O vírus da Covid-19 infecta células dos testículos e utiliza seus recursos para se replicar

Estudos com camundongos indicaram que o vírus Sars-CoV-2 emprega células produtoras de testosterona para sua replicação, afetando o metabolismo lipídico.

02/07/2025 15h33

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(Imagem de reprodução da internet).

O vírus da Covid-19 invade a maquinaria celular dos testículos que produzem o hormônio testosterona para se replicar. Além disso, toma posse das vias metabólicas dessas células e do colesterol – precursor da testosterona – modificando o metabolismo lipídico para sua formação. Foi o que pesquisadores da Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual de São Paulo (FOAr-Unesp), em parceria com a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), observaram em testículos de camundongos transgênicos.

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O estudo financiado pela Fapesp identificou, pela primeira vez, a presença de partículas do SARS-CoV-2 nas inclusões lipídicas e organelas responsáveis pela produção de testosterona nas células de Leydig. Adicionalmente, os pesquisadores descreveram o mecanismo pelo qual o vírus interfere no funcionamento dessas células testiculares. A descoberta auxilia na compreensão de por que pacientes do sexo masculino com quadros graves de Covid-19 apresentam redução nos níveis de testosterona e, possivelmente, de colesterol.

Após infectar as células de Leydig, presentes nos testículos, o vírus utiliza as vias do metabolismo lipídico e a estrutura celular para se replicar, o que prejudica a produção de testosterona. Isso ocorre porque essas células, responsáveis por produzir testosterona, expressam altas concentrações do receptor ACE2, facilitando a entrada do vírus, explica Estela Sasso-Cerri, professora da FOAr-Unesp, em Araraquara, que coordenou o estudo publicado na Frontiers in Cellular and Infection Microbiology.

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Adicionalmente, as células são responsáveis por armazenar colesterol – essencial para a síntese de testosterona – e possuem uma maquinaria celular especializada na produção de hormônios esteroides, tornando-se um alvo promissor para a infecção.

A pesquisa utilizou camundongos transgênicos, criados em laboratório, que exibem o receptor viral ACE2. Após a infecção, eles apresentam a Covid-19 de forma análoga aos humanos, possibilitando um entendimento mais aprofundado do mecanismo empregado pelo vírus.

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Verificamos que, tanto no testículo do camundongo transgênico quanto no humano, houve uma alta concentração de ACE2 nos mesmos tipos celulares. O resultado valida o modelo empregado na pesquisa e confirma que o testículo é um órgão alvo do SARS-CoV-2, segundo a pesquisadora.

O estudo demonstrou que o SARS-CoV-2 altera o metabolismo lipídico das células de Leydig. Isso ocorre devido ao fato de que o colesterol armazenado pela célula para a produção de testosterona passa a ser utilizado pelo vírus para sua replicação. Assim, mesmo com a baixa presença de testosterona nas células de Leydig infectadas, elas estavam repletas de lipídios, pois o vírus também induziu um aumento na internalização de colesterol para sua própria replicação e formação.

caráter imunológico

O estudo também revelou alterações no perfil funcional das células de Leydig. Após a infecção pelo vírus, estas cessaram a produção de hormônios esteroides a partir do colesterol e passaram a apresentar um perfil imunológico.

A infecção pelo SARS-CoV-2 também induziu as células de Leydig a produzir citocinas pró-inflamatórias em grande quantidade, um processo que normalmente não desempenham. Esse aumento de citocinas pode ter interferido na produção de testosterona, prejudicando essa função principal.

Com os resultados, o estudo avança na compreensão dos processos celulares e moleculares associados à disfunção endócrina testicular causada pela infecção viral. “Os resultados corroboram os baixos níveis de colesterol verificados clinicamente em pacientes com Covid-19 grave, podendo esclarecer a vulnerabilidade de homens à Covid-19 bem como a alta taxa de mortalidade masculina, em comparação com a das mulheres. O estudo também abre caminho para a elaboração de marcadores que indicam a severidade da Covid-19, bem como de terapias para o tratamento da doença com base em drogas [hipolipemiantes] que interferem no metabolismo lipídico e inibem a ação viral”, afirma Sasso-Cerri.

Fonte por: CNN Brasil

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