Pacote fiscal do governo Lula careceu de efetividade, afirma ex-diretora do BC

Fernanda Guardado, economista-chefe para América Latina do BNP Paribas, prevê que a dívida pública crescerá nos próximos 10 anos.

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(Imagem de reprodução da internet).

A economista-chefe para América Latina do BNP Paribas, Fernanda Guardado, afirma em entrevista ao Poder360 que as medidas do pacote fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foram suficientes para equilibrar as contas públicas.

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A especialista aponta que a taxa de juros se encontra em níveis elevados devido ao alto endividamento do Brasil em comparação com outros países. Ela afirma que a política fiscal contribuiu para estimular o consumo e dificultou o trabalho do Banco Central no controle da inflação.

Fernanda Guardado, com 45 anos, é economista-chefe para a América Latina do BNP Paribas, a partir de agosto de 2024. Anteriormente, exerceu o cargo de diretora de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, entre 2021 e 2023, nomeada pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

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Ela é economista com doutorado em Economia pela PUC-Rio, onde também já lecionou. Possui uma trajetória profissional sólida no mercado financeiro, com experiência como economista-chefe e economista sênior em diferentes instituições financeiras.

A entrevista foi gravada por videoconferência na quinta-feira (8 de maio de 2025). Assista (29min54s):

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Leia abaixo trechos da entrevista:

A política fiscal do governo Lula contribuiu para sustentar o consumo em patamares de crescimento mais elevados? A nova política do salário mínimo gerou reajustes mais altos, e o funcionalismo também teve seus reajustes. Diversas iniciativas atuaram para sustentar o crescimento e alcançar uma taxa de crescimento mais forte. O ideal, do ponto de vista do arranjo macroeconômico, é que haja essa ajuda da política fiscal, com uma desaceleração no ritmo de gastos para auxiliar o trabalho do Banco Central no futuro.

O pacote fiscal de 2024 foi um avanço importante, limitando o crescimento das despesas orçamentárias, inclusive com a restrição ao reajuste real do salário mínimo. Contudo, não foi suficiente para assegurar o resultado de sustentabilidade das políticas públicas desejado. Espera-se um déficit de 0,7% do PIB, considerando os impactos que afetarão a trajetória da dívida pública. O anúncio da isenção do Imposto de Renda até R$ 5.000 também gera uma necessidade de compensação, cuja natureza ainda não está clara e pode impactar as contas públicas. Do ponto de vista do mercado, medidas insuficientes foram tomadas para garantir que o Brasil esteja em uma trajetória de superávit primário compatível com a estabilização da dívida pública.

A questão dos precatórios, cuja forma de ingresso no orçamento ainda é incerta para 2027, é considerada urgente pelo governo? Quais ações o governo deve tomar nos próximos meses? “Essa discussão vai acabar se impondo de qualquer forma porque ela tem que estar presente, no mínimo, no orçamento da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) do ano que vem.” Acredita-se que o Ministério da Fazenda está ciente, e essas discussões estão em curso. Existem diversas possibilidades, sendo que a preferencial não é conhecida no momento. Contudo, considera-se que se trata de uma questão que se imporá, seja por meio do pagamento dos precatórios no orçamento de 2027, seja por outras medidas que o abordem fora do orçamento, como já ocorreu no passado.

O Brasil investiu R$ 935 bilhões em juros da dívida no período de um ano até março. É sustentável esse patamar para a economia brasileira? Considera-se que a dívida pública possui três dinâmicas principais: o patamar inicial da dívida pública, o serviço da dívida, que inclui os juros cobrados sobre ela, e a necessidade de financiamento do governo, que representa a dívida adicional anual. O Brasil iniciou 2025 com 77% do PIB em dívida bruta, um valor acima da média dos países emergentes em cerca de 20 pontos percentuais. A curva de juros se mantém em patamares elevados devido ao alto nível de endividamento brasileiro.

Como deve terminar esse movimento internacional de guerra comercial? Qual será o impacto dessas tarifas na economia brasileira e também na economia global? “Como vai terminar eu não sei te dizer. Essa é uma das grandes incertezas do momento. É o grande tópico de discussão em todos os fóruns internacionais que eu vou. É a grande pergunta. Onde vamos chegar? Nós temos algumas indicações do que nos aguarda no futuro. O presidente Trump tem batido bastante na tecla de que quer fazer novos acordos, de que vai perseverar nesse caminho de ter pelo menos uma tarifa mínima de 10% e perseverar nesse sentido de diminuir a conexão com a China. Isso vai gerar incentivos no mundo para algumas cadeias de produção serem redesenhadas. E durante esse processo há inevitavelmente uma certa perda de eficiência.”

A sua posição de Diretora de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos foi ocupada por um homem em 2024. Observou-se uma redução no número de mulheres na diretoria do Banco Central. Você acredita que isso representa uma perda de diversidade no Copom? “É uma questão matemática, já tivemos duas mulheres, agora tem uma, mas eu acho que é importante frisar que o diretor Paulo Picchetti, que me substituiu, é uma pessoa excepcional, um economista muito competente. É uma pessoa muito boa e eu acho que isso é muito importante, que nós tenhamos pessoas boas e competentes. É importante que tenhamos mulheres na diretoria do Banco Central também, acho que isso ajuda muito na discussão. Tenho certeza de que no futuro poderemos ter mais”.

Fonte: Poder 360

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