Liberalismo: a rejeição ao tribalismo

Em 2026, o centro democrático poderá superar a polarização no Brasil e construir um bloco que apoie o livre mercado, a responsabilidade fiscal e uma rede de proteção social eficaz.

10/06/2025 13h13

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Brasil, São Paulo, SP. 14/10/1997. Os presidentes Bill Clinton (e), dos Estados Unidos, e Fernando Henrique Cardoso, do Brasil, se cumprimentam após assinarem acordo sobre educação no Palácio da Alvorada, em Brasília, Distrito Federal. - Crédito:WILSON PEDROSA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE/Codigo imagem:77418

O ser humano é um ser tribal. No passado, confiar exclusivamente no seu clã era questão de vida ou morte: se “eles” venciam, “nós” perdíamos. Nosso cérebro ainda carrega esse reflexo de soma zero. O liberalismo nasceu para quebrar essa lógica: trocas voluntárias podem beneficiar todos, e a lei deve valer igual para qualquer pessoa, não importa onde nasceu.

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Devido ao confronto dessas ideias com o instinto, os liberais permaneceram sempre uma minoria. Para alterar leis e governos, necessitaram formar alianças. No final do século XIX, uniram-se à esquerda na luta pelo voto universal, à laicidade e ao fim dos privilégios de sangue. Após a Segunda Guerra, o foco se deslocou para a disputa entre “mercado versus socialismo”. A parceria com conservadores resultou em privatizações e globalização nas gestões de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e de Margaret Thatcher, no Reino Unido. Na década de 1990, a “terceira via” de Bill Clinton, Tony Blair e Fernando Henrique Cardoso combinou o mercado aberto com uma rede de proteção social, representando o ápice do liberalismo.

A crise de 2008 rompeu com essa harmonia. Desemprego, desigualdade e as redes sociais reativaram o discurso tribal de “povo contra elite”. Na direita, fortaleceram-se nacionalistas como Donald Trump, Giorgia Meloni e Marine Le Pen. Na esquerda, retomaram-se críticas ao mercado com figuras como Bernie Sanders e Jeremy Corbyn. Fora das democracias, Vladimir Putin e Xi Jinping conduziram um ataque ao liberalismo global.

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No Brasil, o lulismo e o bolsonarismo exercem forte influência. Ambos possuem caráter pessoal, criticam instituições quando surgem divergências e consideram discordantes como adversários. O eleitor que não se identifica com essas ideologias opta pelo “menos pior” e movimentos liberais se fragmentam buscando sobreviver em coalizões que demandam renunciar a parte de seus princípios.

Não é necessário que seja dessa forma. Em 2026, o centro pode romper com os dois lados e construir uma frente que promova o livre mercado, a responsabilidade fiscal e uma rede de segurança bem estruturada. É preciso conseguir unir a centro-esquerda e a centro-direita em uma coalizão democrática e pragmática que rejeite tanto o lulismo quanto o bolsonarismo, pois a última década demonstrou que nenhum dos dois é eficaz. Além disso, é fundamental continuar defendendo e disputando as instituições: um Banco Central independente, agências reguladoras competentes e um Judiciário que volte a ser confiável são mais importantes do que qualquer ganho eleitoral de curto prazo.

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O liberalismo persiste graças à ousadia de rejeitar o tribalismo e à capacidade de construir consensos. Essa ousadia permanece, porém, a construção de consensos tornou-se mais complexa em um mundo onde algoritmos incentivam a indignação e classificações. Contudo, para assegurar a prosperidade que o comércio livre e os direitos iguais proporcionaram, é necessário reaprender a conduzir alianças, sem comprometer nossa essência às tribos.

Monica Rosenberg é advogada, comentarista da Jovem Pan e líder Livres.

Fonte por: Jovem Pan

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