Petrobras analisa a possibilidade de retornar ao negócio de distribuição devido ao aumento nos preços da gasolina
A empresa de petróleo diminuiu a produção de combustíveis em suas unidades de refino em 17,5% desde 2023, contudo, os preços nos postos de combustível a…

A alta nos preços dos combustíveis em postos brasileiros, mesmo com a queda dos valores nas refinarias nacionais, tem levado a Petrobras a considerar o retorno ao setor de distribuição e comercialização de gasolina, diesel e gás de cozinha.
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No início do mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levantou a suspeita de que postos de combustíveis do país estão enganando consumidores ao não repassar reduções de preços anunciadas pela estatal. Dias depois, circularam notícias de que o Conselho de Administração da Petrobras votaria uma proposta para que a empresa fosse autorizada a retomar a revenda de derivados.
A Petrobras comunicou ao mercado que o tema não constava da pauta do conselho, instância responsável pelas decisões mais relevantes da empresa. No entanto, alguns membros do conselho defendem a retomada da distribuição.
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Rosangela Buzanelli, representante dos funcionários da Petrobras no órgão decisório da estatal, é uma das integrantes. A conselheira, que ocupa uma das 11 vagas, já defendeu a retomada da distribuição em artigos e confirmou sua posição em entrevista ao Brasil de Fato na quarta-feira (30).
Buzanelli declarou defender que a Petrobras opere na distribuição e revenda, além de retomar projetos de produção de fertilizantes e na área petroquímica, ressaltando que a estatal abandonou esses setores devido a decisões políticas que culminaram na privatização de parte de suas subsidiárias.
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Privatizações
Magda Chambriard, diretora da Petrobras, também ocupa lugar no conselho. Ela não declarou que a Petrobras deveria retornar à distribuição. Em maio, contudo, manifestou preocupação com o impacto das privatizações sobre os preços dos combustíveis.
Para Chambriard, a Petrobras “perdeu o controle” sobre os preços dos combustíveis. “A Petrobras era uma empresa verticalizada. Produzia petróleo, refinava seu petróleo e entregava combustível ao consumidor final. Hoje ela não faz mais isso”, afirmou, em entrevista coletiva.
Além de explorar, produzir e refinar petróleo, a Petrobras também distribuía e revendia combustíveis até 2019, quando ainda era dona da BR Distribuidora. A empresa foi privatizada em duas fases, em 2019 e 2021 – ambas durante o governo de Bolsonaro. Acabou mudando seu nome para Vibra, mas ainda ostenta a marca BR.
A Petrobras também distribuía e vendia gás, por meio da Liquigás. A subsidiária também foi privatizada, em 2020, durante o governo Bolsonaro. Consequentemente, foi incorporada por um consórcio composto pela Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás.
Com a Petrobras afastada da distribuição, mesmo que ela diminua os preços dos combustíveis que produz, isso não se reflete no consumidor. Dados do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo (Ineep) mostram que, desde janeiro de 2023, o preço médio dos combustíveis vendidos em refinarias da estatal caiu 17,5%. Nos postos, contudo, subiu 21,5%.
A redução dos preços das combustíveis nas refinarias da Petrobras, em muitos casos, não se reflete no consumidor devido à retenção de valores por parte dos elos da cadeia, explicou Mahatma dos Santos, diretor técnico do Ineep, que é favorável à retomada da distribuição de combustíveis pela estatal.
Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), monitora essa “apropriação de valores” regularmente. Dados que ele coletou mostram que, entre outubro de 2020 e maio de 2025, a lucratividade dos distribuidores e postos na venda de gasolina aumentou em 109%. No mesmo período, a margem da revenda do gás de cozinha cresceu em 60% e a venda de diesel, em 53%.
Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), afirma que essa situação indica “uma anomalia no mercado de combustíveis do Brasil”, que é o sexto maior do mundo. Para ele, a atuação da Petrobras na distribuição seria uma solução para o problema, pois fiscalizações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e órgãos de defesa do consumidor não têm surtido efeito para reduzir o preço do produto final.
Como retornar?
O bacelar afirmou que a FUP recomenda ao governo a retomada da Petrobras e da distribuição, uma proposta que foi pautada no programa de governo, durante a transição e também no Conselho [o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável]. Contudo, ele não prevê movimentações significativas para que isso se realize.
Dos Santos afirmou que seria o mais adequado que as subsidiárias da Petrobras vendidas durante o governo Bolsonaro fossem reestatizadas, inclusive porque as privatizações ocorreram sem a aprovação do Congresso Nacional. “Muitos foram vendidos à despeito dos marcos legais estabelecidos no Brasil”, recordou.
Ele, contudo, não vê ambiente político para uma reestratificação. Considera que o mais viável seria a recompra da BR Distribuidora pela Petrobras. Neste caso, contudo, a empresa teria que desembolsar um valor alto, visto que a empresa, que acabou rebatizada de Vibra, é hoje a quinta maior companhia do país. “Não seria algo simples”, admitiu o diretor do Ineep.
Dos Santos também destacou que há a possibilidade da Petrobras desenvolver uma nova empresa ou área de negócios para atuar na distribuição. Na sua comunicação ao mercado, a empresa negou essa possibilidade. “Não existe nenhum estudo para retornar ao setor de distribuição por meio de um projeto *greenfield* [ou seja, novo].”
“Provavelmente devido às cláusulas draconianas no contrato de compra e venda da Vibra. Na privatização, a Petrobras concordou em não atuar no mercado de distribuição por pelo menos 10 anos”, declarou Bacelar, ressaltando que o período se encerra em 2029.
O navio tanque afirmou que a empresa tem a viabilidade de revender combustíveis a grandes consumidores, incluindo o agronegócio, grandes empresas de logística e o setor industrial que utiliza grande quantidade de gás natural. Para ele, essa seria uma primeira etapa.
Ele ressaltou a relevância de que a Petrobras atuasse cada vez mais como uma empresa integrada, operando desde a exploração até a comercialização, da forma que as maiores petroleiras globais já fazem.
Bacelar solicitou o apoio do conselho para avanços nessa direção. “A participação na distribuição é imprescindível. Se isso não está pautado no conselho de administração, deveria estar”, concluiu.
Fonte por: Brasil de Fato