ONGs que atendem mulheres correm risco de encerrar atividades
A redução do orçamento de ajuda humanitária dos Estados Unidos impactou 90% das organizações em todo o mundo, segundo a ONU. Programas de assistência à saúde e o combate à violência de gênero foram os mais prejudicados.

Um relatório da Agência das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres identificou que cortes no financiamento de ajuda humanitária internacional podem fechar as portas de metade das organizações que atendem mulheres em situação de vulnerabilidade em todo o mundo.
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A ONU Mulheres aponta que a redução de recursos impacta 90% de 411 organizações não governamentais que operam em 44 países em situação de crise e conflito. Metade delas enfrenta risco de interromper o atendimento nos próximos seis meses. O relatório foi publicado na terça-feira, 13.
O financiamento dessas organizações diminuiu drasticamente após o presidente dos EUA, Donald Trump, suspender a distribuição de bilhões de dólares em programas de ajuda humanitária e desmantelar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
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A política “America First” de Donald Trump já impactou organizações em escala global, incluindo o Brasil, em setores como saúde, assistência a imigrantes e meio ambiente. Em fevereiro, a diretora da Fundação Desmond Tutu para o HIV, Linda Gail Bekker, por exemplo, estimou que os cortes podem resultar em 500 mil mortes na próxima década.
Mesmo antes de tomar posse, os Estados Unidos eram o maior provedor de assistência humanitária global, embora outros doadores internacionais também tenham diminuído seus recursos financeiros.
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“Muitas organizações de mulheres estão agora sendo levadas ao limite”, declarou Sofia Calltorp, diretora do escritório da ONU Mulheres em Genebra. Segundo ela, o movimento americano reduziu o orçamento da instituição em 40 milhões de dólares, impactando diretamente o financiamento de projetos que atendem mulheres e meninas em situação de vulnerabilidade.
No Afeganistão, unidades de saúde feminina foram fechadas devido à escassez de recursos, obrigando mulheres a percorrerem longas distâncias para acessar serviços básicos de saúde.
Calltorp afirmou que, na Ucrânia, mais de 70% das organizações de mulheres relataram interrupções e muitas suspenderam abrigos, assistência jurídica e apoio psicológico para sobreviventes do conflito.
De acordo com o relatório, 62% das organizações pesquisadas já diminuíram seus serviços. As mais afetadas são aquelas que atuam com violência de gênero, seguidas por organizações não governamentais que oferecem assistência médica e recursos de sobrevivência.
Verba para operações de paz
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou nesta terça-feira que as operações de manutenção da paz também estarão em risco se os Estados não cumprirem suas obrigações financeiras.
Falando em uma cúpula ministerial em Berlim que discute as missões de paz, Guterres afirmou que “estes são tempos difíceis para o financiamento do nosso trabalho em todos os setores”. “Infelizmente, as operações de manutenção da paz estão enfrentando sérios problemas de liquidez. É absolutamente essencial que todos os Estados membros respeitem suas obrigações financeiras, pagando suas contribuições integralmente e dentro do prazo”, disse.
O pedido foi apresentado um dia após ele advertir que seriam necessárias “mudanças dolorosas” para enfrentar as restrições orçamentárias impostas pelo governo americano.
O Escritório de Manutenção da Paz das Nações Unidas coordena atualmente 11 operações em países como República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Sudão do Sul, Líbano, Chipre e Kosovo. O orçamento destinado a nove dessas missões para o ano fiscal que encerra em 30 de junho é de 5,6 bilhões de dólares (R$ 31 bilhões), representando uma redução de 8,2% em relação ao ano anterior.
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, assegurou que o país está pronto para destinar recursos suplementares para a manutenção da paz, contanto que as missões sejam mais eficazes e direcionadas.
Fonte: Carta Capital