A designação do deputado federal Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência da República tem o potencial de reacender tensões no PSOL, que alcançaram seu ponto máximo no início de abril, mas diminuíram frente à mobilização em apoio a Glauber Braga (RJ), sob ameaça de destituição.
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Com mais de duas décadas atuando como opção de esquerda, o PSOL enfrenta um dilema entre preservar sua independência ou se alinhar formalmente ao governo Lula (PT). Nos últimos dias, houve especulações de que o presidente abordou Boulos para ocupar a vaga de Marcio Macedo na área responsável pelo diácom movimentos sociais. O encontro ocorreu no início de abril, no Palácio da Alvorada, e foi informado pelo deputado a outros parlamentares, conforme noticiado pelo Estadão e confirmado pela CartaCapital.
De acordo com relatos de pessoas próximas, Boulos afirmou que Lula teria indicado que a aceitação do convite implicaria na permanência no cargo até o término do governo, o que o impediria de concorrer à reeleição na Câmara ou a uma vaga no Senado em 2026, considerando que ministros candidatos devem deixar os cargos seis meses antes das eleições.
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Mais de metade dos ministros de Lula já sinalizou sua saída para disputar eleições. “O presidente não quer a Esplanada cheia de candidatos”, resume, sob reserva, um assessor. Esse é um dos principais obstáculos à reforma ministerial: Lula resiste a nomear nomes que sairiam meses depois.
A formalização do convite a Boulos ainda não ocorreu. No entanto, representantes de Lula afirmam que o deputado já manifestou interesse em aceitar as condições para fazer parte do governo. A decisão, contudo, só deverá ser tomada após o retorno do presidente do Brasil.
A confirmação da ida de Boulos à Esplanada dos Ministérios provocará novas tensões internas no PSOL. O grupo majoritário na legenda defende uma aproximação com o governo, mas convive com correntes que denunciam o que consideram “adesão”. A direção partidária, por sua vez, enxerga na iniciativa uma oportunidade de ampliar o diádo governo com os movimentos sociais, além de reconhecer a liderança política de Boulos.
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Essa compreensão, no entanto, encontra resistência por parte dos grupos minoritários, que defendem a abertura de um debate sobre a resolução publicada pelo Diretório Nacional, aprovada pouco antes da posse de Lula, caso o convite a Boulos seja formalizado.
O PSOL propõe uma articulação com Lula contra o bolsonarismo e em defesa dos direitos do povo brasileiro, admitindo sua inclusão na base do governo no Congresso, com autonomia para discordar em pontos específicos e sem preencher cargos no Executivo. A única exceção, conforme o texto, é a ministra Sonia Guajajara (Povos Indígenas), em razão de sua “representatividade”.
O PSOL estará presente nas batalhas do Congresso Nacional e nas mobilizações da sociedade brasileira, combatendo o extremismo de direita e assegurando o apoio ao governo democraticamente escolhido, embora o partido não ocupará posições de poder na nova administração, conforme declara o texto. Enquanto o Centro Democrático negocia indicações, o PSOL priorizará a discussão e a definição de propostas.
Além de Boulos, apoiam o alinhamento com o Planalto as deputadas Érika Hilton (SP), Tâmara Petrone (RJ) e Célia Xakriabá (MG). Para essa equipe, apesar das inconsistências do governo Lula, ele é a única alternativa viável para frear a extrema-direita.
A ala minotária, liderada por Glauber Braga, Fernanda Melchionna (RS) e Sâmia Bomfim (SP), entende que houve um “excesso” na relação com o governo petista e defende que o apoio não seja incondicional, permitindo espaço para críticas em algumas matérias.
A ala minoritária — liderada por Glauber Braga, Fernanda Melchionna (RS) e Sâmia Bomfim (SP) — critica a aproximação excessiva e defende uma relação mais autônoma, com liberdade para críticas e oposição pontual.
O conflito aumentou sua intensidade em fevereiro, após o economista David Deccache declarar que foi afastado da direção do partido na Câmara por questões políticas. Crítico da política econômica do governo, ele faz parte de uma corrente mais radical, que defende a independência partidária.
Após semanas de discussões e tensões nos bastidores, o clima interno amainou frente à mobilização contra a cassação de Glauber. O deputado pode perder o mandato por expulsar, à força, um militante do MBL que o ofendeu na Câmara. O parecer pela perda do mandato foi aprovado no Conselho de Ética e aguarda votação em plenário.
Boulos e a presidente nacional do PSOL, Paula Coradi, não se pronunciaram.
Fonte: Carta Capital