A Netflix disponibilizou a minissérie “O Eternauta”, que se consagrou como o título mais assistido na plataforma, inspirada na narrativa em quadrinhos argentina de mesmo nome, de Hector Oesterheld. A trama acompanha Juan Salvo, um indivíduo que fica confinado em sua residência com familiares e amigos em decorrência de uma tempestade de neve letal.
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Por trás da obra clássica, o principal escritor de ficção científica da Argentina teve um final trágico: foi sequestrado pela ditadura militar em 1977.
A história de “O Eternauta”, de Hector Oesterheld com desenhos de Francisco Solano López, surgiu inicialmente na revista Hora Cero Semanal, em 1957, conforme noticiado pelo jornal argentino Clarín. O primeiro livro foi publicado entre 1957 e 1959.
A trama absorveu influências internacionais vigentes na época, incluindo a tensão pós-Segunda Guerra Mundial, a corrida espacial e o receio de armas nucleares. Na primeira publicação, o tom político não era tão proeminente.
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Em 1969, os editores da revista Gente solicitaram uma segunda versão de “O Eternauta”, conforme pesquisa de Fabio Bortolazzo Pinto, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, publicada na revista Extraprensa. Nessa edição, o estudioso observou que o tom político da narrativa se tornou evidente.
A temática abordada no roteiro de 1957, transforma-se em denúncia explícita no de 1969, segundo o pesquisador.
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A publicação desta versão ocorreu alguns anos antes do golpe militar na Argentina, que se deu em 24 de março de 1976, instaurando a ditadura no país. O período foi marcado por perseguições políticas a estudantes, sindicalistas, ativistas e pela tortura, conforme consta no site da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP).
Héctor Oesterheld e suas quatro filhas – Diana, Estela, Beatriz e Marina, nascidas do relacionamento com Elsa Sánchez – eram ativistas políticos. Eles integraram o grupo Montoneros, uma organização política-militar argentina em oposição ao regime militar.
Todos foram sequestrados e desapareceram em 1977, cerca de 20 anos após a primeira publicação de “O Eternauta”. Os corpos de Jorge Amado e de suas filhas nunca foram localizados, conforme relatado pelo Clarín.
A tradução da obra para diversos idiomas, segundo pesquisadores consultados pelo jornal, sugere que Héctor Oesterheld desconhecia o alcance de seu sucesso — e que não se tornaria o autor de ficção científica mais importante do país latino-americano. Na Argentina da época, as histórias em quadrinhos eram consideradas marginalizadas, conforme noticiado pelo Clarín.
A Netflix disponibilizou, com seis episódios, a minissérie “O Eternauta”. A produção conta com Ricardo Darin, ator premiado, famoso por filmes como “O Segredo dos Seus Olhos” (2009) e “Relatos Selvagens” (2014).
Assista ao trailer de “O Eternauta”.
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Fonte: CNN Brasil