A Menopausa Precoce: Uma Jornada Complexa Após o Câncer
A menopausa, tradicionalmente associada aos 50 anos, pode ter um curso muito diferente para mulheres que passaram por tratamento contra o câncer. Para muitas, essa transição hormonal ocorre de forma abrupta, antes dessa idade, impactando profundamente a vida e a saúde.
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Essa mudança não é apenas física; é um momento de luto, de redefinição e de busca por um novo equilíbrio.
Um Impacto Profundo no Corpo e na Mente
Após um tratamento de câncer, o corpo muitas vezes enfrenta desafios adicionais. Os tratamentos, como quimioterapia e radioterapia, podem afetar os ovários e o útero, levando à menopausa precoce. Essa mudança hormonal pode desencadear uma série de sintomas físicos, como ondas de calor, ressecamento vaginal e alterações no sono.
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Mas o impacto vai além do físico. Muitas mulheres relatam sentimentos de tristeza, luto pelo fim da fertilidade e medo de perder a feminilidade. A menopausa precoce pode ser um momento de grande vulnerabilidade emocional, exigindo apoio e compreensão.
Entendendo as Causas e os Sinais
A menopausa precoce causada pelo câncer pode ser mais intensa e abrupta do que a menopausa natural. Isso acontece porque o corpo não tem tempo de se adaptar gradualmente à queda dos hormônios. Os sintomas físicos mais comuns incluem ondas de calor e sudorese noturna, ressecamento vaginal e dor durante a relação sexual, insônia e alterações do sono, diminuição da libido, dores articulares, ganho de peso e alteração da composição corporal, queda de cabelo e ressecamento da pele, perda óssea acelerada e maior risco cardiovascular.
Mas os sintomas emocionais e psicossociais são igualmente importantes e muitas vezes negligenciados: tristeza e sentimentos de luto pelo fim da fertilidade, medo de perder a feminilidade, vergonha de conversar sobre sexualidade, ansiedade em relação ao futuro e aos relacionamentos, sensação de isolamento e de que “ninguém entende” o que está acontecendo.
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Muitas mulheres relatam se sentir “envelhecidas antes do tempo”.
A Importância do Apoio Multidisciplinar
Muitos profissionais de saúde acabam não abrindo espaço para que essas questões sejam abordadas. O foco principal costuma ser a remissão da doença, algo absolutamente necessário, mas isso não deveria excluir o cuidado com a qualidade de vida e com o bem-estar da mulher. É por isso que a escuta multidisciplinar é tão essencial.
Médicos oncologistas, ginecologistas, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e profissionais de cuidados paliativos podem (e devem) atuar juntos para oferecer acolhimento e soluções práticas para os sintomas físicos e emocionais da menopausa provocada pelo tratamento.
Esse cuidado envolve mais do que prescrever medicamentos. É ouvir a história da paciente, validar suas emoções, orientar sobre a sexualidade, discutir fertilidade futura (quando possível), explicar opções de tratamento e acompanhar de forma contínua.
Tratamentos e Alternativas
A terapia de reposição hormonal pode ser uma aliada importante para reduzir os sintomas da menopausa precoce. No entanto, seu uso deve ser cuidadosamente avaliado caso a caso. Mulheres com histórico de câncer hormônio-dependente (como alguns tipos de câncer de mama e de endométrio) geralmente não devem usar estrogênio.
Ainda assim, existem alternativas seguras, como o uso local de estrogênio vaginal em doses baixas, que pode melhorar muito a qualidade de vida sem aumentar o risco de recidiva em situações selecionadas. Em mulheres sem contraindicações, a reposição hormonal, feita de forma personalizada e com acompanhamento regular, pode prevenir complicações como osteoporose e doenças cardiovasculares, além de melhorar sono, libido e disposição.
Medicina Integrativa: Um Novo Caminho
A medicina integrativa olha para o ser humano como um todo. Ela combina os melhores recursos da medicina convencional com práticas complementares baseadas em evidências. Isso inclui acupuntura, que pode ajudar a reduzir ondas de calor e dores, meditação e mindfulness, que auxiliam no controle da ansiedade, exercícios físicos adaptados, que melhoram o humor, a energia e a saúde óssea, fitoterapia segura, quando bem orientada, e terapias corporais e artísticas, que favorecem a reconexão com o próprio corpo.
Conclusão: Um Legado de Empatia e Compreensão
A menopausa provocada pelo câncer não é apenas uma mudança hormonal: é uma ruptura que afeta o corpo, a mente e a identidade de muitas mulheres. É urgente trazer esse tema para a luz, romper o tabu, abrir espaço para o diálogo e garantir que cada mulher seja acolhida com empatia.
Falar sobre isso é oferecer dignidade. É dizer, com todas as letras: você não está sozinha, e sua saúde vai muito além de uma doença.
