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Por anos, com apoio de Israel, Catar enviou milhões para Gaza


Por anos, com apoio de Israel, Catar enviou milhões para Gaza
(Foto Reprodução da Internet)

Após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, o Catar recebeu críticas de autoridades de Israel, políticos dos Estados Unidos e alguns meios de comunicação por enviar uma grande quantia em dinheiro para ajudar Gaza, região governada pelo grupo radical.

Mas Israel permitiu que tudo isso acontecesse.

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Durante entrevistas com atores israelenses importantes em colaboração com a organização de jornalismo investigativo Shomrim, descobriu que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu continuou a enviar dinheiro para o Hamas, mesmo com preocupações dentro do seu próprio governo.

O Catar prometeu não interromper esses pagamentos. O ministro de Estado das Relações Exteriores do país, Mohammed bin Abdulaziz Al-Khulaifi, disse na segunda-feira (11) que seu governo continuará a fazer pagamentos a Gaza para apoiar a região, como vem fazendo há anos.

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“Nós não iremos mudar a nossa diretriz. O nosso objetivo é continuar ajudando e apoiando os nossos irmãos e irmãs palestinos de forma constante, como temos feito até agora”, afirmou Al-Khulaifi.

Fontes israelenses responderam salientando que sucessivos governos facilitaram a transferência de dinheiro para Gaza por razões humanitárias e que Netanyahu agiu de forma decisiva contra o Hamas após os ataques de 7 de outubro.

Veja o que sabemos sobre esse envio de dinheiro e o papel de Israel na sua facilitação.

Quando foram iniciados os pagamentos no Catar?

Em 2018, o Catar começou a fazer pagamentos mensais à Faixa de Gaza. Cerca de US$ 15 milhões foram enviados para Gaza em malas cheias de dinheiro – entregues pelos catarianos através do território israelense após meses de negociação com Israel.

De acordo com uma fonte do governo israelense que tinha conhecimento da situação, os pagamentos foram iniciados após a Autoridade Palestina, responsável pelo governo na Cisjordânia, ter decidido diminuir os salários dos funcionários do governo em Gaza no ano de 2017.

A Autoridade Palestina não concordava com o financiamento do Catar naquele momento, já que o Hamas afirmava que o dinheiro seria usado para pagar salários de funcionários públicos e para fins médicos.

Israel aprovou o acordo em uma reunião do gabinete de segurança em agosto de 2018, quando Netanyahu cumpria o seu mandato anterior como primeiro-ministro. Mesmo assim, Netanyahu foi criticado pelos seus parceiros de coligação.

O primeiro-ministro apoiou a ideia na época, alegando que o acordo foi feito com a colaboração de especialistas em segurança para trazer tranquilidade ao sul de Israel e impedir uma catástrofe humanitária em Gaza.

Ahmad Majdalani, membro do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina na Cisjordânia, acusou os Estados Unidos de orquestrarem o pagamento. Os EUA estavam cientes dos pagamentos do Catar ao Hamas, disse um ex-funcionário do alto escalão do Departamento de Estado envolvido na região, sob condição de anonimato devido à sensibilidade do assunto.

Segundo o funcionário, o Catar estava disposto a oferecer ajuda financeira à Faixa de Gaza durante a guerra entre Israel e Hamas em 2014. Naquela época, os Estados Unidos deixaram para os israelenses decidirem se aceitariam essa ajuda.

“Concordamos totalmente que era uma decisão dos israelenses se queriam fazer ou não”, afirmou o funcionário.

Por que Israel apoiou os pagamentos?

Segundo os veículos de comunicação em Israel e no exterior, Netanyahu tinha um plano para permitir que a ajuda chegasse a Gaza pelo Catar. A ideia era usar esse apoio para fortalecer o Hamas e equilibrar o poder da Autoridade Palestina, também visando evitar a criação de um estado palestino.

De acordo com funcionários da Autoridade Palestina no passado, o/essas transferências financeiras incentivavam a divisão entre os grupos/facções.

Segundo o major-general Amos Gilad, que trabalhou no Ministério da Defesa de Israel, o plano recebeu apoio do primeiro-ministro, mas não da comunidade de inteligência israelense. Alguns também acreditavam que isso prejudicaria a soberania da Palestina. Além disso, havia a ilusão de que, ao fornecer dinheiro ao Hamas, eles se tornariam dóceis.

Shlomo Brom, ex-vice conselheiro de segurança nacional de Israel, disse ao New York Times que um Hamas fortalecido ajudou Netanyahu a evitar negociações sobre um estado palestino. E acrescentou que a divisão dos palestinos ajudou o premiê a argumentar que não tinha parceiro para a paz na Palestina, evitando assim pressões para negociações de paz que poderiam levar ao estabelecimento de um estado palestino independente.

O ex-funcionário do governo disse que, após a guerra de 2014, Israel decidiu que seria mais vantajoso deixar o Hamas no controle de Gaza, em vez de permitir que vários grupos radicais dominassem a região ou que ela ficasse sem liderança política.

“Percebemos que os israelenses estavam bem com o fato de o Hamas permanecer no poder, embora mais fraco”, disse a pessoa. “Entendíamos que o Hamas era a melhor opção entre várias ruins em Gaza”, explicou o responsável, ressaltando que pelo menos a Autoridade Palestina concorrente poderia impedir o Hamas de controlar a Cisjordânia.

