MST e Lula iniciam conversa na Semana Camponesa; 5 mil famílias esperam pela regularização em Minas Gerais
Vídeo musical, divulgado na terça-feira (22), exige pagamento em homenagem a Felisburgo, local de um massacre ocorrido há 20 anos.

Na quarta-feira (23), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) no Palácio do Planalto, em um momento crucial na disputa pela terra, durante o ápice da mobilização da Semana Camponesa.
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A reunião com o governo federal foi marcada pela participação da audiência e resultou, segundo o movimento, em acordos relevantes para desbloquear temas históricos da reforma agrária.
A reunião, com a presença de João Paulo Rodrigues e Ceres Hadich, dirigentes nacionais do MST, discutiu a aquisição de terras para aproximadamente 62 mil famílias assentadas e políticas de crédito, habitação, saúde e educação no campo.
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O governo Lula reiterou seu compromisso com a questão e indicou que iniciará articulações com os ministérios para assegurar avanços ainda neste ano e ao longo de 2026, conforme relatado pela dirigente Esther Hoffmann, do MST, que também ressaltou a importância de manter a pressão para que as promessas se materializem.
Com o lema “Para o Brasil alimentar, Reforma Agrária Popular!”, a mobilização reúne mais de 17 mil militantes em 22 capitais e exige que o Estado brasileiro cumpra seu papel histórico de assegurar terra, moradia e dignidade às populações do campo.
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Em Minas Gerais, onde mais de cinco mil famílias esperam pela regularização fundiária, a situação também é de mobilização. Na terça-feira (22), aproximadamente 500 militantes invadiram a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Belo Horizonte, para denunciar o atraso na implementação de áreas já decretadas e exigir providências urgentes.
A desapropriação da área do Acampamento Terra Prometida, em Felisburgo, é uma das principais questões enfrentadas pelo estado, considerando que localizou um dos confrontos mais graves da história da disputa por terras no Brasil.
Em continuidade à mobilização e em defesa da memória dos cinco trabalhadores rurais sem terra assassinados em 2004, o MST lançou, também na terça-feira, o clipe “Acampamento Terra Prometida – 23 anos sem reforma agrária”, que resgata a trajetória de resistência iniciada em maio de 2002, quando 230 famílias ocuparam a Fazenda Nova Alegria, no Vale do Jequitinhonha.
O governo ainda não reconheceu o direito dessas famílias à terra. A falta das gestões anteriores estende a violência e justifica a impunidade, declarou o movimento, em comunicado.
Apesar da dor, o acampamento transformou-se em símbolo de resistência e produção agroecológica, com escola, moradias, memória viva e distribuição de alimentos para os Armazéns do Campo e programas institucionais. O clipe reforça a mensagem: “Felisburgo vive. Terra Prometida resiste”.
Outra área estratégica em Minas Gerais é o Acampamento Quilombo Campo Grande, onde 459 famílias esperam pela regularização definitiva. A área foi decretada como de interesse para reforma agrária em março deste ano, mas até o momento o processo de desapropriação não foi finalizado. Situada na antiga Fazenda Ariadnépolis, a comunidade produz mais de 375 cultivos distintos e é referência nacional na produção de café agroecológico.
Hoffman reforça que este será um ano que exigirá muitas batalhas para cumprir os compromissos assumidos, ressaltando que as famílias não podem mais aguardar 20 anos.
As ocupações no Incra
As mobilizações nas sedes do Incra, iniciadas na terça-feira (22), fazem parte da estratégia nacional da Semana Camponesa para garantir a implementação de políticas agrárias. Além de Belo Horizonte, ocorreram ações semelhantes nos estados do Ceará, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Pará, Mato Grosso, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. As ocupações se encerraram na quarta-feira (23), após as negociações com o presidente Lula.
Durante a marcha, o MST também publicou uma carta à sociedade brasileira, exigindo medidas concretas ao governo federal e criticando a atuação do Congresso Nacional, que recentemente votou o PL 2.169/2021, conhecido como “PL da Devastação”. Para o movimento, trata-se de um ataque direto à natureza, aos povos do campo e aos direitos socioambientais.
A carta adverte que a reforma agrária é um instrumento de soberania nacional, confrontando-se ao modelo do agronegócio, visto como “entreguista, golpista, saqueador e antipatriótico”.
Fonte por: Brasil de Fato