“Nossos últimos repórteres em Gaza vão morrer de fome”, afirma a agência AFP
Agência solicita evacuação imediata de jornalistas em Israel.

A Agência France-Presse (AFP) emitiu um alerta inédito na segunda-feira (21/07) sobre a situação de seus jornalistas que atuam em Gaza.
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A agência, pela primeira vez desde sua fundação, reconheceu publicamente o risco de perda de pessoal devido à desidratação, diante da intensificação das operações militares israelenses e do agravamento das condições humanitárias no enclave palestino.
Desde a fundação da AFP em agosto de 1944, registramos jornalistas falecidos em conflitos, colegas feridos e detidos, porém ninguém se recorda de ter testemunhado um colaborador morrendo de inanição.
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Negamos ter visto nossos colegas morrerem, declarou a Sociedade de Jornalistas da AFP (SDJ), que reúne os profissionais da agência.
Rejeitamos a vê-los morrer. Seus pedidos de ajuda, de cortar o coração, agora são diários, frisou em comunicado publicado nas redes sociais.
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Saída imediata
A organização solicita a evacuação imediata de seus repórteres locais, sob pena de morte por inanição ou exaustão. Segundo a nota, a AFP tem se baseado unicamente em freelancers para relatar a situação em Gaza desde o início de 2024, após a retirada da equipe internacional e a proibição da entrada de jornalistas estrangeiros.
Desde 7 de outubro, Israel proibiu o acesso de jornalistas internacionais à Faixa de Gaza. Nesse contexto, o trabalho de nossos freelancers palestinos é crucial para informar o mundo. Contudo, suas vidas estão em perigo, razão pela qual solicitamos às autoridades israelenses que permitam sua evacuação imediata, juntamente com suas famílias.
O desespero dos profissionais se manifesta em relatos diretos. Bashar Taleb, fotógrafo freelancer que colabora com a AFP desde 2010, publicou no Facebook: “Não tenho mais poder para cobrir a mídia. Meu corpo está magro e não consigo mais andar”. Ele vive atualmente nas ruínas de sua casa na Cidade de Gaza com os irmãos e relatou que um deles já “caiu” de fome.
A AFP declara que não dispõe mais de veículos, muito menos combustível, para que seus jornalistas se desloquem a realizar reportagens. “Dir-se de carro, de qualquer forma, implica correr o risco de se tornar alvo da aviação israelense”, afirma o texto.
“A cada saída da tenda para cobrir um evento, realizar uma entrevista ou registrar um acontecimento, não tenho certeza se voltarei”, afirma Ahlam, jornalista da agência. O principal problema é a escassez de alimentos e água, confirma.
Busco manter meu trabalho, dando voz às pessoas, documentando a verdade apesar de todas as tentativas de silenciá-la. Resistir não é uma escolha: é uma necessidade.
Governo francês
O jornal Le Monde noticiou que o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Nouël Barrot, solicitou nesta terça-feira (22/07) que Israel autorizasse a entrada da imprensa estrangeira em Gaza, alertando para o risco iminente de fome após 21 meses de conflito.
Solicita que a mídia livre e independente obtenha acesso a Gaza para apresentar o que está ocorrendo e prestar depoimento, declarou Barrot em entrevista à rádio France Inter. Ele afirmou que Paris está “tratando do assunto” e que o governo espera “poder evacuar alguns colaboradores de jornalistas nas próximas semanas”.
Barrot também solicitou o “cessar-fogo imediato” de Israel. “Não há mais justificativa para as operações militares do exército israelense em Gaza”, afirmou. “Esta é uma ofensiva que vai agravar uma situação já catastrófica e causar novos deslocamentos forçados de populações, o que condenamos nos termos mais fortes”, acrescentou.
Fonte por: Brasil de Fato