Jones Manoel defende que a solução para o problema das grandes empresas de tecnologia seria afastá-las do Brasil, conforme declarado na Flipei, após a remoção das redes sociais

O especialista em história e influenciador destacou os riscos da hegemonia das grandes empresas nas plataformas digitais.

08/08/2025 14h06

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(Imagem de reprodução da internet).

A regulação das redes sociais, a instalação de data centers americanos no Brasil, o controle da comunicação, a dependência do algoritmo, a organização política e os espaços além da internet foram alguns dos temas abordados na mesa Sugados, durante a Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei), que ocorreu em São Paulo (SP) nesta quinta-feira (7).

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O influenciador e historiador Jones Manoel iniciou a discussão abordando temas relevantes para os brasileiros, como a política tarifária de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e a dependência das grandes empresas de tecnologia nos meios de comunicação online. Manoel, inclusive, teve sua conta no Facebook e no Instagram removidas pela Meta na última quarta-feira (6), sem qualquer tipo de comunicado.

O historiador permaneceu discreto sobre o assunto, que retornou à tona na manhã desta sexta-feira (8) — o que ele considera uma vitória da intensa movimentação política ocorrida nos últimos dias —, mas foi enfático ao afirmar que o Brasil precisa lidar com sua dependência das grandes empresas de tecnologia.

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A solução para o problema da soberania brasileira reside no combate à dependência. Se o nosso país for realmente autônomo, então é possível resolver o problema das grandes empresas de tecnologia. E resolver o problema das grandes empresas de tecnologia significa colocá-las para fora do Brasil. Declarou, reforçando os perigos da dominação das grandes empresas de tecnologia nas redes sociais: “Milhões de brasileiros estão, todos os dias, produzindo dados que estão sob controle das empresas imperialistas dos Estados Unidos, e isso tem implicações econômicas, ideológicas, culturais, políticas e geopolíticas”.

Para Manoel, o Projeto de Lei (PL) das Fake News é importante e deve ser aprovado, mas isso é pouco, e o mesmo vale para a regulação das redes sociais. Está muito claro que regular é fundamental, mas regular é pouco. Não podemos depender da Meta, da Nvidia, do Google, da Microsoft. Não podemos fazer com que a comunicação brasileira seja controlada por monopólios estrangeiros, que, inclusive, estimulam discursos racistas, machistas, fascistas e autodepreciação do povo brasileiro.

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O historiador utiliza a expressão “colonialismo digital” para descrever a relação do Brasil com a internet, argumentando que é necessário aprofundar o debate, compreendendo que o ponto central reside na produção, enquanto a regulação jurídica se concentra na circulação. Para Manoel, o foco principal é sobre quem produz e armazena os dados, e não sobre quem os distribui. O historiador ainda critica o projeto do governo Lula de incentivo fiscal às big techs para a instalação de data centers no Brasil, sem uma política pública de soberania digital.

Para Manoel, o ambiente ideológico e o rigoroso controle eram uma preocupação.

A estudante de história e influenciadora Laura Sabino, também presente na mesa, manifestou sua frustração com a realidade da internet. Ela relata que a expectativa era de um ambiente de discussão, onde assuntos que não transitavam em determinados locais seriam abordados, e que haveria liberdade.

O que se observa em 2025 são balanços sem justificativa, algoritmo em confronto e suporte a discursos radicais. “Nós estávamos errados. A internet não é apenas esse espaço livre, um território em que se pode fazer política de forma neutra, pois ele é altamente ideológico e altamente controlado. As redes sociais, que são nossos espaços de trabalho, são empresas privadas de bilionários.”

Sabino recordou que as redes sociais são “um espaço de acúmulo de dinheiro por atenção, por algoritmos que nos mantêm presos, acreditando que está sendo bem informado, mas que alimentam determinados grupos, fomentando uma política pautada por um grupo ideológico que pode, a qualquer momento, pegar o trabalho de anos de influenciadores de esquerda e apagar, bloquear, destruir”.

A internacionalista Duda Bolche, que também participou da conversa, reforçou a necessidade de entender a internet como um instrumento e não como fim, pois a guerra contra o algoritmo é uma guerra perdida: “A gente precisa usar a internet como meio de radicalização e de organização da classe trabalhadora”.

É fundamental estabelecer áreas seguras na internet, desenvolver nossas redes de comunicação, buscar o controle, em certa medida, mas é importante também compreendermos que a internet é um instrumento do qual devemos nos apropriar, sempre com o objetivo de ir além dela e nos organizar politicamente.

Para Manoel, o ambiente ideológico e o rigoroso controle eram uma preocupação.

Os participantes da mesa, que incluíram o comediante Tiago Santineli e o moderador Márcio Prado, comemoraram a realização da Flipei. Menos de uma semana antes do início das atividades, a Prefeitura de São Paulo cancelou o contrato que autorizava o uso da Praça das Artes para o evento.

A Fundação Theatro Municipal (FTM), ligada à gestão Ricardo Nunes (MDB), justificou o cancelamento alegando “víceps político-ideológico” por parte da organização do evento, mas a organização da Flipei manteve a programação entre os dias 6 e 10 de agosto em diversos espaços culturais da capital.

Jones Manoel celebrou sua participação em mais uma Flipei, que ele considerou “um evento de resistência”. “Anualmente, a extrema direita brasileira tenta censurar a Flipei, atacar a Flipei, mas ela só cresce e continuará crescendo. É um prazer estar aqui.”

Laura Sabino agradeceu a todos os presentes no Galpão Elza Soares, que estava lotado, por terem se deslocado de suas casas e possibilitado a ocorrência do evento. “Acreditamos que o debate que estamos promovendo sobre redes sociais deve incorporar a comunicação das ruas, das estradas, dos becos, do trabalho social e dos espaços que iremos desenvolver além da internet”, declarou.

A programação da Flipei continua até domingo (10), distribuída por diversos espaços de resistência da cidade, com dezenas de mesas, shows, lançamentos de livros e atividades focadas na cultura crítica e popular.

Fonte por: Brasil de Fato

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