Maurício Rodrigues: Trajetória e Desafios de um CEO da Bayer
Assim como no campo, onde cada safra depende das sementes plantadas no passado, Maurício Rodriguescolheu na carreira o que cultivou desde cedo: disciplina, curiosidade e coragem para enfrentar o novo. Hoje, ele é presidente da divisão agrícola da Bayer na América Latina e lidera um negócio bilionário que aposta em agricultura regenerativa, tecnologia e sustentabilidade para crescer.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
“Eu tive uma trajetória diferente de muitas pessoas negras no país porque meus pais romperam um ciclo pela educação. Eles me deram condições de competir”, afirma o executivo, que perdeu a mãe ainda aos 12 anos e que hoje é um dos poucos CEOs negros no Brasil.
Origens e Formação
Nascido na Grande São Paulo, filho de gaúchos, escolheu a Engenharia Civil na Poli-USP e iniciou a carreira no mercado financeiro. O destino, porém, o levou à então Monsanto (hoje Bayer), onde entrou pela área de finanças e nunca mais deixou o agronegócio. “Foi uma entrada casual e hoje já somo 26 anos na companhia”, diz Rodrigues, que em junho de 2021 chegou ao posto de CEO da Bayer Crop Science para a América Latina.
LEIA TAMBÉM!
Desafios e Aprendizados
“No final, a gente aprende que quem é responsável pela sua própria carreira é você mesmo,” diz o CEO que compartilha os desafios profissionais e do setor no “De frente com CEO”, podcast da EXAME.
Eixos Comportamentais
No início dos anos 2000, performance individual era quase sinônimo de liderança, afirma o CEO. Hoje, ele resume a régua em três eixos comportamentais: curiosidade, colaboração e um ego bem controlado.
“Escutar genuinamente é diferente de fingir que está ouvindo”, diz. “Delegar é parte do trabalho – e um exercício diário de ego,” afirma o executivo.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Modelo de Trabalho
Para acelerar decisões, a divisão opera com um modelo interno de “Dynamic Shared Ownership” (propriedade compartilhada e dinâmica) que tem como objetivo reduzir as camadas de decisão e dar mais empoderamento às pessoas que estão mais próximas dos problemas.
“É um exercício muito forte de ego, porque eu preciso confiar nas pessoas, acreditar que elas sabem fazer o trabalho e entender que a minha palavra final nem sempre é a mais relevante”, diz. “O papel do líder é identificar onde pode agregar, dar direcionamento estratégico e deixar a estrutura caminhar de forma mais eficiente. É menos sobre camadas e mais sobre autonomia.”
Superando a Timidez
“Timidez não é defeito, é ponto de atenção, e essa característica Rodrigues venceu com muito estudo. “Eu escutava muito, mas não me posicionava na hora certa”, conta. Um mentor o provocou a falar mais cedo nas reuniões, com preparo e respeito.
“Tem gente que é oradora nata; no meu caso, a confiança em se posicionar veio com treino, repetição e muito estudo,” afirma Rodrigues.
Experiência Internacional
A experiência internacional foi o outro salto. Rodrigues passou por Estados Unidos e México (2010–2014) e lá entendeu a importância de conhecer novos mundos, o desconforto do novo e a necessidade de ter novos olhares para o negócio que é global.
“Nesses países eu precisei conquistar espaço do zero, em outra cultura e em outro idioma. Essa vivência ampliou meu repertório e me deu uma visão diferente sobre o Brasil”, diz. “Olhar o país de fora aumenta a responsabilidade, mas também mostra onde precisamos evoluir e como podemos contribuir de forma mais global.”
Consistência e Diversidade
A diversidade e a inclusão aparecem no discurso de Rodrigues não como iniciativas pontuais, mas como valores inegociáveis da Bayer. Ele destaca o grupo de afinidade Biafro e os programas de trainees voltados à formação de lideranças negras como exemplos de ações estruturadas, sempre guiadas pela meta de refletir a sociedade em que a empresa está inserida.
“Diversidade e inclusão não são projetos, são valores inegociáveis. Queremos que a Bayer reflita a sociedade em que está inserida. Avançamos muito, principalmente em gênero e raça, mas ainda temos um caminho a percorrer. O importante é a consistência, porque é ela que vence metas episódicas,” diz Rodrigues.
A Bayer no Mundo
Fundada em 1863, a Bayer se consolidou como uma das maiores multinacionais de ciências da vida, com presença em 80 países e 354 unidades ao redor do mundo. A companhia emprega cerca de 99,7 mil colaboradores, atuando nas áreas agrícola, farmacêutica e de consumo.
Em 2024, a multinacional registrou 46,6 bilhões de euros em vendas (alta de 0,7%) e Ebitda de 10,1 bilhões de euros (queda de 13,5%). O fluxo de caixa livre somou 3,1 bilhões de euros, um salto de 137% em relação ao ano anterior. Já os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) atingiram 6,2 bilhões de euros, avanço de 15,6%.
A região da América Latina foi responsável por 6,25 bilhões de euros em vendas da divisão agrícola em 2024. São cerca de 13 mil funcionários, sendo 800 em P&D e 2,9 mil em Product Supply, com presença em 19 países e sedes em quatro deles.
No Brasil, onde está presente desde 1896, a Bayer conta com 3.300 funcionários na divisão agrícola e 28 centros de inovação.