Partido Socialista vence eleições nas capitais da Venezuela, oposição obtém apoio em áreas mais ricas da região metropolitana

O governo afirma que o PSUV conquistou 285 prefeituras, enquanto a oposição obteve a vitória em 50 municípios.

28/07/2025 7h22

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(Imagem de reprodução da internet).

O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) obteve a vitória nas eleições para prefeitos nas maiores cidades do país. Caracas, Maracaibo, Valencia, Maracay e Mérida terão novamente prefeitos do bloco de esquerda. Já a direita manteve o poder em seu principal reduto eleitoral, as cidades que concentram a maior parte da renda: Chacao, Lecheria, Baruta e El Hatillo.

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O presidente Nicolás Maduro declarou que o PSUV alcançou 285 prefeituras, um aumento de 212, e expandiu sua área de influência. A oposição, por sua vez, obteve 50 municípios.

Apesar de Maduro ter divulgado o resultado final, o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, declarou às 00h28 de segunda-feira (26) que 82,45% das urnas haviam sido computadas e que, atéquele instante, o órgão eleitoral podia corrigir a eleição de 304 das 335 prefeituras e 2.182 cargos de vereador.

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De acordo com o CNE, cerca de 6,273 milhões de eleitores compareceram às eleições, o que corresponderia a 44% do eleitorado total. Contudo, levando em conta que o número de eleitores inscritos pelo próprio órgão eleitoral era de pouco mais de 21 milhões, a participação efetiva seria de 29%.

O PSUV obteve a mesma vitória nas 24 capitais que alcançou nas eleições de governadores, conquistando 23 mandatos.

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A principal vitória ocorreu na capital do país. Em Caracas, Carmen Melendez obteve 350.995 votos (86%) e será novamente a prefeita pelo PSUV. Conquistar na principal cidade da Venezuela era importante para o chavismo não só ter uma maior incidência sobre um município que move uma parcela importante do dinheiro que circula no país, mas manter o poder em uma cidade que é sede da maior parte dos ministérios.

O Partido Socialista também obteve vitória em Maracaibo, uma cidade com significativo tráfego petrolífero. A capital do estado de Zulia passará a ser governada por Gian Carlo Di Martino, do PSUV, após ter sido controlada pela oposição.

Em pronunciamento após a divulgação dos resultados pelo CNE, Maduro dedicou a vitória ao ex-presidente Hugo Chávez, que completaria 71 anos nesta segunda-feira (28). Ele também lembrou de sua vitória para um terceiro mandato há exatamente um ano e pediu que os prefeitos da oposição respeitem as comunas e a decisão dos circuitos comunitários.

Chávez permanece sempre vivo em nossa luta, em nossa memória e em nossa prática diária. Somos filhos e filhas do que ele plantou em nossos corações e mentes da população. Há um ano estávamos em uma eleição para derrotar o fascismo. Vencemos. Agora dou as boas-vindas aos 50 prefeitos da oposição e peço trabalho, paz, democracia e coexistência nacional. Também peço que eles respeitem o poder comunal, os circuitos comunitários e as comunas.

Para Peña, a vitória do PSUV em três eleições seguidas – presidencial, regional e municipal – demonstra a força de organização e articulação do partido. Ele entende que um dos pontos fundamentais foi a realização das consultas populares das comunas que, neste domingo, foram realizadas de maneira simultânea ao pleito municipal.

Isso confirma a estrutura do chavismo nos processos eleitorais. Já observamos isso nas eleições para governadores e deputados. O chavismo possui um ponto forte que é a organização, que possibilita gerar essa força para conseguir agregar votos. Isso está relacionado ao exercício da política nos territórios. A consulta representa uma espécie de revitalização dessa política nos territórios, declarou ao Brasil de Fato.

Os eleitores votaram em 5.338 projetos para as prefeituras de todo o país, que receberão US$ 10 mil (R$ 56 mil) para serem implementados nos próximos meses. A mobilização das prefeituras resultou em uma vitória expressiva para o PSUV.

No interior do chavismo, essa vitória é vista como uma das mais significativas desde a eleição de 1998 do ex-presidente Hugo Chávez. Espera-se que o PSUV consiga implementar políticas coordenadas entre o Executivo nacional, estados e municípios.

Oposição respira?

Na oposição, o partido que mais avançou foi a Fuerza Vecinal. O grupo, criado em 2021, alcançou a eleição de prefeitos para algumas das cidades mais ricas da região metropolitana de Caracas. Para o cientista político venezuelano Eder Peña, esse voto revela o “interesse de classe”, mas também indica que, quando a oposição apresenta um programa político, ela consegue competir com o chavismo.

Uma oposição que apresenta programa político e participa das eleições tem respiro. A Fuerza Vecinal tem uma estratégia clara de tentar se enraizar nos territórios onde eles sabem que podem ganhar. Vão com toda a força que têm nos espaços onde eles sabem que podem ganhar. É uma estratégia litigiosa. Se parece com o que o chavismo chama de ponto e círculo, de primeiro construir força para depois expandir.

A análise aponta que dois elementos foram cruciais: o movimento de boicote e a cisão na oposição. A direita radical, sob a liderança da ex-deputada ultraliberal Maria Corina Machado, repetiu a tática utilizada na eleição regional, prejudicando o processo eleitoral e fragmentando o cenário.

A oposição, que se encontra dividida, não consegue medir força com o chavismo. Isso se evidenciou nos últimos anos, além de ter adotado estratégias violentas, não conseguiu alcançar consensos. Eles mantiveram força nos locais onde seus eleitores foram votar, municípios onde tradicionalmente exercem o governo. Demonstra-se que não é uma tarefa difícil se organizar para obter vitórias eleitorais. Possuem uma base eleitoral sólida nesses setores da classe média e alguns setores populares que mobilizam.

Outro ponto destacado pelo analista é a incapacidade de obter recursos pela oposição. Ao contrário do Brasil, o financiamento de campanhas eleitorais na Venezuela não é público e os partidos dependem de doações. No caso da direita venezuelana, parte desses recursos originava-se da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAid). Inicialmente, Trump suspendeu o financiamento da agência, o que, segundo Peina, afetou a oposição venezuelana.

A campanha eleitoral da oposição, que concorreu às eleições, não dispunha de recursos, pois a oposição se movia pelos interesses das elites financeiras e empresariais que forneciam dinheiro. Isso foi somado à injeção de dinheiro de ONGs a atores políticos. Todo esse montante foi anulado devido à redução do financiamento da USAid pelos EUA, o que gerou dificuldades para a oposição.

Fonte por: Brasil de Fato

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