Intensas secas diminuem a capacidade da Amazônia de armazenar carbono

A redução das chuvas e o aumento da temperatura estão provocando o aumento da mortalidade de árvores mais velhas, segundo estudos.

26/07/2025 17h47

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(Imagem de reprodução da internet).

A magnitude das áreas impactadas e a duração dos períodos secos na Amazônia têm crescido nas últimas décadas. Esse cenário, juntamente com a frequência de eventos extremos de temperatura, como as ondas de calor que afetaram a região em 2020, além do desmatamento e do uso do fogo, aumentou o estresse hídrico das árvores e, por conseguinte, influenciou a capacidade da floresta de realizar o ciclo da água e armazenar carbono.

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As análises foram realizadas por meio de estudos conduzidos por pesquisadores do Cemaden e do Trees do Inpe.

Alguns resultados dos estudos foram apresentados em uma discussão sobre desmatamento, queimadas e o ponto de não retorno do bioma amazônico, ocorrida em 16 de julho durante a 77ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), na UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), em Recife.

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A água é um elemento vital para compreender a Amazônia e refletir sobre seu futuro. O bioma só existe devido à presença de água na região. Contudo, mais de metade da floresta tem sofrido eventos de estresse hídrico nos últimos anos, afirmou Liana Anderson, pesquisadora do Cemaden e integrante da coordenação do Trees.

A pesquisadora aponta que entre 50% e 60% das chuvas na Amazônia são provenientes da água evaporada do oceano e transportada para o continente, sendo absorvida pela floresta e devolvida à atmosfera através da evapotranspiração, possibilitando sua dispersão por todo o bioma e outras regiões do Brasil e da América do Sul.

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A diminuição das chuvas e o aumento da temperatura na estação seca, nos últimos 40 anos na Amazônia, podem diminuir o ciclo da água pela floresta. Além disso, o aumento da temperatura do ar eleva as necessidades metabólicas das árvores, o que pode levar a maiores emissões de carbono através da respiração.

As temperaturas elevadas podem, por sua vez, prejudicar a fotossíntese das árvores, devido ao aumento da fotorrespiração e à ocorrência de danos estruturais nas folhas, afirmou a pesquisadora.

A diminuição das chuvas, o aumento da temperatura e o alongamento da estação seca observados na Amazônia nos últimos 40 anos podem levar ao aumento da mortalidade de árvores. Temos feito estudos e medições de campo que mostram que há grandes árvores morrendo durante a estação seca, afirmou Anderson.

O aumento da mortalidade dessas árvores, que absorvem a água do solo da floresta através de suas raízes e a liberam na atmosfera, indica que esse sistema de ciclagem da água está sendo comprometido. Isso pode levar a uma mudança na estrutura da floresta, o que também afeta o ciclo hidrológico.

Uma pesquisa em curso, realizada por cientistas do Trees, apontou para o aumento da duração da estação seca na Amazônia entre 2000 e 2023. Conforme dados da análise, em 2015, 63% da região enfrentou estresse hídrico. Em 2016, essa porcentagem diminuiu para 51% e, em 2023, elevou-se para 61%.

As áreas com maior concentração da seca nessa época se localizaram nas bordas da Amazônia, declarou Anderson.

Área mais suscetível a incêndios.

Áreas da floresta submetidas a 100 milímetros de déficit durante uma seca na região em 2005 perderam 100 toneladas de carbono por hectare, evidenciou outro estudo realizado por pesquisadores do Inpe, com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Considerando o aumento da temperatura, os efeitos da perda de estoques de carbono na Amazônia podem ser agravados, destacaram os autores.

A cada aumento da temperatura, observa-se uma diminuição de 6% nos estoques de carbono da floresta. Quanto mais quente, maior a mortalidade das árvores e o acúmulo de material lenhoso no solo da floresta, tornando as áreas mais vulneráveis a incêndios, afirmou Luiz Aragão, pesquisador do Inpe e integrante da coordenação do Trees e do PFPMCG (Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais).

A fragmentação de uma paisagem florestal, devido à perda de vegetação, aumenta sua vulnerabilidade a incêndios, conforme estudo em andamento realizado pelo pesquisador e seus colaboradores.

Observamos que, em áreas florestais mais contínuas, a área queimada aumenta significativamente apenas nos anos de seca. Em condições normais, essa área queimada apresenta um nível muito baixo. Por outro lado, em paisagens mais fragmentadas, há áreas queimadas muito extensas. Isso significa que a fragmentação torna esse tipo de paisagem mais inflamável. É como se ela permanecesse constantemente seca, afirmou Aragão.

Abrigos hidrológicos

Certos trechos da floresta podem oferecer abrigos hídricos que auxiliam a Amazônia a suportar o aumento da intensidade e da frequência de secas, conforme dados de estudos realizados por pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).

Através de investigações de campo, realizadas em áreas localizadas no norte e no sul de Manaus e com diversas geomorfologias, os pesquisadores observaram que florestas com lençol freático raso apresentaram maior resistência aos períodos de seca, ao passo que aquelas situadas em lençol profundo registraram maior mortalidade e menor crescimento.

Os estudos indicaram que o crescimento das árvores nos anos recentes de seca extrema permaneceu estável ou até mesmo aumentou em áreas com lençol freático superficial.

É importante lembrar que 50% da Amazônia possui lençol freático raso, mas a maior parte dos estudos sobre as respostas da floresta às mudanças climáticas está focando em áreas com lençol freático mais profundo. Dessa forma, talvez ainda não saibamos qual será a verdadeira resposta da floresta às secas se estivermos olhando para um tipo de ambiente que só representa parte da Amazônia. afirmou Flávia Regina Capelloto Costa, pesquisadora do Inpa e coordenadora dos estudos.

Com informações da Agência Fapesp.

Fonte por: Poder 360

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