O jato particular do Catar pode gerar problemas para os Estados Unidos?

A Boeing 747 necessitaria de desmontagem e modernização para incorporar recursos de segurança avançados; a realização desse processo demandaria vários anos.

15/05/2025 15h56

5 min de leitura

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(Imagem de reprodução da internet).

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve concluir nesta semana sua primeira viagem ao Oriente Médio durante seu mandato. Uma das paradas foi o Catar, país envolvido em uma controvérsia relacionada a um avião.

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As nações ricas do Golfo Pérsico desejam oferecer a Trump um Boeing 747 de luxo, estimado em pelo menos US$ 250 milhões, o que equivale a mais de um bilhão de reais.

O republicano afirmou que deseja aceitar o presente e utilizá-lo como o novo meio de transporte aéreo do presidente dos Estados Unidos, mas quer levá-lo com ele após deixar a Presidência.

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Desde o início de seu governo, Trump defende a necessidade de uma nova frota para o Air Force One, apelido utilizado para os aviões empregados pelo presidente dos Estados Unidos. A frota existente remonta à década de 1990.

Trump propôs um novo design para a aeronave, substituindo a cor azul clara e branca. Realmente, existe uma nova frota em produção após um contrato de grande valor com a Boeing, porém a conclusão está prevista para 2027, durante o período atual do mandato do republicano.

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Além de ser um símbolo de poder do governo americano, a Air Force One representa um importante meio de proteção para o líder da nação mais poderosa do mundo.

Converter uma aeronave de origem incerta em um “Trem Branco Voador” demanda uma sequência de questões de segurança e logística.

Desmontagem e reformas

A frota atual do Air Force One foi desenvolvida pela Boeing, com a produção sendo supervisionada por autoridades americanas, em especial pelo Serviço Secreto e pela Força Aérea.

O monitoramento do trabalho garante que todas as especificações de segurança sejam cumpridas integralmente.

Não se trata do caso do avião que o Catar deseja entregar aos EUA. Assim, antes de sua utilização segura, segundo analistas de segurança entrevistados pela CNN, seria imprescindível desmontar a aeronave para confirmar a ausência de dispositivos de vigilância ou qualquer elemento que ponga em risco a segurança do voo.

Adicionalmente, o Boeing do Catar, embora seja uma aeronave de alto luxo, não possui os recursos de segurança utilizados na Air Force One.

Inclui um sistema de comunicações avançado e seguro, radares sofisticados, proteção contra mísseis e blindagem contra ataques eletromagnéticos.

O interior oferece uma suíte para o presidente, salas de reunião, além de uma sala de cirurgia com médico disponível em todas as viagens, em caso de emergência.

A desconstrução e as reformas poderiam demandar de vários meses a dois anos, apontam especialistas citados pela CNN. O investimento seria na ordem de centenas de milhões de dólares.

O uso de uma aeronave proveniente de outro país, em uma função tão delicada, já constituiria um entrave à segurança.

Apesar de não ser uma nação inimiga, o Catar não goza de boa reputação entre muitos políticos americanos devido aos vínculos que mantém com o Hamas, ao acolher lideranças do grupo palestino.

Reabastecimento no ar

Além de transportar o presidente, a Air Force One também é considerada um instrumento de proteção do líder.

Em caso de ataque aos Estados Unidos, a utilização do presidente em um avião e a decolagem podem ser a medida mais segura, conforme estabelecido em cada cenário. Essa é a maneira que a Casa Branca assegura para garantir a continuidade do governo durante uma crise.

O Boeing 747 se transformaria, então, no local de onde o presidente emitiria comandos para liderar o país após uma catástrofe.

Caso um pouso seja evitado devido a um ataque no solo, a segurança do presidente se torna a principal prioridade das Forças Armadas. Para isso, a aeronave necessita de reabastecimento em voo, o que, pelo menos teoricamente, torna a autonomia do Air Force One ilimitada.

O processo, denominado REVO (reabastecimento em voo), é frequente na aviação militar. Um avião-tanque se aproxima da aeronave e dispara um dispositivo que se conecta à parte dianteira, transferindo combustível.

Este recurso é essencial para o funcionamento da aeronave Air Force One. Contudo, não está disponível na aeronave Boeing do Catar e sua implementação seria logisticamente complexa.

Questões éticas e legais

Presentes recebidos por funcionários federais americanos, incluindo o presidente, de outros países podem gerar diversas questões éticas.

Atualmente, a legislação americana permite que um servidor permaneça com um presente desde que o valor não ultrapasse US$ 480, inferior ao preço do Boeing adquirido no Catar, que é de US$ 250 milhões.

Apesar disso, a Casa Branca afirma que o avião não é um presente para Trump, mas sim um símbolo da nação americana. O presidente já declarou que pretende incluir a aeronave em sua biblioteca presidencial, que reúne os bens acumulados pelos presidentes após o término de seus mandatos.

Em Washington, avalia-se que o Catar não ofereceria uma aeronave de luxo como um ato de caridade, sem esperar retribuição, o que poderia gerar mais dúvidas.

Ademais, a questão de conflitos de interesse é considerada, visto que o grupo de empreendimentos imobiliários da família Trump está em franca expansão nos países do Golfo, incluindo o Catar.

No país, está previsto o projeto de construção de um campo de golfe, liderado por um conglomerado sob o comando do filho de Trump, Eric, em colaboração com uma empresa vinculada à família real do Catar, a mesma que busca oferecer o Boeing de luxo a Trump.

A procuradora-geral dos Estados Unidos, Pam Bondi, nomeada por Trump, declarou que o presente está “acima de qualquer suspeita” e está buscando que ele seja doado regularmente ao presidente.

Antes de ser designada para o governo, Bondi atuou como lobista a favor do Catar.

Apesar de os obstáculos legais e éticos relacionados à doação do avião do Catar serem solucionados, Donald Trump dificilmente começaria a utilizar a aeronave ainda em 2024, devido às questões de segurança e logística que demandariam resolução.

Fonte: CNN Brasil

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