O Partido Liberal do Canadá obteve a vitória nas eleições federais de segunda-feira (28/4), conforme projeções da Canadian Broadcasting Corporation (CBC), assegurando ao primeiro-ministro Mark Carney um mandato conquistado nas urnas seis semanas após sua posse interina.
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Carney declarou que o Canadá “não pode e não deve jamais esquecer a traição vinda dos EUA”, durante um discurso no parlamento. A afirmação surge em um contexto de crescente tensão entre Ottawa e Washington.
Mark Carney criticou veementemente o apoio de figuras de extrema direita nos Estados Unidos, classificando a interferência como uma ameaça à soberania nacional.
O primeiro-ministro afirmou que o Canadá consolidou sua independência com base em decisões próprias, sem a influência de interesses externos. Ele também advertiu sobre os perigos de alianças com movimentos radicais e políticos que “não valorizam os princípios democráticos”.
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Essa posição reflete uma deterioração nas relações diplomáticas entre os dois países, sobretudo após declarações públicas de apoio ao Partido Conservador por parte de influenciadores norte-americanos próximos a Donald Trump.
Segundo Carney, “a memória da traição deve nos guiar para que não entreguemos nosso futuro a quem não tem compromisso com o bem do povo canadense”.
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A inversão.
A vitória representa uma reviravolta significativa para os liberais, impulsionada, em grande parte, por uma onda de sentimentos nacionalistas e de preocupação com a crescente hostilidade do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Durante a campanha, Trump ameaçou aplicar tarifas sobre produtos canadenses e propôs que o Canadá se tornasse o “51º estado americano”, o que provocou forte reação entre eleitores e analistas políticos.
Na segunda-feira (28), durante as eleições, Trump reiterou a proposta de anexação, afirmando que a “linha divisória” entre os países deveria ser removida, sob o argumento de que isso geraria “vantagens” para o Canadá.
Novo político, experiente em crises econômicas.
Mark Carney, ex-presidente do Banco da Inglaterra e do Banco do Canadá, foi indicado como sucessor de Trudeau na liderança do Partido Liberal em março.
Reconhecido internacionalmente por sua atuação durante a crise financeira de 2008, Carney aposta na credibilidade de seu currículo para conquistar os eleitores.
A campanha apresentou um plano econômico com foco na reinvenção da economia canadense, propondo a redução de tarifas alfandegárias e apoio direto a setores em crise, incluindo a indústria automotiva e a siderurgia, que enfrentam ameaças decorrentes das declarações de Trump.
Ameaças
Em relação às ameaças do vizinho do sul, Carney acumulou vasta experiência lidando com Donald Trump durante seu período à frente do Conselho de Estabilidade Financeira e como membro ativo do G20, período durante o qual acompanhou de perto a atuação do então presidente dos EUA.
Ao coordenar as respostas globais à política econômica da primeira gestão Trump, Carney desenvolveu familiaridade com a postura confrontadora do americano, experiência que agora reforça seu discurso firme diante da retomada de tarifas e declarações provocativas por parte de Trump.
Recentemente, Carney comparou Donald Trump a um vilão de livros de Harry Potter, em referência às declarações do presidente americano sobre transformar o Canadá no 51º estado dos EUA. Sem citar o nome diretamente, o canadense disse que essas falas eram como “comentários de Voldemort”, sugerindo que eram tão ofensivas que preferia nem repeti-las.
Conservadores anunciam cortes e enfrentamento do “woke”.
O líder conservador do Canadá, Pierre Poilievre, propunha um programa de austeridade, que incluía reduções de impostos e despesas governamentais.
Em um tom mais ideológico, criticou o que denominou “ideologia woke”, defendendo a conscientização e o combate a injustiças sociais, incluindo racismo, sexismo e desigualdade, e prometeu uma agenda de valores tradicionais.
Sua proposta foi prejudicada pelas tensões entre o Brasil e os Estados Unidos, bem como pelo aumento da popularidade de Carney entre os eleitores indecisos.
Participação recorde e contagem manual.
Mais de 29 milhões de canadenses foram convocados para votar. O comparecimento foi impulsionado por um número recorde de votos antecipados, com mais de 7 milhões de cédulas depositadas antes do dia da eleição.
A apuração dos votos, como é tradicional no Canadá, ocorre manualmente em cada seção eleitoral, e os resultados finais são consolidados ao longo da noite de segunda-feira.
Apesar da expectativa de que os Liberais formem um governo com maioria, o resultado final ainda depende da apuração de votos por correspondência e de bases militares, o que pode demorar mais tempo.
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Fonte: Metrópoles