Nova reforma tributária intensifica a competição no campo da inteligência fiscal e expõe vulnerabilidades internas nas organizações
A carência de mão de obra especializada acarreta o risco de falhas na mudança entre sistemas tributários e obriga gestores a investir em treinamento.

Com a implementação do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), as empresas deverão operar por anos em dois modelos distintos de apuração. Isso demanda equipes preparadas para lidar com a complexidade técnica, alterações legais e ferramentas digitais.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
A preocupação com a execução tornou-se mais evidente com a proximidade da primeira fase da implementação.
O diretor-executivo do Grupo Assertif, José Guilherme Sabino, destaca que o principal desafio das empresas reside na falta de profissionais aptos a converter as normas da reforma em procedimentos eficientes. “O erro, ou acerto, será humano. A complexidade técnica da reforma demanda mais do que conhecimento jurídico, exige equipes capazes de aprender, interpretar e adaptar-se rapidamente às novas regras”, declara.
LEIA TAMBÉM:
● Mercado global de beleza negra projetado para atingir US$ 31 bilhões até 2034
● Explore os benefícios menos conhecidos de ser Microempreendedor Individual e como utilizá-los
● Em 2025, a inteligência artificial será uma prioridade para 67% das empresas no Brasil
Riscos da transição simultânea
No período de transição, o Brasil manterá o funcionamento simultâneo de dois sistemas tributários: o sistema vigente, que se baseia em ICMS, ISS, PIS e Cofins, e o novo, que concentra a tributação no IBS e na CBS. Essa coexistência acarreta um aumento da demanda por trabalho técnico e operacional.
Os riscos importantes incluem falhas na configuração de sistemas de gestão (ERP), perdas de créditos tributários e o aumento da exposição a ações judiciais. Adicionalmente, há riscos de erros na apuração e na entrega de obrigações acessórias, o que prejudica a gestão financeira. Um ponto crítico também é a qualidade dos dados contábeis, que pode ser afetada negativamente em processos mal organizados.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Não faz sentido investir em sistemas fiscais avançados se não houver uma equipe devidamente capacitada para utilizá-los com eficiência, afirma Sabino.
A procura por profissionais com habilidades em diversas áreas tem aumentado.
A reforma demanda profissionais com expertise jurídica, habilidade para interpretar regulamentos em atualização contínua e domínio tecnológico. Contudo, a união dessas competências é incomum no mercado. Essa questão se intensifica com a pouca atratividade dos setores fiscais para as novas gerações de trabalhadores.
Segundo o relatório 2025 Gen Z and Millennial Survey, da Deloitte, até o final da década, 74% da força de trabalho global será composta por jovens das gerações Z e millennial. No entanto, apenas 6% da Geração Z almeja assumir cargos de liderança sênior. A maioria procura por aprendizado contínuo, impacto social e autonomia.
Essa atitude se distingue do padrão usual das zonas francas, caracterizadas por estruturas hierárquicas e limitada adaptabilidade.
Falta de suporte adequado para o crescimento profissional.
O estudo da Deloitte revela que 50% da Geração Z e 48% dos millennials desejam maior suporte em sua qualificação. Em contrapartida, apenas 36% e 32%, respectivamente, relatam recebê-lo. Essa disparidade compromete a formação de profissionais técnicos aptos a enfrentar a nova realidade da tributação.
Para Sabino, a manutenção de talentos requer estratégias que englobam programas de desenvolvimento, mentoria interna e maior participação em projetos de adequação à reforma.
A nova geração não busca apenas segurança, mas sim um propósito. Isso exige que as empresas desenvolvam ambientes de aprendizado e atuação que incentivem a participação ativa desses profissionais.
Empresas estão demoradas na formação de equipes.
Em 2024, a Assertif organizou um seminário sem custo, com ênfase na preparação técnica para obras de reforma. O evento abordou assuntos como simulações de impacto tributário, o emprego de ferramentas de split payment e a conexão com os controles determinados pelo Comitê Gestor do IBS (CG-IBS).
A empresa afirma que poucas organizações estão avançando na capacitação de suas equipes com a mesma intensidade com que investem em sistemas tecnológicos.
A proteção fiscal do futuro demanda um novo tipo de profissional, mais resistente, adaptável e com uma compreensão abrangente da cadeia de valor, afirma Sabino.
Recomendações para lideranças empresariais
Para diminuir os riscos ligados à alteração do sistema tributário e combater a escassez de profissionais qualificados, a Assertif propõe quatro medidas urgentes:
Identificar as habilidades técnicas e os atributos comportamentais das equipes em vigor.
Criar caminhos de treinamento voltados para o novo modelo de tributação.
Promover o intercâmbio de saberes entre diferentes gerações por meio de iniciativas de mentoria.
Integrar jovens talentos na reformulação dos processos fiscais.
Segundo Sabino, a preparação das pessoas será determinante para assegurar a segurança e a eficiência da transição.
A nova equação do valor fiscal é evidente: conformidade mais pessoas igualam a proteção estratégica. A reforma é jurídica, mas a execução é humana.
Fonte: Carta Capital