Novos Dados Revelam Circulação de Vírus em Baleias no Ártico
Um estudo inovador, conduzido por cientistas, trouxe à tona informações cruciais sobre a saúde das baleias. Utilizando drones equipados com placas de Petri esterilizadas, os pesquisadores conseguiram coletar e analisar o ar exalado por baleias no Ártico.
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Essa técnica revolucionária permitiu confirmar a presença de um vírus potencialmente fatal para esses animais, indicando que o morbilivírus cetáceo já circula acima do Círculo Polar Ártico, uma área que antes era considerada estratégica para a conservação marinha.
O método, aplicado em cachalotes (Megaptera novaeangliae), baleias-comum (Balaenoptera physalus) e cachalotes (Physeter macrocephalus), representa um avanço significativo no acompanhamento da saúde desses grandes cetáceos. Ele elimina a necessidade de captura ou de procedimentos invasivos, um ponto crucial para o bem-estar dos animais.
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Terry Dawson, professor do King’s College London, e um dos autores do estudo, destacou que o uso de drones permite identificar patógenos em animais vivos sem causar estresse ou danos físicos. As coletas foram realizadas no norte da Noruega, na Islândia e em Cabo Verde, onde os drones eram posicionados sobre os espiráculos das baleias no momento em que elas subiam à superfície para respirar, capturando gotículas respiratórias que foram analisadas em laboratório.
Além das amostras coletadas diretamente dos espiráculos, os pesquisadores também utilizaram secreções nasais, biópsias de pele e, em um caso específico, material obtido diretamente do espiráculo. Os resultados, publicados na revista científica BMC Veterinary Research, confirmaram a presença do morbilivírus em grupos de baleias-jubarte no norte da Noruega, em um cachalote que apresentava sinais de debilidade e em um indivíduo adicional.
Entendendo o Impacto do Vírus
O morbilivírus cetáceo é altamente contagioso e pode infectar diversas espécies de cetáceos, como baleias, golfinhos e botos, causando danos graves aos sistemas respiratório, neurológico e imunológico. Identificado pela primeira vez em 1987, o vírus já foi associado a diversos episódios de encalhes e mortalidade em larga escala ao redor do mundo.
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A comprovação de sua circulação em regiões árticas aumenta as preocupações, especialmente durante o inverno, período em que grandes concentrações de baleias se reúnem para alimentação em áreas que também recebem a influência de correntes marítimas.
O patógeno chama a atenção pela facilidade de transmissão e pela capacidade de infectar múltiplas espécies, o que amplia seu alcance geográfico.
Monitoramento Contínuo e Desafios
Um fator crítico é a dificuldade de identificação precoce. Em muitos casos, os animais infectados apresentam sintomas discretos ou pouco específicos, o que contribui para a disseminação silenciosa dentro de grupos sociais densos. Quando os sinais clínicos se tornam evidentes, o vírus costuma já estar amplamente disseminado.
O morbilivírus também compromete o sistema imunológico dos cetáceos, aumentando a suscetibilidade a infecções secundárias e a outros agentes patogênicos presentes no ambiente marinho.
Do ponto de vista da gestão ambiental, não existem vacinas ou tratamentos disponíveis para populações selvagens de cetáceos. Assim, a vigilância contínua permanece como a principal estratégia de mitigação. A detecção do vírus em áreas árticas reforça a preocupação de que regiões antes consideradas relativamente isoladas passem a integrar a dinâmica global de disseminação do patógeno, com possíveis efeitos de longo prazo sobre espécies já pressionadas por mudanças ambientais aceleradas.
Além do Morbilivírus: Outros Vírus Identificados
Além do morbilivírus, o estudo identificou a presença de herpesvírus em baleias-jubarte na Noruega, Islândia e Cabo Verde. Não houve detecção do vírus da gripe aviária nem da bactéria Brucella sp., ambos já associados a encalhes de cetáceos em estudos anteriores.
Para os pesquisadores, os resultados reforçam a importância de um sistema integrado de vigilância da saúde dos oceanos, considerando que agentes infecciosos podem atuar em conjunto com fatores como aquecimento global, poluição e alterações na oferta de alimento.
A expectativa é que o uso recorrente de drones permita a identificação antecipada de riscos sanitários, antes que surtos atinjam populações inteiras. Helena Costa, autora principal do estudo e pesquisadora da Nord University, prioriza ampliar o monitoramento de longo prazo para compreender como múltiplos fatores de estresse podem influenciar a saúde das baleias nos próximos anos.
