Durante a Assembleia Geral da entidade, em Nova York, o Itamaraty realizou uma verdadeira “blitz diplomática” para defender reformas na ONU e a ampliação do seu Conselho de Segurança.
Durante a semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, protagonistas dessa ofensiva, participaram de dezenas de reuniões sobre esses e outros temas da governança global.
Em sua agenda atribulada, Lula realizou 13 encontros, incluindo significativas reuniões bilaterais com os presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e dos Estados Unidos, Joe Biden.
Vieira participou de 11 dessas agendas e de uma sessão do Conselho de Segurança, teve encontros bilaterais com 15 chanceleres e dirigentes de organismos internacionais e compareceu a outras 14 reuniões com representantes de grupos de países prioritários para o Brasil.
Por falta de tempo, as reuniões que os dirigentes brasileiros receberam mais de 50 pedidos cada para acontecer, acabaram não acontecendo.
Os esforços diplomáticos do Itamaraty e do presidente Lula estão sendo coroados por pedidos de reuniões com o Brasil de tantos países. O presidente não desperdiçou a oportunidade de declarar que “o Brasil está de volta” ao cenário geopolítico em todas as cúpulas recentes que ela participou – isso estava evidente durante o G7, a reunião dos Brics, o G20 e, certamente, a Assembleia Geral.
Um relevante diplomata brasileiro afirmou à CNN que “existia uma significativa demanda reprimida” pela participação do Brasil nos fóruns internacionais.
“Justamente no momento em que a discussão sobre a reforma da ONU e do Conselho de Segurança retorna à atenção de todos, esta necessidade volta a ser satisfeita. Embora isto não signifique um desfecho iminente, é claro que as partes principais estão se mobilizando, sendo o Brasil um deles”, declarou a fonte.
Contundente cobrança
O destaque dessa movimentação toda foi a presença de Lula na abertura da Assembleia Geral, onde o líder brasileiro enfatizou de forma incisiva a importância de se reformar o sistema de governança global.
“O conselho de segurança da ONU vem perdendo progressivamente sua credibilidade. Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia”, afirmou.
António Guterres, próprio secretário-geral da ONU, praticamente fez uma fala idêntica, cobrando mudanças no conselho e em sua organização. Que este seria o momento certo para aumentar a pressão por reformas, foi interpretado como um dos sinais pela semelhança dos discursos por diversos diplomatas.
E o chanceler Mauro Vieira não perdeu tempo para tentar aproveitar esse movimento em favor da candidatura do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança – uma demanda de décadas do Itamaraty.
As várias reuniões que o chanceler teve, foram dadas prioridade àquelas que envolveram países com vagas permanentes ou também candidatos a essa posição no conselho, como foram os casos de Rússia, França e Japão.
Além disso, o Brasil coordenou pelo menos três reuniões com grupos de países envolvidos diretamente na tentativa de reformas da ONU: o g4, o l69 e o IBAS.
O Conselho de Segurança é composto por quatro fortes candidatos a uma vaga permanente: Brasil, Alemanha, Índia e Japão. O IBAS é um agrupamento que engloba Brasil, Índia e África do Sul. Mais de 40 países em desenvolvimento da América Latina, Caribe, Ásia e África formam o L69.
Em todas as reuniões, ficou acertado que os membros vão trabalhar em conjunto pelas reformas.
O processo, no entanto, é longo e não há nenhuma garantia de sucesso no curto prazo.
Segundo afirmam diplomatas nos bastidores da ONU, a China é o país mais reticente a mudanças na estrutura do Conselho de Segurança. A razão principal poderia ser a elevada possibilidade da Índia e do Japão, considerados rivais regionais de Pequim, ascenderem ao Conselho de Segurança.
A avaliação de que os Estados Unidos necessitam realmente se empenhar nas negociações para as reformas, deixando suas declarações parcialmente simpáticas às alterações para trás, também é existente.
Ainda deve levar mais tempo para as duas maiores potências do mundo resisterem à ideia de dividir o poder de veto que atualmente possuem sobre as mais relevantes decisões globais.