Pesquisadores e líder indígena debatem sobre o impacto da agricultura em relação ao clima
Pesquisador da Unicamp destaca influência no desmatamento; líder comunitária da aldeia Kalipety descreve a perda de conhecimentos ancestrais.

Na USP, a mesa redonda intitulada “Crise Climática: pontos de não retorno, justiça social e socioambiental”, que fez parte da série de seminários sobre os rumos da esquerda brasileira, reuniu os acadêmicos Luiz Marques e Vladimir Safatle e a líder indígena Jera Guarani. A discussão, realizada na quarta-feira (14.mai.2025), apresentou uma crítica ao agronegócio.
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Os participantes do encontro promovido pela FFLCH consideram que, apesar de benefícios proporcionados por políticas governamentais federais, o setor que representa 23% do PIB nacional exerce influência significativa no aumento do aquecimento global e afeta comunidades tradicionais.
O pesquisador e professor da Unicamp, Luiz Marques, apresentou dados sobre o aquecimento global. Ele afirmou que a média de aumento de temperatura passou de 0,14°C por década antes de 1990 para 0,24°C nas três décadas seguintes. Ele declarou que 21 dos últimos 22 meses já registraram temperaturas médias acima de 1,5°C em relação ao período pré-industrial, o que pode indicar a entrada do planeta em um “novo estado climático”. Segundo o professor de 73 anos, “não há mais chance de manter o aquecimento abaixo de 1,5°C”, como estabelece o Acordo de Paris.
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Nesse contexto, Marques destacou o papel do agronegócio da mudança climática. “Mais de 90% do desmatamento na Amazônia tem como destino a criação de pastagens”, afirmou. Para o acadêmico, o setor “é o inimigo número um da sociedade brasileira”.
O professor de filosofia da USP Vladimir Safatle, 51 anos, afirmou que a esquerda não identificou os desafios do desenvolvimento e não propôs soluções. Safatle criticou o emprego de combustíveis fósseis e a promoção do agronegócio por meio dos Planos Safra, que financiam o setor anualmente.
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Jera Guarani, educadora de 44 anos da aldeia Kalipety, declarou que o agronegócio impacta os povos originários “não só ao desapropriação da terra, mas também [minando] as práticas e conhecimentos tradicionais”.
Ela relatou dificuldades enfrentadas por sua comunidade devido à mudança climática. “Ano atrasado, perdemos grande parte de nossa plantação de batatas tradicionais por causa do calor fora do normal. Ontem mesmo, às 11h da manhã, senti o sol queimar minha pele.” Isso não era comum naquela época do ano.
A série de seminários “O futuro da esquerda brasileira” iniciou na segunda-feira (12.mai) e se estenderá até quinta-feira na Cidade Universitária, na zona oeste de São Paulo. Segue a programação completa (PDF – 5 MB).
Fonte: Poder 360