“Nós representamos o impulso que impulsiona este país”, afirma líder do MST em relação à luta das mulheres negras
Eliane Oliveira, da direção nacional do MST na Bahia, destaca alguns dos desafios enfrentados pelas mulheres negras sem terra.

Na sexta-feira (25), comemora-se o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, também o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder do Quilombo do Quariterê, que resistiu por mais de 20 anos aos avanços das forças militares, comandando a maior comunidade de libertação de negros e indígenas da capitania de Mato Grosso. Essa data coincide com o Dia Internacional da Agricultura Familiar, oficializado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) em 2014. O Brasil de Fato Bahia dialogou com Eliane Oliveira, diretora nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado, para analisar os papéis e desafios das mulheres negras no campo, em especial as mulheres sem terra.
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“Não tenho como falar das mulheres negras sem antes mencionar a ancestralidade que as antecedeu. Refiro-me a Maria Felipa, a Dandara, cujas coragens nos inspiram a continuar lutando e enfrentando, principalmente, o machismo que vivenciamos na sociedade contemporânea”, inicia Oliveira. “Nosso papel tem sido, ao longo dos 40 anos, uma construção lado a lado, além da cozinha, mas do cuidado, da ocupação da terra, da produção de alimentos e, sobretudo, da construção do projeto de Reforma Agrária Popular para o Brasil”, completa.
A liderança ressalta que, nas quatro décadas de história do MST no país, as mulheres negras têm cada vez mais assumido o protagonismo na luta popular.
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“Diante das adversidades, cooperativas, escolas, centros de formação, setores, associações, parlamento, universidades, cozinhas solidárias, nos fortalecemos para estabelecer uma linha de diálogo e posicionamento como mulheres sem terra”, salienta Oliveira.
Organização coletiva para combater opressões
Apesar de representarem mais de 60% da força de trabalho feminina rural, segundo dados de 2023 do Dieese, as mulheres negras enfrentam maior invisibilidade, com dificuldades de inserção, menores salários e ocupações precárias. Eliane Oliveira destaca que o machismo e o racismo são pilares das principais questões enfrentadas por mulheres negras sem terra.
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O principal desafio cotidiano é o racismo, a desigualdade de gênero e no trabalho, a sobrecarga física e psicológica, que impactam significativamente a saúde mental das mulheres, juntamente com sua invisibilidade teórica e política.
Nesse contexto, a auto-organização tem se mostrado um fator fundamental para que as mulheres se fortaleçam e procurem vias coletivas de lidar com essas questões.
As mulheres sem terra se organizam coletivamente, por meio do setor de gênero do MST, para o estudo, a formação política, a construção de novas políticas e diretrizes que garantam dignidade às mulheres que não possuem terra. O Brasil foi pensado para a população branca, portanto, continuaremos na luta pelo fim do racismo e do patriarcado presentes na sociedade. A conquista de nossos direitos como mulheres sem terra será alcançada por meio da luta, da resistência e da pauta política de gênero.
Em meio às mobilizações da Semana Camponesa, a jornada nacional organizada pelo MST para lutar por medidas concretas para a realização da reforma agrária, Eliane Oliveira ressalta que o 25 de julho é uma data fundamental para evidenciar o papel histórico das mulheres negras na construção do Brasil.
Que no dia 25 possamos compreender que somos a força que impulsiona este país, estamos em todos os lugares. Que a força de Teresa de Benguela, Maria Felipa, Dandara, Margarida Alves, Marielle Franco, Preta Gil nos incentive a não ter medo. Seguiremos até que a última de nós seja livre de todas as formas de opressão.
Fonte por: Brasil de Fato