A Venezuela realizou no domingo a eleição para governador e oito deputados para o Parlamento de Essequibo, a vasta região rica em petróleo que está em disputa há mais de um século com a Guiana.
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É a primeira vez que a Venezuela visa eleger autoridades para este território de 160.000 km² sobre o qual não exerce controle, visto que a administração é da Guiana.
Ninguém no próprio Essequibo poderá participar. Os locais de votação estarão no estado fronteiriço de Bolívar, onde também vivem os pouco mais de 21.400 eleitores que compõem essa recentemente criada circunscrição, que se encontra sobrerrepresentada em relação à média nacional.
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O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou na quarta-feira que é inabalável a nossa vontade de recuperar os direitos históricos, territoriais e, além da Guiana Essequiba.
Seu homóguia, Irfaan Ali, declarou à AFP que o processo era uma demonstração de “desespero e propaganda” da Venezuela, ainda que tenha reconhecido como uma “ameaça”.
Abaixo, confira o que foi apurado nesta eleição, que elegeu 24 governadores e 285 deputados para o Parlamento sem a participação da oposição majoritária.
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Simbolismo
A Venezuela alega ter recebido Essequibo da era colonial espanhola e, em 3 de dezembro de 2023, realizou um referendo sobre a soberania desse território, ainda que sem a participação de sua população.
Atualmente, no pleito do primeiro governador, que exercerá funções de outro estado e não terá nenhum tipo de autoridade sobre os habitantes dessa região.
“Não há jurisdição nem exercício de soberania”, explicou Ricardo de Toma, pesquisador venezuelano sobre o tema do Essequibo no Instituto Meira Mattos no Rio de Janeiro. “A eleição é simbólica, o mandato será simbólico”.
O cientista político Gabriel Flores, contudo, considera as eleições como um ato estratégico da Venezuela para reafirmar o domínio sobre o território em disputa.
Contenda secular.
O referendo de 2023 resultou na lei venezuelana que estabelece o estado da Guiana Essequiba, e a tensão com a Guiana atingiu um nível tão elevado que houve alertas regionais sobre um possível conflito bélico.
A disputa pela soberania do Essequibo é de longa data, tendo-se intensificado em 2015 após a descoberta de importantes reservas de petróleo pela empresa americana ExxonMobil na área em questão.
A Guiana solicitou à Corte Internacional de Justiça (CIJ) que confirmasse as fronteiras definidas em um relatório de 1899.
A Venezuela, por sua vez, recorre ao Acordo de Genebra, firmado em 1966 antes da independência da Guiana do Reino Unido, que revogava o relatório anterior e estabelecia as condições para uma solução negociada.
Eleitores duplicados
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), questionado sobre supostas ligações com o governo anterior, comunicou que o cadastro eleitoral para o dia 2 de outubro totaliza 21,6 milhões de eleitores.
O site do CNE encontra-se fora do ar desde a madrugada de 29 de julho de 2024, após o conselho afirmar que foi vítima de um ataque cibernético, ocasião em que o presidente Nicolás Maduro foi declarado vencedor da eleição presidencial.
A AFP ficou ciente da lista de 21.403 eleitores da Guiana Essequiba – conforme o estado foi denominado em uma lei de 2024 – dos dois candidatos eleitos.
Eles estão concentrados, inicialmente, em duas paróquias do estado de Bolívar e votarão nas autoridades de ambas as entidades.
O candidato de esquerda é o ex-comandante da Marinha venezuelana Neil Villamizar. Alexis Duarte representa a ala da oposição, que recusou o chamado da líder Marisa Corina Machado para não participar.
Exércitos
O Guiano aumentou sua presença militar na fronteira no período que antecedeu as eleições. Na semana passada, denunciou um suposto ataque às suas tropas na mesma área em que já havia relatado outro em março.
O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino, afirmou: “Não vamos cair em provocações”, incluindo na saudação militar a frase “O sol da Venezuela nasce no Essequibo”.
A presença de um navio de guerra britânico na Guiana em 2023 provocou a mobilização de mais de 5.600 soldados venezuelanos em exercícios militares próximos à fronteira com a área contestada. Nesse contexto, os países vizinhos intervieram para amenizar as tensões.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, advertiu em março que qualquer ataque “não terminaria bem” para a Venezuela.
Fonte: Carta Capital
