Prefeito é afastado no Ceará por suposta colaboração do CV na compra de votos

A reeleição do prefeito, segundo o Ministério Público estadual, serviria aos interesses de uma organização criminosa.

08/05/2025 20h33

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(Imagem de reprodução da internet).

O juiz eleitoral Magno Gomes de Oliveira cassou o mandato de  Braguinha (PSB), prefeito de Santa Quitéria, no Ceará, devido à suposta influência da facção criminosa Comando Vermelho nas eleiçõs do ano passado. A decisão, datada de 7 de setembro, também se refere ao vice-prefeito  Gardel Padeiro (PP).

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Investigações apontam que a organização praticava doações de drogas a eleitores em troca de votos, além de ameaças a adversários políticos e seus apoiadores em áreas controladas pelo CV. Há suspeitas de que o mesmo método tenha sido empregado nas eleições de 2020, quando Braguinha assumiu seu primeiro mandato na cidade.

Em dezembro passado, a Justiça Eleitoral do Ceará determinou a abertura de ação penal contra os mandatos e o afastamento dos cargos. Eles não haviam assumido a prefeitura no início do ano devido a uma ordem judicial e, desde janeiro, Joel Barroso, presidente da Câmara de Vereadores e filiado ao PSB, assumiu interinamente a gestão da cidade.

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A investigação iniciou-se com o Ministério Público estadual, que identificou abuso de poder político e econômico nas ações do prefeito eleito e seu vice durante a campanha de 2024. O caso contava com depoimentos de concorrentes do candidato petista, como Tomas Figueiredo (MDB), que ficou em segundo lugar na eleição.

O petista relatou, por exemplo, que enfrentou dificuldades na realização de seus eventos e visitas a eleitores, além de ameaças feitas por membros da facção aos seus auxiliares desde o início da campanha. Há também menção a restrições feitas por integrantes do CV com veto explícito a Tomás Figueiredo: “Quem apoiar o Tomás vai entrar em problema com o CV”, apontaram os promotores do MP Justiça.

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As ações teriam sido coordenadas por Paulinho Maluco, líder da organização na cidade. Ele também teria participado de atos de campanha realizados por Braguinha e determinado o envio de ameaças de expulsão e ataques incendiários a apoiadores do candidato emedebista por meio de mensagens no WhatsApp e ligações telefônicas, conforme conversas interceptadas pela Polícia Federal.

Reeleger o prefeito, argumentou o órgão, seria útil para os interesses do Comando Vermelho, uma vez que o petista é “aliado de pessoas envolvidas com a organização criminosa e até mantém algumas delas nos quadros da administração pública”, razão pela qual ocorre a movimentação do crime organizado para se expandir cada vez mais e deixar de ser apenas o poder paralelo.

A acusação do Ministério Público afirma que a organização criminosa buscou evidenciar sua oposição a Tomás, visando prejudicar sua candidatura, mas sem revelar o apoio ao candidato José Braga Barrozo [Braguinha], a fim de evitar suspeitas e não comprometer o candidato que pretendiam apoiar.

A Justiça Eleitoral teria sido alvo da ação da facção, segundo o documento. Em depoimento aos investigadores, um servidor do Cartório Eleitoral da cidade relatou ter recebido, em meados de setembro, um telefonema com ameaças de morte aos funcionários do local caso não cessassem as decisões contra os “manos” do CV.

Os elementos reunidos na apuração são graves, pois, por meio de abuso de poder político e econômico, buscou-se colocar a população em uma “espécie de cativeiro” para impedir que ela escolhesse livremente seus candidatos. Uma vez destituída uma população dessas liberdades, “ter-se-á o soterramento do Estado Democrático de Direito”.

Ninguém pode ser tão culpado por privar o eleitor da possibilidade de votar nos candidatos que considera adequados, com base em seus valores e nas propostas apresentadas durante as campanhas, e ainda mais, se essas campanhas foram ilegalmente impedidas, escreveu. Cabe recurso da decisão.

Fonte: Carta Capital

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