Partido de direita demonstra sinais de estagnação em Portugal

O partido anti-imigração Chega aumentou de 1% para 18% dos votos em cinco anos, porém pesquisas apontam para isolamento como terceira força; o cenário é parecido com o de outros partidos de direita na Europa.

18/05/2025 6h11

7 min de leitura

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(Imagem de reprodução da internet).

Portugal votará neste domingo (18.mai.2025) na segunda eleição legislativa em pouco mais de um ano. As pesquisas apontam para a vitória do governo de centro-direita, com os socialistas em segundo lugar. O Chega, partido de direita, deverá permanecer na terceira posição no Parlamento após uma ascensão rápida desde sua fundação, em 2019.

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Sete meses após sua fundação, em outubro do mesmo ano, o Chega surpreendeu nas eleições. Foi o 7º mais votado, com 1,29% dos votos, e elegeu 1 parlamentar. Na eleição seguinte, em 2022, alcançou 7,2% dos votos e 12 legisladores eleitos, tornando-se a 3ª maior bancada do Parlamento. Em 2024, houve um salto ainda maior: 18,1% e 50 cadeiras.

O crescimento da trajetória do Chega, sob a condução de André Ventura, transformou o partido em uma força política marginalizada, com potencial para liderar a ala mais à direita e apresentar um candidato com reais possibilidades de concorrer à presidência do governo.

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A situação um ano após as eleições de 2024 não é a esperada. As pesquisas de opinião recentes mostram o partido com aproximadamente 17% das intenções de voto. Esse cenário pode indicar que o Chega atingiu seu limite após ter sido a primeira legenda de direita a ocupar uma vaga no Parlamento desde a redemocratização nos anos 1970.

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Uma possível explicação reside no ciclo eleitoral mais breve, de apenas um ano. No entanto, Ventura não soube aproveitar o apoio da Aliança Democrática (centro-direita), partido do primeiro-ministro Luís Montenegro, mesmo após o Parlamento derrubar o governo devido a conflitos de interesses e práticas empresariais ilícitas.

O avanço do Chega ocorre por meio da ampliação do seu público eleitoral. O partido apresenta maior alcance entre homens e jovens, fato frequente em formações mais de direita. Em nível regional, o desempenho do Chega é superior no sul do país.

As pesquisas indicam uma pouca flexibilidade no comportamento dos eleitores. A alcunha de André Ventura já possui os eleitores mais leais. Quase oito em cada dez apoiadores afirmam não ter alterado suas escolhas de voto. Trata-se de um valor cerca de 20 pontos percentuais superior à média dos eleitores portugueses. O dado sugere que a base de votos do partido é consolidada, com pouca chance de adesão da centro-direita.

O teto da Nova Direita na Europa representa uma corrente de pensamento conservadora que defende políticas econômicas de livre mercado, redução do tamanho do Estado e valorização dos princípios tradicionais.

O distanciamento da “nova direita” na Europa contribui para sua exclusão do poder. O atual primeiro-ministro Luís Montenegro já afirmou que não formará aliança com o Chega para governar. Em 2024, a Aliança Democrática assumiu o governo mesmo com um governo de minoria. Uma coalizão com o Chega garantiria mais da metade dos 230 assentos do Parlamento.

É um cenário semelhante ao que ocorreu com a AfD (Alternativa para a Alemanha) e o Vox, da Espanha. O primeiro partido é visto como “extremista” e foi isolado no Bundestag – o Parlamento alemão. O segundo não foi considerado para formar um governo de coalizão com a centro-direita, o que levou os socialistas a manterem o poder em Madri mesmo perdendo as eleições de 2023.

O ponto em comum entre essas novas siglas de direita é o limite que gira em torno de 20% dos votos. A AfD, fundada em 2013, obteve o melhor desempenho nas eleições alemãs de fevereiro, ficando em segundo lugar com 20,8% dos votos, porém foi deixada de lado na coalizão governamental de Friedrich Merz, de centro-direita. O Vox, do mesmo ano, alcançou 12,5% em 2023 – queda de 2,7 pontos percentuais em relação a 2019 – e ocupou a terceira posição no pleito espanhol.

No Reino Unido, está presente o Reform UK, de Nigel Farage. O partido obteve a terceira maior votação com 14,3% na eleição parlamentar britânica de 2024, porém conquistou apenas 5 assentos na Câmara dos Comuns. Nas eleições regionais deste ano, elegeu o maior número de conselheiros em frente aos partidos tradicionalmente Conservador e Trabalhista.

