. Essas avaliações podem ser aplicadas inclusive por agentes comunitários de saúde durante visitas domiciliares a pacientes.

No Brasil, o SUS (Sistema Único de Saúde) ainda não possui protocolo para rastrear o envelhecimento cerebral por meio de exames de imagem. “Seria necessário capacitar equipes da atenção primária para reconhecer pacientes com declínio cognitivo importante, estabelecer fluxos de referência para neurologistas e garantir financiamento e estrutura diagnóstica, o que não tem sido feito”, afirma Pedatella.

Contudo, a maneira mais eficaz de assegurar a manutenção das funções cerebrais reside em garantir uma saúde adequada. Controlar doenças crônicas cardiovasculares, promover o aprendizado contínuo, praticar atividade física regularmente, adotar uma alimentação equilibrada e estabelecer uma rotina de sono saudável são elementos que diminuem os riscos a longo prazo.

Com informações da Agência Einstein.

Fonte por: Poder 360

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