Moraes utilizou publicações antigas de redes sociais para a manifestação de 8 de Janeiro
Ministros da pasta examinaram históricos de detentos envolvidos nos ataques de 2023 e usaram postagens de até 2018 para defender a permanência na prisão.

O ministério de Alexandre de Moraes, do STF, teria analisado as redes sociais de presos do 8 de janeiro e utilizado publicações compartilhadas por eles, em alguns casos antecedendo os ataques às sedes dos Três Poderes, para determinar se as prisões deveriam ser mantidas ou se os indivíduos seriam soltos, conforme reportagem de David Agape e Eli Vieira, publicada no Public, site de Michael Shellenberger, autor do Twitter Files Brazil.
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Agape e Vieira contataram o STF, o TSE, a PGR, o Exército e Moraes, além de indivíduos mencionados em prints de grupos de WhatsApp, buscando uma declaração sobre o caso. A publicação informou que nenhum dos destinatários respondeu.
A reportagem indica que membros do gabinete de Moraes utilizaram publicações em redes sociais para verificar se um detento possuía “certidão positiva” ou “certidão negativa”. O termo “positiva” seria interpretado como “perfil suspeito”. Os jornalistas relatam que, entre os registros analisados, 42 indivíduos obtiveram certidões “positivas”, e 277, “negativas”. Eles também afirmam que nenhum preso com uma certidão “positiva” foi solto.
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De acordo com Agape e Vieira, foi possível verificar a autenticidade de 69 documentos comprobatórios. Contudo, eles não farão a publicação dos detalhes completos, devido ao teor de informações pessoais sensíveis dos envolvidos.
Não é possível verificar de forma independente a autenticidade das certidões e das conversas de WhatsApp. Em casos assim, também é comum um veículo de mídia divulgar as íntegras com tarjas em cima dos dados sensíveis – o que não foi feito.
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O texto também afirma que o gabinete de Moraes empregou o sistema de biometria do TSE, com informações de eleitores de todo o país, para identificar manifestantes nas imagens dos atos de 8 de janeiro. A autorização teria sido emitida por Moraes, na época presidente da Corte.
O TSE não se manifestou à reportagem.
Agape e Vieira mencionam em seu texto alguns casos de presos do 8 de Janeiro que obtiveram um atestado “positivo” e quais publicações foram encontradas em seus perfis nas redes sociais.
Trocas de mensagens via WhatsApp
A reportagem também revela cópias de conversas de um grupo no WhatsApp denominado “Audiências de Custódia”. Não é possível confirmar a veracidade dessas mensagens.
A chefe do gabinete de Moraes, Cristina Yukiko Kusahara Gomes, conversa com Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do magistrado no TSE e investigado no STF. Ela afirma que o ministro não deseja liberar os presos sem analisar se há algo em seus perfis nas redes sociais e solicitou também que se verifique se eles não participaram de grupos de WhatsApp ou Telegram relacionados ao golpe.
Ela solicita a Tagliaferro que a análise seja agilizada: “Eu preciso desta análise, feita com cautela, mas não no ritmo de vocês no TSE… Desculpe a expressão. O pessoal aí está mal acostumado”.
Ela afirma não existir margem para “desculpas” com Moraes.
O Poder360 contatou o STF por meio de sua assessoria de imprensa para verificar se a Corte tinha conhecimento do material divulgado e se desejava se pronunciar. Não houve resposta até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado caso uma manifestação seja enviada a este jornal digital.
Fonte por: Poder 360