Mais de 99% da energia foi restabelecida na Espanha e em Portugal

A eletricidade foi restabelecida quase que totalmente nesta terça-feira (29/4) na Espanha e em Portugal, aproximadamente 20 horas após um apagão massivo e incomum que gerou caos na Península Ibérica. A causa da falha ainda não foi determinada, mas especialistas não excluem a possibilidade de um ataque cibernético. O apagão impactou vários países europeus na segunda-feira (28/4), afetando Portugal, Espanha, França, Alemanha e até mesmo o Marrocos.

Por volta das 6h da Espanha, 1h em Brasília, 99,16% do fornecimento de energia elétrica fora restabelecido no país, de acordo com o operador da rede REE. Em Portugal, aproximadamente 6,2 milhões de residências já tinham energia durante a madrugada, de um total de 6,5 milhões, conforme relataram as autoridades.

A falta de energia elétrica, que se estendeu por cerca de doze horas, causou transtornos nas vias públicas, interrompeu serviços importantes e afetou milhões de indivíduos que ficaram sem eletricidade por diversas horas.

O apagão iniciou por volta das 12h, horário local (7h), impactando amplas regiões da Espanha e de Portugal. Aeroportos, estações ferroviárias e serviços de telecomunicação sofreram graves consequências.

De acordo com informações da Cloudflare Radar, a internet sofreu uma queda de até 90% em Portugal e 80% na Espanha, comprometendo o funcionamento de aplicativos de mensagens como o WhatsApp. Caixas eletrônicos e sistemas de pagamento também ficaram inoperantes, intensificando a crise.

Muitos moradores demoraram a compreender o que estava ocorrendo. Em Lisboa, o ator e produtor cultural Danilo Kin, de 35 anos, relatou sua vivência ao se encontrar no metrô durante o apagão.

Descobri isso no metrô, indo para a academia. De repente, o vagão parou dentro do túnel. Ficamos lá por um tempo, até que um funcionário do metrô nos ajudou a sair. No final, deu tudo certo, e todo mundo ajudou o outro. Foi um momento de muita solidariedade.

Impacto

A confusão se propagou com velocidade pelas cidades. O trânsito ficou intenso, semissinais falharam, longas filas surgiram nos postos de combustíveis e os mercados ficaram superlotados, com falta de conservas e água. Os hospitais precisaram suspender procedimentos cirúrgicos, e os aeroportos registraram atrasos e cancelamentos de voos. Diversos brasileiros residentes na área contataram seus familiares no Brasil, buscando transmitir confiança.

O aposentado Oswaldo Júnior, que mora no Porto, transmitiu um áudio descrevendo sua vivência nos períodos sem energia. “Vesti à feira com minha esposa, encontramos longas filas. Perdeu-se a energia, a conexão de internet, o acesso aos caixas eletrônicos. Contudo, estamos bem, com saúde e tranquilidade. Armazenamos água e aguardamos a retomada do serviço”, relatou à RFI.

Após sete horas de interrupção, a operadora de rede espanhola comunicou que 45% das subestações já haviam sido restabelecidas. Por volta das 16h45, a energia começou a ser retomada em áreas de Lisboa e do Porto.

Ataque cibernético?

As causas ainda não possuem explicação oficial. A hipótese de um ciberataque está sendo avaliada. O especialista em crimes cibernéticos, Wanderson Castilho, afirmou que o apagamento pode ter sido uma ação planejada ou um teste de controle.

A falibilidade das redes elétricas e de dados pode favorecer ocorrências desse tipo, ressaltando-se a necessidade de manter estoques de baterias e equipamentos de emergência em residências.

Acidentes só poderiam ocorrer em locais específicos. A estrutura de redes elétricas e de dados foi construída para ser restrita a determinados pontos. Outros nós de redes se estabilizariam fazendo com que tudo não funcionasse. Isso é projetado para ser assim, afirma Castilho.

O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, que se manifestou no final da noite desta segunda-feira em sua residência oficial, evitou dar explicações sobre a causa do apagão. “Nenhuma hipótese está descartada”, afirmou.

Ele afirmou que “nunca ocorreu um colapso dessa dimensão” na rede elétrica espanhola. Explicou que “15 gigawatts” de eletricidade foram “instantaneamente perdidos” na rede, tudo isso “em apenas cinco segundos”. Sánchez deve se reunir com o rei espanhol Felipe VI nesta terça-feira para tratar do tema.

Quinze gigawatts representavam cerca de 60% do consumo de energia elétrica da Espanha naquele período, informou o chefe de governo. Já o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, considerou a situação como “grave e sem precedentes”, indicando que a causa do problema provavelmente reside na Espanha.

A esperança por uma retomada da rotina é intensa em ambos os países após um dia de grandes transtornos: metrôs interditados, ônibus superlotados, trens com problemas e falhas na comunicação.

Interconexões

O fornecimento foi parcialmente restabelecido devido às interconexões com a França e o Marrocos, além da reativação de usinas a gás e hidrelétricas em todo o país, afirmou Sánchez.

As usinas nucleares espanholas foram desligadas em segurança padrão devido à queda de energia. As autoridades estão reforçando a segurança nas áreas afetadas. Um comitê de crise foi criado e a recuperação total da rede elétrica pode levar até uma semana.

Na Europa, uma falha na rede elétrica da Alemanha em 4 de novembro de 2006 afetou 10 milhões de pessoas, com metade delas na França e o restante na Alemanha, Bélgica, Países Baixos, Itália e Espanha.

Em 2003, toda a Itália, com exceção da Sardenha, experimentou uma interrupção no fornecimento de energia elétrica.

Fonte: Metrópoles