O Irmãos da Itália, liderado pela primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, se distancia das regras. A razão: não está isolado. Fundado em 2012, o partido alcançou o poder nas eleições de 2022 com o apoio de partidos de direita, centro-direita e centro. E, apesar da pauta anti-imigração, possui um discurso mais moderado que Chega, AfD e Vox, por exemplo. Também não é considerado extremista. Essa característica é da Liga, de Matteo Salvini.

Imigração, aborto e ideologia de gênero.

O plano político de André Ventura segue rigorosamente o cardápio de propostas da direita europeia. O candidato do Chega cita como prioridades de sua gestão promover a família, conter a imigração ilegal e combater a cultura woke, a ideologia de gênero e a doutrinação nas escolas.

No primeiro capítulo, intitulado “Fortalecer a família”, Ventura declara que Portugal enfrenta um “inverno demográfico” devido ao “combate ideológico à família”. Ele afirma que a maternidade passou a ser visto como fator de discriminação e que isso é uma das causas do envelhecimento populacional do país.

O Chega se apresenta como um partido “pró-vida” e a principal bandeira é restringir o acesso ao aborto. Uma proposta da sigla para as eleições deste ano é a criação de um fundo de emergência para as famílias que considerem recorrer ao aborto por “razões materiais”.

A defesa da família, para o Chega, também significa lutar pela implementação de uma cultura pró-vida que protege a dignidade inerente a cada ser, em todas as fases da sua vida, desde o momento da concepção até a morte natural.

A imigração ilegal representa um apelo ao programa de Ventura. O candidato afirma ser urgente restabelecer o normal funcionamento da entrada de estrangeiros. Ele defende a readmissão de imigrantes que tenham entrado ilegalmente em Portugal, caso tenham cometido crimes no país ou que não apresentem condições de subsistência até 12 meses.

Uma das sugestões é a criação do Programa Bom Regresso, para ajudar na saída de estrangeiros que não podem realizá-lo com recursos próprios. Refere-se ao aplicativo CBP Home, desenvolvido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano).

Nesta área, Ventura destaca algumas prioridades: 1) restringir a entrada de estrangeiros a quem possua condições, respeite a cultura portuguesa e tenha experiência profissional útil ao país; 2) garantir a atribuição de nacionalidade a quem fale a língua, conheça a história e adote a cultura; e 3) “proteger mulheres da imigração islâmica descontrolada e suas práticas culturais desumanas”.

Finalmente, propõe-se a criação de uma lei que classifica como crime a permanência ilegal em solo português.

André Ventura

O jurista, ex-professor universitário e ex-comentarista esportivo de 42 anos, André Ventura, fundou o partido Chega em 2019 após deixar o PSD de Luís Montenegro. A Época, se mostrou desiludido com a liderança e as decisões da sigla.

Em 2020, foi eleito deputado na Assembleia da República Portuguesa pelo distrito de Lisboa, sendo o único candidato do partido Chega. Ventura alcançou rápida notoriedade através de seus discursos críticos à corrupção e ao “anti-sistema” em Portugal.

O partido, com base na inspiração nos discursos políticos e nos pensamentos de Marine Le Pen, da França, e outros líderes de direita, adotou uma ideia anti-imigração e fortaleceu os valores patrióticos. Ventura também investiu nas redes sociais, com vídeos e propagandas que expõem as ideias da sigla.

Atualmente, Ventura exerce a função de conselheiro de Estado. Ele é visto como uma das figuras mais polêmicas do cenário político português devido ao seu discurso confrontacional em discussões e à sua postura crítica em relação à esquerda.

O político já declarou que impediria a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Portugal se assumisse o cargo de primeiro-ministro.

Eleições em Portugal

Em Portugal, ao contrário do Brasil, prevalece um regime semipresidencialista, onde o primeiro-ministro exerce a função de chefe do Executivo e o presidente é o chefe de Estado.

O chefe de governo português é indicado pelo presidente após consulta aos partidos da Assembleia. O líder da maior legenda ou coligação que obteve a maioria nas eleições legislativas é tradicionalmente nomeado para o cargo. Nas eleições, são eleitos 230 deputados para um mandato de quatro anos.

Os cidadãos com 18 anos ou mais elegíveis votam em partidos ou coligações, e não em indivíduos candidatos. O voto não é obrigatório no país.

Os portugueses decidirão se mantêm a coligação de centro-direita, que busca fortalecer seu poder, ou optam por uma nova orientação com a oposição de centro-esquerda. Questões como economia, habitação, imigração, serviços públicos e o relacionamento com a UE estão no cerne do debate eleitoral.

Após as eleições, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa começará a dialogar com os partidos com representação parlamentar. O novo primeiro-ministro será indicado nas semanas seguintes. Se não houver maioria clara, o processo de formação de governo poderá se estender, demandando negociações e possíveis acordos de coligação.

Fonte: Poder 360

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