Pesquisadores brasileiros identificaram compostos químicos em esponjas marinhas que apresentam potencial para eliminar o parasita causador da malária, incluindo cepas resistentes a medicamentos antimaláricos tradicionais. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista ACS Infectious Diseases.
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A malária, causada por protozoários e transmitida por picadas de mosquitos do gênero Anopheles, é uma das doenças infecciosas que mais causam fatalidades em escala global. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, em 2023, contabilizou aproximadamente 600 mil vítimas, com 75% delas sendo crianças menores de 5 anos.
Os dois compostos recém-descobertos (batzelladinas F e L) demonstraram ação rápida contra os parasitas da malária – tanto o *Plasmodium falciparum*, mais letal e predominante na África, quanto o *Plasmodium vivax*, principal agente causador de malária na América do Sul. A eficácia das substâncias foi comprovada por meio de testes em amostras de sangue de pacientes e em camundongos infectados.
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Os resultados são promissores, gerando otimismo em relação a um novo tratamento. Apesar dos compostos não terem eliminado totalmente os protozoários, eles podem servir de inspiração para a síntese de novas estruturas químicas com ação potencializada, avalia Rafael Guido, professor do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) e coautor do estudo.
O projeto foi conduzido por uma equipe multidisciplinar proveniente da USP, do Museu Nacional, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Centro de Pesquisa de Medicina Tropical de Roraima. Recebeu apoio da FAPESP por meio de dez projetos, além de financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O pesquisador Roberto Berlinck, do Instituto de Química de São Carlos (IQSC-USP), autor do estudo, destaca que a descoberta demonstra a relevância da biodiversidade brasileira, que enfrenta ameaças.
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Não se costuma associar o impacto negativo das mudanças climáticas à descoberta de novos fármacos ou, mais especificamente, à cura de doenças. As esponjas Monanchora arbuscula vivem em um ambiente que está ameaçado com o aquecimento dos oceanos. um produto natural que estamos apenas iniciando a investigação pode desaparecer.
Berlinck também destaca que as mudanças climáticas têm favorecido o aumento de casos de malária em todo o mundo.
Metodologia
O grupo de pesquisadores isolou as batzelladinas dos demais componentes da esponja marinha e definiu sua estrutura química. Anderson L. Noronha, do IQSC-USP, conduziu essa investigação.
Os pesquisadores observaram que as batzelladinas atuam de maneira rápida e eficiente em parasitas jovens, impedindo sua multiplicação dentro das hemácias do hospedeiro. Segundo Guido, essa ação rápida é crucial para reduzir a probabilidade de os parasitas desenvolverem resistência a um tratamento.
Observamos que o parasita perece imediatamente após o contato com os compostos químicos. Isso é relevante, pois moléculas que eliminam o parasita de maneira gradual possibilitam que ele se adapte e desenvolva resistência, conforme explica Giovana Rossi Mendes, do IFSC-USP, responsável pela condução dos testes com as amostras de sangue e com os camundongos.
Além de combater a malária, essas substâncias também demonstram atividade antiparasitária contra outras doenças, como leishmaniose e Chagas.
Apesar de parecer estranho que uma substância com potencial para curar a malária, uma doença associada a florestas tropicais, esteja presente em um microrganismo marinho que não precisaria se proteger desse patógeno, a aparente desconexão é algo comum em estudos de busca de produtos naturais com atividade biológica, segundo Guido.
Essas substâncias são denominadas metabólitos secundários, compostos orgânicos que exercem funções adaptativas para os organismos que os produzem ou acumulam, como defesa contra inimigos, atração entre sexos, repulsão de predadores ou ocupação de espaço físico, entre outras.
“Assim como os agentes causadores da malária, as esponjas marinhas são organismos muito antigos, que acumularam esses metabólitos secundários ao longo de anos de evolução para assegurar seu sucesso no ambiente oceânico”, explica Guido.
https://pubs.acs.org/doi/10.1021/acsinfecdis.4c00714.
Cientistas desenvolvem novo medicamento para combater a malária.
Fonte: CNN Brasil