O cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Paulo Niccoli Ramirez, classificou o motim promovido por deputados bolsonaristas nesta semana como uma “sabotagem política” e um “sintoma do fundamentalismo político e religioso” no país. “São políticos que não estão preocupados com o Brasil, não colocam o Brasil acima de tudo, mas os Estados Unidos acima de todos, e a ignorância e estupidez como uma regra das suas práticas políticas”, afirma.
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No Senado e na Câmara, apoiadores de Bolsonaro ocuparam as comissões de presidência, o que demonstra o que pode acontecer, pois dificilmente o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), irá prosseguir com o projeto de anistia. Mesmo que seja aprovado, não há apoio suficiente para que isso seja viável, avalia-se.
Niccoli argumenta que a conduta não se qualifica como obstrução, visto que não observou os procedimentos regimentares do Legislativo. “Eles estavam classificando como obstrução uma situação que foi um levante, uma ocupação da mesa diretora da Casa. Isso, obviamente, não pode mais ocorrer. O problema dessa situação é que a polícia legislativa não pode prender, nem instaurar qualquer tipo de processo contra os deputados, devido às inúmeras imunidades parlamentares”, aponta.
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O professor considera que o ocorrido demonstra a vulnerabilidade do núcleo bolsonarista no Congresso. Por que os bolsonaristas não estão nem obstruindo o andamento da agenda, mas sim se revoltando internamente no Congresso? Porque eles não possuem maioria, e sabem que serão derrotados. Isso já havia acontecido na legislatura anterior, quando os bolsonaristas tentaram promover a aprovação da revogação do voto eletrônico, em defesa do voto em papel. Também foram derrotados.
Repercussão negativa e momento de virar o jogo
Para ele, a repercussão pode enfraquecer o campo bolsonarista nas próximas eleições legislativas. “Não é possível que o Brasil esteja refém, e o Congresso também, de indivíduos antidemocráticos que, pela incapacidade de argumentar, de convencer, acabam tomando atitudes mais truculentas. Consequentemente, essa é a imagem que vai ficar para a história”, declara.
Niccoli defende que partidos de esquerda e progressistas intensifiquem a disputa por assentos no Legislativo. “Historicamente, as esquerdas sempre foram muito vulneráveis nessas campanhas legislativas, mas eu diria que este é o momento mais importante da história recente, democrática, em relação ao Congresso brasileiro, porque o grande projeto dos bolsonaristas é povoar, colonizar o Senado e o Congresso e iniciar a aprovação de pautas cada vez mais absurdas”, alerta.
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O cientista político critica a composição atual do Congresso, que considera pouco representativa. Falta diversidade, pluralidade no nosso Congresso e uma representatividade proporcional. Seria até mais justo pensarmos em cotas, pelo menos metade e metade para homens e para mulheres, uma cota para a população LGBT+, para os evangélicos, para os empresários. Isso torna o debate muito mais democrático, ao invés de ser uma monopolização das pautas.
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Fonte por: Brasil de Fato