Investigações revelam diás que indicam uma rede de corrupção envolvendo anestesistas
24/04/2025 às 2h37

Mensagens e áudios demonstram um esquema organizado de intimidação e boicote conduzido por membros da Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do DF (Coopanest-DF). A estratégia visava um hospital particular da capital federal, que encerrou o contrato com o grupo que detinha o monopólio dos serviços de anestesiologia na instituição. Os materiais compreendem ameaças diretas, perseguição profissional, processos de expulsão e tentativas de retaliação institucional.
A mudança crucial se deu quando o hospital optou por expandir suas unidades cirúrgicas, demandando contraposição da cooperativa para cobrir os gastos. Com a recusa da Clínica de Anestesiologia de Brasília (CAB), associada à Coopanest, a instituição interrompeu o acordo e passou a contratar profissionais anestesistas autônomos. A decisão desencadeou um movimento coordenado com o objetivo de prejudicar o hospital e desestimular médicos a atuarem na organização.
Em uma conversa, um anestesista associado admitiu ao filho do diretor do hospital que era necessário persuadi-lo a desistir, pois a cooperativa pretendia fechar o estabelecimento. A declaração reflete a agressão da denominada “máfia da anestesia” contra a autonomia do hospital e dos médicos que se opõem à decisão.
Anestesiologistas que atuaram no local receberam prontamente ameaças, denúncias e processos internos. Os profissionais foram acusados de irregularidades éticas e passaram a ser notificados de expulsão da cooperativa.
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Foram relatadas pressões vindas de familiares e até acusações de perseguição em diversos contextos profissionais. Em um caso específico, uma médica recebeu a informação de que seu filho, recém-formado, não conseguiria emprego em Brasília.
Gravações de médicos dissidentes indicam que o objetivo não era apenas punir colegas, mas também inviabilizar o funcionamento do hospital. Em uma das gravações, um anestesista declara que a intenção era “fazer um cerco” para impedir que qualquer anestesista trabalhasse na instituição. A meta, segundo os próprios envolvidos, era levar o hospital à incapacidade de realizar cirurgias, obrigando-o a recuar.
O impacto foi imediato: o volume de procedimentos caiu drasticamente. Cirurgias eletivas foram canceladas, e, em alguns dias, somente atendimentos de urgência foram realizados por conta da escassez de profissionais que se recusaram a participar do boicote. Estima-se que mais de 790 cirurgias não foram realizadas nos meses seguintes ao início da pressão.
Além do boicote local, os registros indicam a preocupação da direção da Coopanest-DF com a chance de o modelo implementado pelo hospital – com contratação direta e negociação com planos de saúde – se expandir para outras instituições do Distrito Federal. Membros da cooperativa expressam receio de perder o controle do mercado e de que o rompimento do monopólio promova acordos mais transparentes entre hospitais e anestesistas, diminuindo a influência da entidade.
A Operação Toque de Midaz complementa as investigações da Operação Toque de Midaz, iniciada em abril pela Polícia Civil do DF e pelo Ministério Público. A ação visa os principais envolvidos na Coopanest-DF, suspeitos de fazerem parte de uma organização criminosa ligada ao cartel da anestesiologia na capital.
A investigação aponta que o grupo estabelece limitações para médicos independentes, formaliza parcerias exclusivas com operadoras de saúde e emprega intimidação para exercer controle sobre os serviços em hospitais públicos e privados.
A cooperativa rejeita as alegações. Em comunicado, declarou que não cometeu cartel ou qualquer irregularidade, e que opera com ética há mais de 40 anos. A defesa assegura ainda que demonstrará a legalidade das ações de seus diretores.
Fonte: Metrópoles