O INSS apura denúncias de que entidades utilizam gravações e informações falsas para comprovar a existência de vínculos empregatícios
Idosos relatam para a CNN que as gravações são adulteradas, com informações como o nome apresentando erros.

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) iniciou a resposta aos aposentados e pensionistas que alegaram não ter concordado com descontos associativos de entidades. Contudo, essas respostas levantaram novos questionamentos sobre a validade dos documentos apresentados.
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A CNN recebeu três respostas de associações distintas, que apresentaram os respectivos acordos enviados ao INSS.
Em uma das denúncias, apresentada pela aposentada Maria Lúcia Braga, residente no Distrito Federal, existe uma gravação em que, supostamente, ela teria concordado com os descontos. A gravação, de pouca qualidade, mostra a idosa afirmando “sim” e, ao iniciar a comunicação do CPF, é interrompida pela atendente da União Nacional dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (UNSBRAS/UNABRASIL).
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A mulher afirma que a gravação é falsa e que não autorizou os descontos, sequer sabendo do que se tratava. O filho da aposentada também relatou à reportagem que o “sim” do áudio não é a voz da mãe.
Em outras ocasiões, os documentos enviados pela Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos (AMBEC) continham áudio falso e termos de filiação com informações incorretas.
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Os dados encaminhados pela AMBEC, sob o nome de Varlinete Soares da Silva, contêm o nome de Joseliete Nogueira Nery. O CPF indicado é o de Varlinete. Adicionalmente, outros dados também estão incorretos, incluindo o endereço: a senhora reside em Brasília, mas o documento mencionava Salvador.
A ex-servidora afirma que a gravação divulgada pela associação é falsa, contendo dados incorretos, incluindo nome, CPF e até a voz, que não é a sua.
Varlinete informou que os descontos iniciaram a ser aplicados em seu nome em outubro de 2023, porém ela identificou a questão após a operação da Polícia Federal que expôs o esquema.
Foram cobrados R$ 45 ao longo de 18 meses, totalizando R$ 810 descontados de forma irregular da aposentada.
Outro pensionado teve deduções realizadas pela Associação de Amparo Social aos Aposentados e Pensionistas (Aasap) e recebeu informação de que já havia sido cancelado do registro e que o valor foi restituído no final do ano anterior. O idoso contesta não ter recebido qualquer quantia.
A entidade Aasap sequer demonstrou, no processo encaminhado ao INSS, que o idoso contratou e consentiu com os descontos.
Escute os áudios:
Além dos call centers responsáveis por ligações em massa, as entidades utilizaram uma ferramenta mais sofisticada para aplicar os chamados “descontos associativos” aos aposentados do INSS: robôs.
A estratégia utilizou dois recursos separados: a Unidade de Resposta Audível Digital, designada como URA, e chamadas robocall com comando de voz e resposta automática.
A partir de agora, os aposentados e pensionistas podem responder pelo “Meu INSS” se concordam, no máximo em 30 dias após o recebimento da resposta.
O idoso ou beneficiário pode apresentar sua solicitação pelo aplicativo Meu INSS ou em uma agência dos Correios.
A CNN contatou o INSS em dois dias para confirmar se o órgão está investigando os dados apontados como incorretos e as gravações supostamente falsas.
A reportagem aguarda posicionamento das entidades.
Esquema de fraude bilionária
Em abril deste ano, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União iniciaram a operação Sem Desconto, que revelou um esquema fraudulento de bilhões de reais em descontos de folha de pagamento.
Dez entidades que possuíam vínculo contratual com o INSS foram canceladas automaticamente. Seis indivíduos foram detidos na operação. Após outras etapas, mais dois investigados foram presos, seus bens foram apreendidos e as investigações seguem em curso.
Fonte por: CNN Brasil