As leis da natureza não mudam de acordo com nossas necessidades.
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Essa frase tem sido repetidamente utilizada pela Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil, Marina Silva, como um alerta contra a iniciativa da Câmara dos Deputados para enfraquecer o licenciamento ambiental no país. Segundo a ministra, o governo está revisando todos os artigos do Projeto de Lei 2159 para decidir quais serão vetados. O prazo para a aprovação presidencial ou veto é na próxima sexta-feira (8).
A ministra recebeu o BdF em seu gabinete em Brasília para uma entrevista exclusiva, onde também discutiu os ataques que sofreu na Câmara dos Deputados e no Senado, as previsões para a próxima estação seca e os desafios de sediar a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30) em Belém, Pará, em novembro.
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Marina ressaltou que a Lei 2159, também conhecida como a “Lei Devastação”, poderia ter consequências de longo alcance. Ao enfraquecer o processo de licenciamento, ela alertou que o Brasil prejudicaria não apenas ecossistemas e populações vulneráveis, como os povos indígenas, comunidades ribeirinhas e mulheres no campo, mas também sua credibilidade internacional. “Esta lei, como aprovada, afetará de forma injusta os mais vulneráveis e também prejudicará nossas perspectivas econômicas”, declarou, observando que setores da Igreja Católica, da comunidade científica e segmentos do empresariado brasileiro haviam expressado preocupação.
O ministro destacou que a política ambiental está intrinsecamente ligada ao comércio global e às relações diplomáticas do Brasil. Desde que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornou ao cargo, mais de 380 mercados internacionais foram abertos para produtos agrícolas brasileiros, em parte devido ao aumento da fiscalização ambiental e à redução das taxas de desmatamento. Acordos internacionais, como o acordo de comércio UE-Mercosul, poderiam ser comprometidos se o Brasil fosse visto como desmontando suas proteções ambientais. “Se esta proposta permanecer como está, será um tiro no pé. Muitas questões acabarão em disputa na justiça e o Brasil corre o risco de perder oportunidades”, afirmou Marina.
Ela também defendeu a importância de estudos técnicos rigorosos e licenças condicionais para projetos de alto impacto, incluindo a exploração de petróleo na Margem Equatorial e projetos de infraestrutura como BR-319 e Ferrogrão. Marina explicou que grandes projetos em áreas sensíveis devem equilibrar a viabilidade ambiental, social e econômica para evitar consequências irreversíveis. “Estar contra o progresso hoje significa destruir florestas, secar rios e minar a agricultura”, disse ela. “Precisamos seguir protocolos técnicos para garantir que o Brasil possa crescer de forma sustentável e manter seus compromissos internacionais”.
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Marina recordou que a não conformidade com os padrões ambientais poderia resultar em aumento do desmatamento, grilagem de terras e conflitos sociais. Citou exemplos passados, como a usina hidrelétrica de Belo Monte, localizada em terras indígenas no estado do Pará, e outros projetos de infraestrutura, onde a falta de cumprimento das condições ambientais gerou impactos sociais e ecológicos graves. Sua abordagem, ela insistiu, é garantir que a licença avance somente quando os estudos forem concluídos e rigorosos, sem comprometer as salvaguardas ambientais.
Olhando para o COP30, que será realizado em Belém em novembro, Marina afirmou que a conferência deve ser “o COP da implementação”, focada em transformar as promessas climáticas anteriores em ações. Ela enfatizou a necessidade de garantir US$1,3 trilhões em financiamento internacional para apoiar os países vulneráveis, dobrar a produção de energia renovável global e criar um roteiro claro para o encerramento do uso de combustíveis fósseseis e do desmatamento. “Não há mais espaço para atrasos”, concluiu. “O Brasil deve demonstrar liderança na agenda climática, ao mesmo tempo em que protege seu povo e ecossistemas. O mundo estará observando”.
Fonte por: Brasil de Fato