Quais são as alterações nos mamilos após o tratamento do câncer de mama?

Estudo aponta diminuição de aproximadamente 20% no volume mamário em um ano após cirurgia conservadora; outros fatores incluem tamanho dos seios, tabagismo, diabetes e quimioterapia.

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(Imagem de reprodução da internet).

O volume dos seios em mulheres com câncer submetidas à cirurgia conservadora combinada com radioterapia diminui cerca de 20% em um ano e persiste em declínio por cinco anos.

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A cirurgia conservadora para a remoção do tumor de mama constitui uma fase crucial no tratamento, principalmente nos estágios iniciais da doença. Até a década de 1980, o procedimento padrão era a mastectomia, que envolve a remoção completa da mama. Contudo, a partir desse período, diversos estudos comprovaram que a remoção de apenas uma parte da mama (cirurgia conservadora) apresentava taxas de cura comparáveis à da mastectomia, desde que associada à radioterapia.

Dessa forma, mesmo após a remoção parcial do tecido mamário, poderiam persistir pequenos focos do tumor, e a radioterapia tem a função específica de eliminar essas células remanescentes.

Nas últimas quatro décadas, a cirurgia conservadora evoluiu. Anteriormente, era frequente a remoção de um quadrante completo da mama, o que causava deformidades consideráveis. Contudo, os profissionais da área identificaram que a ressecção do tumor com uma margem mínima ao redor já assegurava a segurança oncológica.

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A mastologista Danielle Martin Matsumoto, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que atualmente não se realizam mais quadrantectomias, e sim ressecções segmentares. Também evoluímos muito nas técnicas cirúrgicas da mama, buscando defeitos estéticos mínimos, de modo que, ao final da cirurgia, as mamas ficam com aparência muito semelhantes.

O estudo afirma

Pesquisadores avaliaram as alterações no volume mamário em 113 pacientes submetidas à cirurgia conservadora combinada com radioterapia para tratar o câncer de mama em estágio inicial, entre 2005 e 2023. Os nódulos apresentavam dimensões inferiores a 2 cm. As medições foram realizadas através de mamografias realizadas antes e até cinco anos após a cirurgia.

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As mulheres apresentaram uma redução de 8,3% no volume mamário durante a cirurgia. Um ano após o procedimento, a diminuição média no volume mamário foi de 19,3%, elevando-se a cerca de 26,6% em cinco anos. Os autores indicaram que a atrofia e a fibrose da mama irradiada eram efeitos adversos conhecidos, porém não se determinava a extensão e a duração dessas condições.

Mulheres com mamas maiores e volumes tumorais menores (medindo menos de 10% do volume das mamas) apresentaram maior encolhimento total das mamas: 29,5%, em comparação com 21,7% para aquelas com seios menores. Fatores associados a maior perda de volume incluíram tabagismo, diabetes e receber quimioterapia além da radioterapia.

Efeitos esperados

Conforme a radio-oncologista Juliana Karassawa Helito, da mesma instituição, os resultados típicos após a radioterapia mamária incluem radiodermite (inflamação da pele que se apresenta como eritema), prurido ou dor local.

Essa manifestação é comum e ocorre durante o curso da radioterapia ou pode ocorrer algumas semanas após o término do tratamento. Além disso, algumas mulheres têm inchaço da mama e dor local. Mais tarde, ocorre a diminuição do volume mamário e ela se torna mais firme quando comparada à outra mama não irradiada, explica Helito.

A radio-oncologista acredita que compreender melhor esses efeitos é importante. “A exposição dessas taxas [de redução mamária] é interessante e muito útil para traçar o plano terapêutico dessas mulheres, já que os cirurgiões plásticos e mastologistas conseguiriam prever a melhor abordagem antes mesmo de iniciar a radioterapia”, afirma a especialista.

A disparidade na perda de tecido entre mulheres com mamas maiores e aquelas com mamas menores está relacionada, também, à forma como a radioterapia age em diferentes constituições mamárias. No caso das volumosas, geralmente há maior presença de tecido gorduroso e de vasos sanguíneos, o que pode influenciar os efeitos do tratamento.

A mama é composta por uma parte glandular e por um tecido de preenchimento formado por gordura, ligamentos, tecidos de suporte, nervos e vasos sanguíneos. Os efeitos da radiação tendem a ser diferentes nesse tecido glandular e naquele tecido de suporte, conforme explica Matsumoto.

Cirurgia corretiva

Com o tempo, outros fatores além da radioterapia também contribuem para a assimetria mamária. O envelhecimento natural e o ganho de peso, por exemplo, causam alterações no corpo da mulher que podem intensificar essa diferença entre as mamas.

“Tivemos sempre essa preocupação. O caimento da mama irradiada tende a ser diferente, geralmente ficando mais firme e caindo menos do que a mama saudável”, explica Matsumoto. “Se, ao longo dos anos, essa assimetria se tornar muito evidente, é possível realizar uma cirurgia corretiva, reduzindo a mama contralateral para alcançar um melhor equilíbrio estético.”

A especialista ressalta que, caso a paciente apresente alguma assimetria mamária antes do tratamento, mesmo que sutil, é importante avaliar a realização da cirurgia de simetria no mesmo momento da cirurgia oncológica, o que pode otimizar os resultados estéticos e diminuir a probabilidade de intervenções adicionais.

Se a mama que não está doente for um pouco maior, essa assimetria pode se acentuar após a radioterapia. Na prática, conversamos com a paciente e, muitas vezes, realizamos a redução da outra mama durante a cirurgia conservadora, deixando a mama que será irradiada um pouco maior do que o ideal, pois sabemos que ela irá diminuir.

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Fonte: CNN Brasil

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