Pesquisa examina os motivos dos produtores para a preservação das florestas

Apenas 9% dos 90 produtores de 13 municípios paulistas entrevistados consideraram o sequestro de carbono um benefício da conservação e 2% mencionaram in…

25/07/2025 16h15

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(Imagem de reprodução da internet).

Uma nova pesquisa buscou identificar os fatores que afetam as decisões de proprietários rurais do Estado de São Paulo em relação à conservação ou ao desmatamento de áreas de preservação em suas terras.

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A pesquisa, conduzida com 90 produtores em 13 municípios e abrangendo o período de 1985 a 2015, demonstra uma situação complexa: apesar de 78% dos entrevistados reconhecerem a falta de água, apenas 9% consideram o sequestro de carbono como um benefício significativo da preservação florestal.

Essa desconexão, somada à baixa disposição para investimentos próprios em restauração ativa, levanta questionamentos cruciais sobre o futuro das florestas brasileiras e a eficácia das políticas ambientais.

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A legislação brasileira estabelece que todas as propriedades rurais possuam áreas destinadas à preservação de florestas. Nas Áreas de Proteção Permanente (APPs) – entorno de nascentes, margens de rios e topos de morro, por exemplo – a vegetação nativa deve ser mantida ou restaurada e protegida de qualquer ação humana.

Já as Reservas Legais correspondem a um percentual da área da propriedade no qual a vegetação nativa ou restaurada pode ser utilizada, desde que de maneira sustentável.

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Essas áreas representam 54% da vegetação nativa restante no Brasil, o que evidencia a relevância da participação de proprietários rurais nas políticas de conservação ambiental.

Compreender os fatores que influenciam as percepções e decisões dos agricultores acerca dos benefícios da floresta pode auxiliar na identificação de elementos que favorecem a conservação e a restauração florestal, além de otimizar o cumprimento da legislação.

Foram conduzidas entrevistas com 90 proprietários rurais de 13 municípios do Estado de São Paulo. A pesquisa abordou três aspectos centrais na relação entre proprietários, as áreas de cobertura florestal obrigatórias em suas propriedades: as motivações para a redução, manutenção ou expansão dessas áreas; os benefícios da sua manutenção ou expansão e a disposição para a restauração florestal em suas terras.

Proprietários de grandes áreas intensificaram o desmatamento no período analisado (1985-2015), apontando como justificativas incentivos governamentais (oferecidos entre as décadas de 1970 e 1980, ainda mencionados), expansão da área agrícola e de renda, e o “interesse humano”.

Em grandes propriedades, a preservação das áreas de floresta, a conservação da água e o cumprimento da lei foram as principais motivações, enquanto em pequenas propriedades, a adequação à legislação e o legado familiar foram prioritários.

Já entre os que ampliaram a cobertura florestal, as razões incluíram o cumprimento da lei, a conservação da água, terras inadequadas para agricultura e a expansão da Área de Proteção Ambiental.

A conservação da água foi o benefício mais frequentemente mencionado. Em 78% das entrevistas, identificamos uma percepção de alteração na disponibilidade hídrica de 1985 até o presente.

Fernandes explica que 89% identificaram diminuição na disponibilidade hídrica, decorrente de causas naturais [como o El Niño], desmatamento, uso inadequado da água, monocultura de eucalipto, assoreamento de rios e altas temperaturas. Os 11% restantes apontaram aumento na disponibilidade, relacionado à proteção de nascentes e à restauração de áreas degradadas.

A grande maioria dos proprietários manifestou disposição em recuperar áreas florestais com apoio financeiro. No entanto, as contribuições apontadas se restringem à proteção das florestas existentes e à manutenção de áreas restauradas. Apenas uma pequena parcela mencionou investir tempo e recursos para adquirir mudas e promover a restauração ativa.

Seleção dos entrevistados

A seleção dos entrevistados considerou municípios com variação na área de vegetação nativa entre 1985 e 2015, uma análise que faz parte do projeto “Compreendendo florestas restauradas para o benefício das pessoas e da natureza”, financiado pelo Programa BIOTA-FAPESP, no qual a pesquisa se insere.

57% dos entrevistados informaram que sua principal fonte de renda provinha da produção agrícola e da pecuária, 31% apenas da agricultura e 12% apenas da pecuária. Milho, soja, cana-de-açúcar, feijão e laranja, além de gado de corte e leiteiro, predominam em fazendas de médio e grande porte, enquanto mandioca, quiabo, alface, ovos, banana e limão são produzidos principalmente em pequenas propriedades.

Setenta e oito por cento dos entrevistados produtores afirmaram fazer parte de cooperativas agrícolas e/ou associações de agricultores, e cinquenta e três percentual indicaram receber assistência técnica para a administração das propriedades.

Implicações práticas

Os resultados indicam que os proprietários rurais paulistas estão bem informados: possuem educação formal, assistência técnica, participam de cooperativas, conhecem suas terras e a legislação. “Ainda assim, não estão totalmente dispostos a contribuir ativamente para a restauração de áreas em suas propriedades, mesmo que seja ordenada por lei”, reflete Fernandes.

Surpreendentemente, não consideravam o sequestro de carbono como algo relevante para esse processo, o que nos leva a refletir sobre a importância de avançar com comunicação e capacitação sobre projetos de restauração e carbono na Mata Atlântica, com destaque para os proprietários rurais e organizações que atuam com restauração no bioma.

Apenas 9% dos produtores entrevistados identificaram o sequestro de carbono como uma vantagem. A pesquisadora destaca que a maioria não demonstra interesse no tema e aqueles que se interessam necessitam de informações sobre o mercado de carbono e como expandir sua renda através da conservação e restauração florestal em suas propriedades.

A recuperação do bioma ocorre nas áreas rurais privadas e os proprietários precisam estar cientes dos benefícios econômicos e sociais associados à captura de carbono, complementa Fernandes.

Outro ponto evidente é que o fator econômico é central nas decisões dos proprietários, explica Cristina Adams, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e uma das autoras d https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/rec.70089?af=R.

Com informações de Érica Speglich, do boletim BIOTA Highlights.

Fonte por: CNN Brasil

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