Nova pesquisa da ONU indica que uma a cada cinco habitantes de Gaza enfrenta a insegurança alimentar

O governo de Israel prosseguiu com o bloqueio de assistência humanitária por um período de quase três meses.

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(Imagem de reprodução da internet).

Cerca de uma em cada cinco habitantes de Gaza sofre de fome, cenário que já se espalhou por todo o território, segundo um relatório das Nações Unidas, que destaca a urgência da assistência humanitária.

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O alerta ocorre quando a ONU e várias organizações não governamentais, assim como a população civil em Gaza, declaram que a situação se agravou desde que Israel iniciou seu novo ataque ao território em março, com os residentes enfrentando dificuldades para obter alimentos, medicamentos e água potável.

A população inteira do enclave enfrenta “altos níveis de insegurança alimentar aguda” e o território apresenta “alto risco” de fome, o tipo mais grave de crise de fome, declarou a Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC) em seu último relatório, publicado na segunda-feira (19).

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O IPC declarou que os recursos essenciais para a sobrevivência das pessoas se esgotaram ou acabarão nas próximas semanas. A escassez de alimentos é evidente, com produtos limitados sendo vendidos a preços excessivamente altos, tornando-os inacessíveis à maioria da população.

Israel implementou um bloqueio humanitário a Gaza em 2 de março, restringindo o fornecimento de alimentos, medicamentos e outras assistências aos mais de 2 milhões de palestinos que residem no território. Israel alega que o bloqueio, juntamente com a expansão dos bombardeios militares em Gaza, tem como objetivo pressionar o Hamas a liberar os reféns mantidos no enclave, mas organizações internacionais afirmam que isso viola o direito internacional, com algumas acusando Israel de usar a fome como arma de guerra.

Existe um “alto risco” de que ocorra fome entre agora e o final de setembro, alertou o relatório do IPC, deixando a maioria das pessoas em Gaza sem acesso a alimentos, água, abrigo e medicamentos.

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A cessação imediata e sustentada dos conflitos, juntamente com a retomada da assistência humanitária, são essenciais para evitar a fome generalizada, segundo o relatório.

Sob o sistema IPC – uma escala de cinco fases utilizada para medir a gravidade da insegurança alimentar – uma situação de fome só pode ser declarada se os dados demonstrarem que certos critérios foram alcançados. Esses critérios incluem: pelo menos 20% de todas as famílias enfrentando uma escassez extrema de alimentos, 30% ou mais das crianças apresentando desnutrição grave e, pelo menos, 2 em cada 10 mil pessoas morrendo diariamente devido à fome absoluta ou à interação entre desnutrição e doenças.

De acordo com o IPC, a primeira linha já foi ultrapassada, com quase 469,5 mil pessoas – aproximadamente 22% da população – que provavelmente enfrentarão uma situação de insegurança alimentar “catastrófica”, a fase mais alta na escala do IPC, entre maio e setembro, segundo o relatório.

O porta-voz do gabinete do primeiro-ministro israelense, David Mencer, afirmou na segunda-feira que “não houve fome” em Gaza, apesar dos alertas do IPC, e que, caso haja fome na região, a responsabilidade recai sobre o Hamas, que impede o acesso de ajuda humanitária aos civis.

Apesar de majoritariamente culpar o Hamas pelo aumento dos níveis de fome, o embaixador dos EUA em Israel, Mike Huckabee, admitiu na sexta-feira a rápida deterioração da situação em Gaza, declarando à CNN: “Se não houvesse uma crise humanitária, não haveria um esforço para tentar lidar com ela. a resposta é, obviamente, sim, há uma crise humanitária.”

Desde março, o ataque de Israel deslocou mais de 430 mil pessoas, conforme o relatório, interrompendo serviços essenciais e a distribuição de suprimentos básicos.

Todas as 25 padarias gerenciadas pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU foram obrigadas a fechar no início de abril devido à falta de suprimentos, e os alimentos estão acabando na maioria das 177 cozinhas de refeições quentes, conforme o relatório do IPC. Os preços dos alimentos estão subindo rapidamente.

O preço da farinha subiu 3.000% desde fevereiro, e um saco de 25 quilos de farinha de trigo pode custar entre US$ 235 e US$ 520, conforme o relatório.

Na segunda-feira, o porta-voz do Secretário-Geral da ONU, Stéphane Dujarric, informou que aproximadamente 260 mil refeições foram preparadas e distribuídas em toda a Faixa de Gaza, o que representa uma diminuição de 70% em comparação com a quarta-feira anterior.

Segundo o porta-voz, o bloqueio, que já ultrapassa os 70 dias, esgotou as reservas de alimentos das agências da ONU. “Os estoques acabaram, as padarias fecharam, as cozinhas comunitárias estão fechando diariamente e as pessoas estão morrendo de fome”, declarou ele.

Gestantes e crianças apresentam maior risco.

Crianças e gestantes apresentam um risco particularmente elevado. Estão previstos quase 71 mil casos de desnutrição aguda em crianças menores de cinco anos entre abril de 2025 e março de 2026, e quase 17 mil mulheres grávidas e lactantes necessitarão de tratamento para desnutrição aguda, conforme o relatório.

Desde o ataque de Israel a Gaza, ocorrido após o ataque do Hamas em 7 de outubro, as pessoas têm se dedicado à coleta de alimentos, consumindo capim e ração animal e bebendo água contaminada. Mães famintas não conseguiram produzir leite suficiente para seus filhos, e os pais lutaram para manter seus filhos vivos, conforme relataram pais e médicos à CNN.

Imran Rajab, uma mãe que reside na cidade de Gaza, relatou à CNN no início deste mês que teve que assar pão com farinha proveniente de uma lixeira para alimentar seus seis filhos.

“Meus filhos estão vomitando depois de comer. O cheiro é horrível”, declarou Rajab. “Mas o que mais posso fazer? O que vou dar de comer aos meus filhos se não for isso?”

A médica ginecologista Amjad Al-Muzaini, que atua em Gaza, afirmou que as mulheres da cidade enfrentam a difícil decisão de priorizar a alimentação de seus filhos ou sua própria saúde, frequentemente optando por sacrificar seu bem-estar para assegurar a sobrevivência.

Durante as cesarianas, identificou-se que as mulheres apresentavam tecidos intestinais e uterinos severamente comprometidos, afirmou Al-Muzaini, provavelmente em razão do consumo de alimentos de má qualidade, notadamente enlatados.

A PMA declarou que possui capacidade para fornecer assistência humanitária que suprirá as necessidades alimentares de toda a população de Gaza por até dois meses. A UNRWA, principal agência da ONU que atende aos palestinos, informou que possui cerca de 3 mil caminhões com suprimentos prontos para serem enviados a Gaza, que permanece bloqueada por Israel.

As famílias em Gaza estão morrendo de fome, com alimentos essenciais parados na fronteira, afirmou a Diretora Executiva do PMA, Cindy McCain, no X. No entanto, o PMA não consegue enviar novas ajudas desde 2 de março.

Ela afirmou que seria tarde demais para esperar a confirmação oficial da fome.

Após o ataque do Hamas em outubro de 2023, que resultou na morte de 1.200 pessoas e sequestro de 251 reféns, Israel iniciou sua guerra em Gaza. A campanha militar israelense causou a morte de quase 53 mil palestinos. Desde que Israel retomou os bombardeios em março, mais de 2.500 palestinos foram mortos, conforme dados do Ministério da Saúde em Gaza.

Fonte: CNN Brasil

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