O mercado de trabalho permanece aquecido e deve continuar com altos níveis por mais tempo
Setor exibe resiliência frente ao novo ciclo de aumento das taxas; economistas avaliam que os dados do Pnad Contínuo e do Caged não devem influenciar a decisão do Copom nesta quarta-feira (7).

Os dados do mercado de trabalho apresentaram piora no mês de março em comparação com os resultados de fevereiro, embora analistas apontem que a economia brasileira permanece aquecida, apesar do ciclo de alta dos juros iniciado em setembro do ano passado.
Especialistas consultados pela CNN afirmam que a taxa de desemprego deverá ser a última a sofrer os impactos das altas taxas. Contudo, esses reflexos começarão a se manifestar de maneira mais acentuada a partir do segundo semestre do ano.
Com o desemprego em 7%, registrado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou a criação de 71 mil vagas de emprego no mês, o pior desempenho desde 2020.
Contudo, o departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco afirmou que “mesmo com a desaceleração em março, os dados do mercado de trabalho ainda apontam para um crescimento expressivo da atividade econômica no primeiro trimestre”.
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A retomada do crescimento econômico ocorre mesmo com as altas taxas de juros aplicadas no país. Em março, o Banco Central (BC) aumentou a Selic – a taxa básica de juros do país – para 14,25% ao ano, o maior valor desde 2016.
Os juros são o principal instrumento que o Banco Central utiliza para controlar a inflação do país. Ao aumentar a taxa Selic, a autoridade está, na prática, “encarecendo o dinheiro”. Aumento do custo do crédito, para obtenção de empréstimos, e, redução da demanda, o que leva à diminuição dos preços.
Economistas consultados pela CNN explicam que os impactos de um cenário de desaceleração ou aceleração econômica são sentidos tardiamente no mercado de trabalho.
Devido ao fato de as empresas geralmente buscarem evitar mudanças bruscas, considerando que contratações e demissões geram altos custos.
Em geral, as empresas, sobretudo no setor industrial, tendem a manter a mão de obra empregada pelo maior tempo possível devido à escassez de profissionais qualificados, conforme explica Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Mesmo com uma desaceleração econômica, ainda haverá uma geração líquida de empregos, e o desemprego não será afetado de forma tão imediata, conforme aponta.
Guilherme Gaburo, economista-chefe da Wave Capital, destaca que os dados divulgados na quarta-feira (30) ainda demonstram o ritmo de crescimento do país.
Ele estima que o impacto da política monetária do Banco Central se reflita no mercado de trabalho em torno do segundo semestre do ano em curso.
Indicadores de resfriamento
O mercado de trabalho apresenta sinais de arrefecimento. Ao longo das últimas leituras, observamos a ampliação da desaceleração que havia sido inicialmente identificada na economia brasileira, conforme afirma André Valério, coordenador de pesquisa macroeconômica do Inter, em nota divulgada.
Com um padrão mais claro de arrefecimento, os próximos dados serão importantes para entender se o curso de moderação na atividade será característico de um pouso suave ou não, lembrando que o recente aperto monetário do BC ainda deve ser sentido por vários trimestres à frente.
Apesar do resultado indicar que a atividade do mercado de trabalho permanece acima dos níveis históricos, os agentes econômicos esperavam um crescimento significativamente maior.
A análise do Caged indicou a baixa também, mesmo considerando que fevereiro registrou um volume recorde de 431 mil novas contratações.
O mercado projetava, contudo, um resultado próximo de 200 mil empregos. Em relação ao Internacional, a expectativa era de 240 mil novas posições.
A economia está desacelerando? A resposta é sim, porém de forma gradual. Ainda é prematuro afirmar isso, conforme avalia Luiz Fernando Figueiredo, presidente do Conselho de Administração da Jive Mauá e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central.
Figueiredo enfatiza que o mercado de trabalho apresenta uma resposta “atrasada” ao cenário econômico, mas destaca que essas divulgações contribuem para uma série de dados que evidenciam essa desaceleração, embora gradual, da economia.
Nas suas últimas decisões de juros, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central destacava, de um lado, a pressão do mercado de trabalho aquecido como um fator que poderia influenciar em uma inflação mais alta para o país.
forma clara
Do outro lado, passou a destacar o risco de desaceleração da economia como um dos elementos que poderiam motivar a queda das taxas de juros.
Os dados do mercado de trabalho não devem, contudo, influenciar na próxima decisão de juros do Copom, a ser tomada nesta quarta-feira (7).
Ainda estando em um processo de alta das taxas de juros, é preciso analisar muitos indicadores futuros para definir o cenário. Todos os dados são relevantes, e não se trata de um momento decisivo, conforme destaca o ex-diretor do Banco Central.
A decisão de manter a taxa de juros elevada seria um freio mais intenso à economia, considerando que os dados de inflação ainda indicam um cenário preocupante.
Apesar da inflação prévia, o IPCA-15 desacelerou mensalmente em abril, mas, no acumulado de 12 meses, o indicador permanece acima de 5%, ultrapassando a meta de inflação de 4,5% estabelecida pelo Banco Central, cujo centro é 3%.
A demanda do mercado por preços mais altos ainda é alta, mesmo com sinais de desaceleração nas últimas semanas.
Ainda assim, o mercado considera o ciclo de alta da Selic próximo do encerramento, apesar dos dados graduais e iniciais.
O momento é do que chamam de “sintonia fina”, ao final do processo não deve haver mais que duas altas. Isso porque o ambiente externo exige cautela, e quando exige, vai com calma. Há muita incerteza, é um momento de tranquilidade, de ter calma.
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Fonte: CNN Brasil