Em São Paulo, áudios e registros demonstram que militares do Arsenal de Guerra do Exército Brasileiro, em Barueri, na região metropolitana, apontam para a ausência de câmeras de vigilância no local, o que possibilitaria a aplicação de punições por meio de agressões e, a prática de tortura.
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O quartel foi denunciado no mês passado por um soldado de 19 anos, que alega ter sido vítima de tortura no local. O espaço também já foi alvo de um furto de 21 metralhadoras, ocorrido em setembro de 2023, que só foi detectado cerca de cinco semanas depois.
Em um grupo de WhatsApp, militares discutiram em 2024 a ausência de vigilância no quartel, mencionando um suposto perigo ao qual estão expostos. “Só sei que se eu aparecer de olho roxo, foi o Arsenal”, afirmou um dos participantes em mensagem de texto.
Ademais da ausência de câmeras, os poucos equipamentos existentes no local estariam desativados, como no espaço destinado ao comandante da guarda, conforme relatado por outro militar também em mensagem de texto.
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Na área de áudio, os militares intensificaram a ocorrência de ausência de vigilância no quartel. “Nesses locais, eles já pegam e já levam para o canto, em um lugar sem câmera, para aplicar [punição]”, afirmou um dos indivíduos.
Um militar declarou que “está sendo colocado câmera agora no Arsenal”. Segundo o áudio que enviou ao grupo, “é um lugar ou outro que tem”.
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O Metrópoles solicitou esclarecimentos ao Comando Militar do Sudeste e aguarda resposta.
Jovem soldado de 19 anos relata ter sido vítima de tortura em instalação militar.
O soldado Valdir De Oliveira Franco Filho, com 19 anos, apresentou boletim de ocorrência, relatando agressões que alega ter sofrido nas dependências do Arsenal de Guerra. Segundo o relato do jovem, ele foi torturado por superiores em 11 de março, após informar a perda da fivela do fardamento.
Valdir foi conduzido a uma sala sem luz e sem a presença de testemunhas ou câmeras. No local, foi obrigado a pagar correções enquanto recebia golpes com um sapato de coturno no tórax, sendo questionado de forma rude sobre o valor da fivela, conforme o Boletim de Ocorrência.
Retomou o treino físico no mesmo dia, sentindo resquício de sangue na boca. Contudo, o jovem prosseguiu com o exercício, o que causou-lhe intensas dores de cabeça. À noite, foi isolado no quarto.
No dia seguinte, ele retomou atividades físicas intensas, o que intensificou suas dores. Com os sintomas, Valdir foi levado ao Hospital do Serviço de Assistência Médica de Barueri (Sameb) sem que seus familiares fossem informados.
Após retornar ao quartel, foi obrigado a jantar em três minutos, o que causou o vômito da refeição e, em seguida, sangue “em excesso”. O soldado foi novamente encaminhado ao Hospital Sameb e recebeu a indicação de tirar três dias de repouso. O Exército não teria acatado a recomendação médica.
Foi encaminhado ao Hospital Militar de Área de São Paulo (HMASP), no bairro do Cambuci, em São Paulo. “Todos os exames foram realizados e não apresenta doenças de base, o que leva a doenças geradas por agressão e maus-tratos”, conclui o boletim de ocorrência, que registrou o caso como maus-tratos no 1º Distrito Policial (DP) de Barueri.
Em decorrência das agressões, Valdir perdeu o movimento nas pernas, conforme relatado. Ele afirma não conseguir mais andar e que continua vomitando sangue, mesmo um mês e meio após a tortura.
O jovem poderá recuperar o movimento das pernas se receber o tratamento adequado, conforme o esperado dos médicos do Exército. “Eles [superiores do Exército] disseram que os médicos iriam aparecer aqui para iniciar o tratamento e até agora nada. Informaram que ainda esta semana o médico iria comparecer”, declarou o soldado.
A nota indica que, após a constatação de que o militar não se encontrava em condições de saúde adequadas, o Exército Brasileiro tem fornecido a ele a assistência médica necessária.
O Arsenal de Guerra de São Paulo instaurou uma sindicância para apurar os fatos. Até o momento, não há qualquer indício de ocorrência de crime no interior daquela Organização Militar, disse o órgão.
Roubo de metralhadoras
Fonte: Metrópoles