Outro papa progressista? Quem é Leão XIV, o ‘menos americano dos americanos’?
Ele é visto como mais progressista do que outros cardeais norte-americanos, frequentemente considerados conservadores e opositores do Papa Francisco.

O Papa Leão XIV, cujo nome é Robert Prevost, um agostiniano norte-americano de 69 anos, recordou nesta quinta-feira 8 sua passagem pelo Peru, em suas primeiras declarações após se tornar sumo pontífice. Em espanhol, fez uma saudação à sua “querida diocese de Chiclayo”.
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A seleção de palavras e idiomas na sua primeira aparição pública como papa – falado em italiano, e não em inglês – indicam a posição de Prevost, o primeiro papa estadunidense na história. Ele é considerado mais progressista que outros cardeais norte-americanos, frequentemente vistos como conservadores e contrários ao Papa Francisco. O jornal italiano La Repubblica, por exemplo, o descreveu como “o menos americano dos americanos”.
As primeiras avaliações indicam que Prevost é leal a Francisco, embora mais “moderado” e discreto. Ao jornal The New York Times, o padre Michele Falcone, sacerdote da Ordem de Santo Agostinho (já liderada por Prevost), descreveu o norte-americano como o “meio-termo digno”.
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Ele não comete excessos. “Abraçar bebês, sim. Pegá-los no colo, não”, afirmou. Indica, que o novo papa tem um estilo mais reservado, uma diferença frente ao argentino.
Os agostinianos aderem à vida proposta por Santo Agostinho, sendo considerados membros de uma ordem franciscana, cujas atividades pastorais se concentram na evangelização e no atendimento aos necessitados.
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O padre William Lego, da Igreja de São Turíbio em Chicago, conheceu Prevost quando eram jovens seminaristas em Michigan. “Eles escolheram um bom homem. Ele sempre teve aquela noção de se preocupar com os pobres e tentar ajudá-los”, disse, nesta quinta-feira 8.
Robert Prevost nasceu em Chicago, em setembro de 1955. Ele também possui nacionalidade peruana, tendo sido missionário e arcebispo emérito de Chiclayo.
A eleição do primeiro papa dos Estados Unidos acontece em um momento em que 20% dos adultos no país se identificam como católicos. O cenário é de estabilidade há cerca de uma década. Os católicos, contudo, representam uma parcela maior da população na região metropolitana de Chicago, onde um em cada três cidadãos se identifica com essa religião.
A formação acadêmica de Prevost inclui bacharelado em Matemática pela Universidade Villanova, mestrado em Teologia pela União Teológica Católica de Chicago e doutorado em Direito Canônico pelo Pontifício Colégio de São Tomás de Aquino, em Roma.
Após sua ordenação, em 1982, ingressou na missão agostiniana no Peru, em 1985. Contando diversos períodos, residiu por aproximadamente duas décadas no país, onde desenvolveu e aprimorou seu espanhol.
Após retornar aos Estados Unidos em 1999, retornou ao Peru em 2014, quando o Papa Francisco o nomeou administrador apostólico da Diocese de Chiclayo. Tornou-se Bispo de Chiclayo em 2015 e integrou o conselho permanente da Conferência Episcopal Peruana de 2018 a 2023. Em 2020 e 2021, atuou como administrador apostólico de Callao, no Peru.
Em janeiro de 2023, Francisco nomeou Prevost prefeito do Dicastério para os Bispos, onde ele assessorava o Papa na seleção de bispos. Em 30 de setembro de 2023, o então Papa elevou Prevost ao cargo de cardeal.
Segundo o site especializado College of Cardinals, Prevost se aproxima da visão de Francisco em relação ao meio ambiente e à ajuda aos pobres e migrantes. Ele disse em 2024 que “o bispo não deve ser um pequeno príncipe sentado em seu reino” e que o líder da Igreja é “chamado, de forma autêntica, a ser humilde, estar próximo do povo que serve, caminhar com ele, sofrer com ele”.
O novo papa apoiou a mudança proposta por Francisco para permitir que católicos divorciados recebam a Sagrada Comunhão, porém demonstra menor disposição para buscar o apoio da comunidade LGBT+, em comparação com seu antecessor.
Em um pronunciamento a bispos em 2012, expressou seu pesar quanto à influência da mídia ocidental e da cultura popular, que incentivavam a aprovação de crenças e práticas contrárias ao evangelho, incluindo o “estilo de vida homossexual” e “famílias alternativas compostas por parceiros do mesmo sexo e seus filhos adotivos”.
Em Chiclayo, no Peru, manifestou oposição a um projeto sobre a inclusão de ensinamentos sobre gênero nas escolas. “A promoção da ideologia de gênero é confusa, porque busca criar gêneros que não existem”, declarou, à Época.
Ainda não se conhece, contudo, qual será sua posição a respeito após se tornar o sumo pontífice.
Fonte: Carta Capital