Luto: o que evitar dizer e como se comportar com quem perdeu um filho

A perda perinatal deve ser reconhecida e acolhida adequadamente, afirmam especialistas à CNN.

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(Imagem de reprodução da internet).

Nos últimos dias, os relatos da atriz Micheli Machado e da apresentadora Tati Machado, 33, sobre a perda de seus respectivos bebês em gestação avançada, tornaram-se assunto nas redes sociais. O tema voltou a ser debatido e surgiram questionamentos sobre o que não dizer e como agir com alguém que perdeu um bebê. Em conversa com a CNN, médicas especialistas comentam o assunto e oferecem orientações sobre como lidar (ou ajudar a lidar) com a situação.

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A atriz Micheli Machado e o ator Robson Nunes anunciaram que a artista se encontrava na reta final da gestação e necessitou de cesariana de emergência para o nascimento do bebê. Em publicação nas redes sociais de Tati Machado, a artista relata que estava com 33 semanas e precisou ser internada após notar a ausência dos movimentos fetais.

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Para aqueles que não estão presentes, pode ser difícil saber o que expressar – e ainda mais, o que evitar – diante de um sofrimento que parece avassalador. Declarações bem-intencionadas podem parecer insensíveis, e o silêncio pode intensificar o isolamento de quem está vivenciando essa perda.

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Às vezes, com poucas palavras, é possível minimizar sem querer esse luto tão único e em uma fase tão suscetível para a mulher. O cuidado com o que dizemos é uma forma de respeitar esse vínculo e o sofrimento que ele deixa quando é interrompido, diz Cinthia Alves Prais, psicóloga e pós-graduada em neurociência e comportamento, da CNN.

A psicóloga Raquel Baldo, especialista em luto, afirma que a sociedade ainda não reconhece e discute o luto perinatal, conceito que se refere à dor complexa que surge após a perda de um bebê durante a gestação. “Existe uma carência de conhecimento sobre o tema, para que ele seja tratado de maneira adequada por familiares, amigos e até mesmo profissionais de saúde”, complementa.

Baldo explica que a falta de conhecimento é acompanhada de declarações que ignoram a realidade da dor. “Algo que mais dói é o não reconhecimento da morte, do tamanho dessa dor. Essa dor geralmente é vivida na solidão pela mãe, só ela entende, de fato, a falta que está fazendo dentro dela”.

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“Às vezes, as pessoas passam a mensagem de que a dor precisa ser superada rapidamente, como se não houvesse espaço para viver o luto com profundidade. Por vezes, o silêncio sensível ou uma escuta genuína pode ser muito mais acolhedor.”, complementa Cinthia. “Há falas que podem ainda levar a mulher para uma expectativa futura. Como se um novo bebê fosse substituir aquele que se perdeu, o que não é possível. Cada vínculo é único, e o luto precisa de espaço para ser vivido.”

O que evitar dizer para alguém que perdeu o bebê.

Diversas frases foram citadas pelas psicólogas para ilustrar exemplos de frases que não auxiliam e, até pior, agravam esse processo de luto.

Quando a dor é minimizada ou negada, isso pode aumentar o sofrimento. A mulher pode se calar, sentir vergonha por estar triste ou até se isolar. Em alguns casos, essa abordagem pode intensificar quadros de ansiedade, depressão ou até desregulação do corpo, como observado na abordagem somática, por exemplo. O luto necessita de acolhimento, não de pressa para ser superado, afirma Cinthia.

Como agir com alguém que perdeu o bebê

Às vezes, a simples presença na vida de alguém pode ser mais do que necessária, aconselham as profissionais.

“Talvez você possa mencionar como realmente a dor que a pessoa está vivendo deve ser algo imenso e que você sente muito por isso”, diz Raquel. “Mas que você está ali do lado, ‘Olha pode contar comigo para chorar, ficar junto, fazer o que for preciso’”, complementa.

Reconhecer essa perda significa reconhecer o vínculo da mãe com o seu bebê, identificar aquela mulher na sua maternidade e o quanto ela se dedicou a estar com ele até aquele momento, necessitando agora se reconstruir.

Às vezes, basta dizer: “Eu estou aqui com você”, “Sinto muito pela sua perda” ou até “Não sei o que dizer, mas quero te acompanhar nisso”, indica Cinthia. “Quando a gente fala a partir do coração, com respeito e sem tentar resolver a dor do outro, já é um gesto imenso de cuidado”, pontua a médica.

Pequenos gestos fazem toda a diferença. Estar presente sem exigir que a pessoa converse. Validar o que ela sente: “O que você está vivendo é muito difícil, eu imagino”. Permitir que ela fale sobre o bebê, se quiser. Cozinhar algo, ajudar com tarefas do dia a dia, enviar uma mensagem com carinho. E, principalmente, escutar com presença e sem julgamentos. O amor, quando é silencioso e constante, acolhe muito mais do que qualquer palavra, finaliza Cinthia.

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Fonte: CNN Brasil

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