Preço do café brasileiro diminui após 18 meses por conta da oferta e do impacto de Trump

A colheita elevada e a dúvida em relação às exportações elevaram a oferta de grãos no Brasil; especialista aponta para uma acomodação de preços.

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(Imagem de reprodução da internet).

Após 18 meses de alta, o preço do café caiu no Brasil pela primeira vez. A redução foi registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ao apurar a prévia da inflação de julho, divulgada na sexta-feira (25).

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Os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) indicam que o preço do café moído caiu 0,36%. A redução foi constatada na comparação entre preços coletados entre 14 de junho e 15 de julho com os verificados entre 16 de maio e 13 de junho. Um declínio dessa natureza não era observado pelo IBGE desde dezembro de 2023.

Segundo dados do instituto, o preço do café quase dobrou desde 2023. Entre janeiro e dezembro de 2024, houve um aumento de 39,6%; de janeiro a junho deste ano, mais 42,9% de elevação – totalizando 99,5%.

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O aumento se deveu à diminuição da produção de cafezais no Brasil e no mundo, devido às mudanças climáticas, e também ao crescimento das exportações brasileiras do grão, o que diminuiu sua oferta no mercado interno.

Em 2024, foram colhidas 54,2 milhões de sacas de 60 kg de café, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), representando uma redução de 1,6% em relação à produção de 2023. Foram exportadas 50,5 milhões de sacas, um aumento de 28,8% em comparação com o ano anterior.

Lucas Tadeu Ferreira, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Café, afirmou que esse cenário mudou em 2025. Ele declarou ao Brasil de Fato que as questões climáticas não afetaram a produção do ano. Já os anúncios do presidente dos EUA Donald Trump trouxeram instabilidade à exportação, o que elevou a oferta interna do grão. “A lógica do preço é sempre a mesma”, resumiu ele.

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Produção

A produção para 2025 deverá ser 2,7% superior à do ano anterior, conforme projeção da Conab divulgada em maio. A colheita deve concluir-se em setembro.

Ferreira destacou que, a partir de abril, há café sendo colhido no Brasil. À medida que os grãos saem da lavoura, a oferta cresce entre os negociantes e o preço diminui. Quando o café mais acessível chega à indústria, ela repassa parte disso ao consumidor. “À medida que a indústria começa processar o café comprado por um preço mais baixo, ele cai”, explicou Ferreira.

O especialista em café aponta que dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP) indicam a redução da produção de grãos de café no mercado agrícola nacional à medida que a safra progride. Ao final do ano, a saca de café tipo arábica atingiu um custo de aproximadamente R$ 3 mil. Atualmente, o preço está em torno de R$ 1.800.

Os preços internacionais do café agrícola têm diminuído desde fevereiro, confirmou José Giacomo Baccarin, professor de Economia e Política Agrícola da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e diretor do Instituto Fome Zero (IFZ). “Levaram-se um tempo para atingir o consumidor, nos supermercados, mas chegaram.”

Exportação

Baccarin acompanha há anos a dinâmica de preços de alimentos no Brasil. Para ele, o preço do café – e de outros também – tem subido além do normal nos últimos anos, devido ao aumento das exportações brasileiras.

O café é o terceiro produto mais exportado do Brasil para os Estados Unidos, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Em 2023, foram comercializados US$ 1,8 bilhão em café, representando um aumento de 67% em relação a 2023 e 110% em comparação com 2019.

Ferreira, da Embrapa, afirmou que Trump interrompeu essa dinâmica. Em abril, ele implementou tarifas sobre exportações de praticamente todos os parceiros comerciais dos EUA, incluindo o Brasil, que sofreu uma taxação de 10%. Na última data de 9, comunicou uma nova tarifa contra o Brasil, com 50%, e que deverá ser colocada em prática no dia 1º.

Para Ferreira, isso trouxe instabilidade à produção voltada à exportação. Pelo menos desde abril, exportadores de café têm pensado duas vezes antes de fechar negócios com os EUA. Isso também ajudou que mais grãos ficassem no país. “Isso [as tarifas] gerou uma incerteza muito grande entre exportadores.”

Futuro

Devido a toda a incerteza ligada ao mercado internacional, Ferreira declarou que é difícil prever se o café continuará caindo entre negociadores e nos supermercados. Ele afirmou que, em condições normais, a tendência é de estabilidade de preços em 2025, inclusive porque a safra será só ligeiramente maior do que a de 2024.

Baccarin, por sua vez, vê espaço para mais reduções. Segundo ele, a demanda por café caiu após o preço do produto dobrar. Isso pressiona o preço para baixo.

A produtora de café Maria Cecília Barbosa, 71 anos, planta cerca de 15 mil pés do grão no Assentamento Zumbi dos Palmares, em Iaras (SP). Desde 2010, ela beneficia o café e o vende com a marca Café da Cecília. Em 2024, contudo, as vendas não foram boas devido ao preço elevado do pó.

Acredita que a redução nos preços a auxiliará nas vendas durante o ano. “Não me preocupo com a tarifação porque não exporto. Talvez os grandes estejam…” , afirmou ela. “Para mim, se o preço baixar, mais pessoas tomarem café, é bom.”

Celírio Inácio, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), afirmou que a “tendência é de acomodação de preço após meses de aumentos expressivos”. Segundo ele, mesmo que a tarifação de 50% passe a valer no dia 1º de agosto, não haverá um impacto imediato nos preços do café no Brasil.

O consumidor americano é tradicionalmente leal ao café, e os importadores tendem a buscar maneiras de amenizar o impacto, evitando aumentos repentinos. Por isso, eventuais repercussões no mercado interno demorarão ou não se concretizarão.

Fonte por: Brasil de Fato

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