Naftali Bennett, ex-primeiro-ministro de Israel, disse no domingo que, após expressar suas preocupações ao governo de Netanyahu durante seu tempo como ministro da Educação, ele interrompeu as transferências de dinheiro quando assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2021.

“Eu parei de repassar dinheiro porque acredito que era um erro. Não faz sentido permitir que o Hamas receba grandes quantias de dinheiro, que eles usam para se reorganizar e causar danos a Israel. Por que deveríamos dar dinheiro para pessoas que querem nos matar?”, questionou Bennett.

De acordo com o New York Times, os pagamentos em dinheiro foram interrompidos, mas a transferência de fundos para Gaza continuou sendo feita por Bennett.

Um funcionário de Israel disse para que é completamente falso a ideia de que Netanyahu queria manter o Hamas enfraquecido moderadamente, ele agiu para enfraquecer o Hamas significativamente.

De acordo com a autoridade, ele comandou três operações militares fortes contra o Hamas, resultando na morte de muitos terroristas e líderes importantes do Hamas.

“Sucessivos governos israelenses antes, durante e depois dos governos de Netanyahu permitiram que o dinheiro fosse para Gaza. Não para fortalecer o Hamas, mas para prevenir uma crise humanitária, apoiando infraestruturas críticas, inclusive sistemas de água e esgotos, para prevenir a propagação de doenças e permitir a vida diária”.

Netanyahu enfrentou uma reação negativa?

O governo de Netanyahu tem recebido críticas cada vez mais intensas devido ao seu envolvimento e motivos para a resolução.

O acordo de financiamento é uma das razões pelas quais muitos israelenses atribuem hoje parte da culpa pelo ataque terrorista do Hamas, em 7 de outubro, a Netanyahu pessoalmente. Muitas pessoas disseram que acreditavam que permitir os pagamentos tornou o Hamas mais forte e, em última análise, piorou os ataques brutais.

No artigo de opinião publicado em 8 de outubro no Times of Israel, Tal Schneider afirmou que a abordagem do primeiro-ministro em tratar o grupo terrorista como um parceiro tem causado danos significativos a Israel, prejudicando a posição do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e retardando o progresso em relação ao Estado Palestino. Além disso, Schneider mencionou que esses danos levarão um longo tempo para serem reparados.

Fotos do conflito entre Israel e o Hamas

Acredita-se que o Hamas tenha escondido um grande número de combatentes e armas embaixo do solo.

O conflito entre Israel e Hamas começou em 7 de outubro quando o grupo extremista islâmic disparou uma chuva de foguetes lançados da Faixa de Gaza sobre o país judaico. A ofensiva contou ainda com avanços de tropas por terra e pelo mar

Gilad, o ex-oficial de defesa israelense, disse que estava entre os que argumentaram contra permitir que o dinheiro chegasse ao Hamas, dizendo que o fluxo de dinheiro permitido ao longo dos anos foi um “erro dramático e trágico”. Com os recursos, “eles poderiam cuidar da população. Eles poderiam cuidar do aprimoramento militar e aumentar suas capacidades”, disse Gilad na semana passada.

Após o ataque, mais israelenses passaram a criticar Netanyahu, culpando o primeiro-ministro por não ter conseguido impedir o ataque.

Qual foi a reação enfrentada pelo Catar?

O Catar tem ligações próximas com o Hamas e com países ocidentais, como os Estados Unidos. Recebeu críticas por permitir que o Hamas, apoiado pelo Irã, estabelecesse um escritório político em Doha desde 2012. No entanto, também foi útil para Israel, liderando a libertação de reféns mantidos pelo Hamas em Gaza em 7 de outubro.

Mas algumas autoridades israelenses apontaram o Catar como um dos responsáveis pelo ataque, dizendo que o país apoia o Hamas.

O ministro israelense Eli Cohen acusou o Catar de dar dinheiro e abrigo ao Hamas em outubro. Cohen disse que o Catar pode influenciar a libertação dos reféns mantidos pelos terroristas e pediu à comunidade internacional para exigir que o país faça isso.

O Catar negou as acusações de autoridades israelenses e afirmou que essas declarações podem prejudicar os esforços de mediação e até mesmo colocar vidas em risco.

Gilad também culpou o Catar, dizendo que o estado do Golfo “deu ao Hamas 1 bilhão de shekels por ano (US$ 30 milhões por mês) e eles usaram isso para melhorar e cimentar seu controle sobre Gaza. Para eles (Hamas), foi como um alívio. Era como oxigênio”, disse ele.

O Catar diz que esses fundos não eram para o Hamas, mas sim para ajudar a pagar os salários dos trabalhadores da região.

Um funcionário do Departamento de Estado dos EUA disse que sempre tiveram cuidado com a ligação do Catar com o Hamas e as críticas à doação de dinheiro para Gaza. No entanto, é evidente que o Catar tem uma forte relação com o grupo militante.

A nação do Golfo, que abriga uma importante base aérea dos EUA, também tem estado sob pressão no Congresso. Um grupo bipartidário de 113 legisladores americanos enviou uma carta ao presidente Joe Biden em 16 de outubro pedindo que pressionasse os países que apoiam o Hamas, incluindo o Catar.

O ministro do Catar, Al-Khulaifi, liderando a mediação do país na guerra Israel-Hamas, afirmou que eles vão continuar trabalhando com parceiros regionais e internacionais para garantir que os recursos sejam destinados aos mais necessitados e às infraestruturas essenciais e importantes.


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