PCC e CV: compreenda as causas da rivalidade histórica entre as facções
29/04/2025 às 13h50

A paz entre as duas maiores facções criminosas do Brasil terminou oficialmente. Pouco mais de dois meses após surgirem sinais de uma possível trégua, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) retomaram a guerra que historicamente causou massacres em presídios e disputas violentas por rotas de tráfico em todo o país.
Mensagens conhecidas como “salves” circulam desde segunda-feira (28/4), confirmando o fim da breve tentativa de pacificação. O Ministério Público de São Paulo (MPSP) confirmou à coluna a autenticidade dos comunicados e apontou que eles estão sendo difundidos em diversos estados. Em um dos textos, o PCC oficializa o rompimento afirmando que “chegou ao fim nossa aliança e qualquer compromisso com o Comando Vermelho”.
A facção Comando Vermelho “emitiu uma circular” reforçando normas internas e alertando que qualquer membro que aja em contrariedade ao estatuto seria punido exemplarmente, inclusive sem a aliança em vigor. Em áreas como Santa Catarina, o tom foi ainda mais agressivo: um dos comunicados anunciava guerra aberta contra o PCC, sem margem para negociações ou cessar-fogo.
Verifique as mensagens.
Rivalidade histórica
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A rivalidade entre o PCC e o CV possui origens históricas. O Comando Vermelho, estabelecido em 1979 no presídio de Ilha Grande (RJ), fortaleceu-se no tráfico de drogas e no controle de territórios no Rio de Janeiro. O PCC, surgido em 1993 na Casa de Custódia de Taubaté (SP), expandiu-se rapidamente, transformando-se em uma organização criminosa de âmbito nacional, com características de uma empresa transnacional do crime.
Por anos, as duas facções mantiveram uma relação estratégica, compartilhando rotas de tráfego e influência nos presídios. O rompimento definitivo ocorreu em 2016, após divergências sobre o controle das cadeias e dos territórios de tráfego. A ruptura foi formalizada quando o PCC enviou um “salve” de guerra direcionado a uma das lideranças do CV, Marcinho VP, após o fracasso de uma tentativa de acordo.
A repercussão da ocorrência resultou em um aumento vertiginoso da violência, notadamente em presídios. O incidente mais significativo teve lugar em janeiro de 2017, no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, onde 56 detentos – a maioria associados ao PCC – foram mortos por membros da Família do Norte (FDN), facção ligada ao Comando Vermelho.
Desde então, o conflito entre as facções se espalhou por pelo menos nove estados, provocando massacres, chacais e confrontos armados em comunidades.
Tentativa de pacificação e novo fracasso.
Em fevereiro de 2025, a coluna noticiou em primeira mão informações sobre um possível acordo de não agressão entre o PCC e o CV. A negociação gerou especulações sobre uma divisão de áreas de influência e uma reestruturação do mercado ilícito de drogas, armas e lavagem de dinheiro no país.
Contudo, o acordo não resistiu à tensão entre as lideranças. A circulação recente dos “salves” selou o fracasso da iniciativa. Em vez da consolidação de uma aliança, a retomada da guerra reacende o temor de novos confrontos armados, rebeliões em presídios e uma onda de violência em estados onde ambas as facções disputam território.
Fontes ligadas ao MPSP alertam que a ruptura pode impactar diretamente o cenário criminal em diversas regiões do Brasil, notadamente em locais como São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas e Santa Catarina.
Fonte: Metrópoles