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Movimentação na Cracolândia: “Preciso de R$ 1 para fumar minha droga”


Movimentação na Cracolândia: “Preciso de R$ 1 para fumar minha droga”
(Foto Reprodução da Internet)

Na última terça-feira (7/11), ocorreu um problema no centro de São Paulo quando os usuários de drogas da Cracolândia foram transferidos para a Rua Mauá, próximo à Estação da Luz. À noite, alguns dependentes de crack invadiram a estação, causando tumulto. Nos dias seguintes, os moradores bloquearam a rua em protesto contra a presença desses usuários, e eles acabaram sendo levados de volta para a Rua dos Protestantes, que está a aproximadamente 500 metros de distância.

No meio desse vaivém da Cracolândia, o Metrópoles conversou nos dois últimos dias com Luiz (nome fictício), que há seis anos frequenta o fluxo para consumir pedras de crack. Aos 32 anos, ele conta que é professor de dança e que abandonou o curso de educação física e um filho adolescente por causa das drogas. O vício começou com a cocaína no Guarujá, cidade onde cresceu, no litoral paulista, até virar refém da pedra, em 2017, na aglomeração de dependentes químicos que vagam pelo centro paulistano.

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Luiz diz que seu objetivo é conseguir ao menos R$ 1 para conseguir comprar uma bebida.

O rapaz diz que sempre dançou bem e tentou evitar cocaína antes de conhecer crack. Ele lembra de ter buscado ajuda no Cratod, em São Paulo, no dia em que o Museu da Língua Portuguesa pegou fogo em dezembro de 2015.

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Ele foi para São Paulo algumas vezes e, em uma noite, ficou sem ter onde dormir. Nessa situação, ele recebeu um convite para ir a uma festa em uma área chamada Cracolândia, onde experimentou crack pela primeira vez. Isso aconteceu em 2017 e, desde então, sua vida gira em torno do vício em crack.

Mesmo com o prazer proporcionado pela droga, não faltaram tentativas para abandonar a dependência química. Ao longo da vida, Luiz conta que foi internado por 24 vezes. Ele tem uma definição muito particular a respeito dessas experiências. “Como é a internação? É como ser chifrado 24 vezes pela mesma mulher”, diz.

As alterações no fluxo.

Entre tentativas e erros, Luiz descreve um roteiro bem conhecido pelos usuários da Cracolândia ao longo dos anos. Aponta cada local por onde passou com precisão de datas e eventos atrelados, muitas vezes, a operações policiais em curso em cada época.

“Antes, quando estávamos na Júlio Prestes, ficávamos parados e em silêncio, seguíamos o horário de limpeza e fazíamos tudo corretamente. Mas, depois, fomos transferidos para a Praça Princesa Isabel e continuamos fazendo as mesmas coisas.”

Ele segue uma linha do tempo detalhada, relatando que a polícia levou os usuários para a Rua Helvétia antes da operação Caronte, que resultou na prisão de diversos dependentes e suspeitos de tráfico de drogas.

“Você não podia ter um cachimbo no bolso que era preso. Eu fui preso 15h30 por causa de um caninho, não era nem um cachimbo. Saí de lá 0h15”, diz.

No últimos meses, tem sido um empurra-empurra das autoridades, diz Luiz. Ele está insatisfeito com as mudanças repentinas no trânsito diário. “Por que tenho que tirar você daqui, fazer você dar voltas e trazer você de volta aqui? Não somos marionetes”, diz ele. “Se continuarmos dando voltas e voltas, acabaremos saindo quebrando e saqueando tudo. Não somos bobos”, ele afirma.

Luiz também não vê bons resultados nos próximos meses. Ele acredita que a situação vai piorar por causa das eleições municipais de 2024. Segundo ele, é preocupante pensar que estamos em novembro e o próximo ano será de eleição.

Quando perguntado sobre o que espera do futuro, ele tem a sensação de que continuará preso ao vício do crack, apesar das medidas recentes do governo de São Paulo para ajudar dependentes químicos que vivem no centro da cidade. Ele acredita que não há um futuro promissor para quem está nessa situação, onde somente o dinheiro do primeiro e segundo real é importante, para poder adquirir a droga.

Luiz agradece a todo momento o fato de ter pessoas que se preocupam e se importam com sua vida, incentivando-o a perceber que é mais do que um consumidor de crack. Seja um grande amigo de um grupo de teatro do bairro ou a dona de um bar que acolhe quem veio da rua, como ele.

Mesmo não sendo o bastante para evitar os problemas, essa rede de apoio oferece críticas construtivas e elogios encorajadores que ajudam a manter sua motivação, mesmo nos momentos mais difíceis.

A reportagem decidiu não identificar Luiz por causa da situação vulnerável em que ele se encontra.


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